17.11.07

Deificação das pessoas

Um dos versículos mais famosos dentre os sermões que Jesus pregou talvez seja “Não julgueis, para que não sejais julgados” (Mateus 7:1). E a aplicação mais usada no meio evangélico para esse versículo é uma certa imunidade em relação às atitudes. Por exemplo, há anos o meio evangélico brasileiro tem usado rosas, lenços, punhados de sal, óleos “ungidos”, sabonetes e toda espécie de bugiganga “espiritual” para atrair as bênçãos de Deus.

Só para vermos a bobagem que é isso, a palavra rosa aparece apenas duas vezes em toda a Bíblia. A primeira citação é em Cantares 2:1, onde a esposa diz ser a rosa de Sarom para seu esposo. Essa é uma clara comparação da Igreja, que deve ser linda e perfumada para Jesus, seu noivo.

A segunda citação é em Isaías 35:1 e mostra que a ação do Espírito de Deus vai restaurar as forças dos que confiam em Deus. Ora, nesse sentido a boa interpretação dos textos mostra que a ação de Deus é para preparar a Sua noiva para o grande encontro das bodas do Cordeiro. Nada a ver com mandingas para atrair bênçãos temporais de Deus de cura, de libertação e de prosperidade.

Quando os praticantes dessas atitudes são confrontados, utilizam o texto de Mateus contra o julgamento entre as pessoas e associam, a este versículo, outro ainda mais enfático: “...Não toqueis nos meus ungidos, nem maltrateis os meus profetas.” (Salmo 105:15).

Diante dessa afirmação (e fora de contexto), quando o pastor fala em voz mais alta, com a testa franzida, gesticulando com os braços e gritando glória a Deus, é natural que as pessoas tenham medo do dito cujo, ou pelos, receio de questionar se o tal pastor está realmente certo. Ainda mais se esse pregador tiver um canal de televisão, ou vários programas televisivos, escreve livros, grava CDs, participa de inúmeros congressos e tem milhares de seguidores, ele só pode estar certo!

Hoje enfrentamos uma deificação dos líderes evangélicos no Brasil. Os pastores e os ministros de louvor são entronizados cegamente pelas pessoas sem que haja nenhum tipo de avaliação do que é pregado e do que é feito. A prática, diga-se, salutar e bíblica, de avaliar o conteúdo não é mais ensinada nas igrejas e, pelo que percebo, tem sido negada.

Pastores internacionais (e os tupiniquins também!) quando profetizam suas curas e milagres jamais podem ser questionados em suas atitudes. Quando os milagres por eles reivindicados não acontecem, refletem a falta de fé da pessoa. Como um homem desses vai se explicar para uma mãe que não teve o milagre da cura de seu filho e ele acabou morrendo? Como um homem desses, que mandou essa mãe para de dar os remédios, vai se explicar diante das autoridades?

Infelizmente os grandes líderes evangélicos brasileiros estão envoltos por uma aura de santidade e de correção que, se alguém ousa questioná-los, logo vai ser acusado de rebelde, de atacar um ungido de Deus e de estar fazendo um julgamento. Tente pedir uma explicação para uma pessoa que segue esses líderes da razão de se usar uma “rosa consagrada” para alcançar a bênção de Deus. Eu já fiz. E a resposta que eu recebi foi “mas foi o fulano de tal que mandou e ele é de Deus”.

Ouse questionar os reais motivos de um líder evangélico estar preso e até sua conversão vai ser posta em xeque. Ouse questionar por que uma pessoa engatinha diante de Deus numa apresentação e você terá questionado os seus sentimentos em louvar a Deus. Ouse questionar se algum ensinamento é realmente bíblico. Verifique se a doutrina ensinada nos diversos programas de televisão é realmente bíblica.

No primeiro versículo de Mateus 7, Jesus nos proíbe de fazermos julgamentos e sentenciarmos as pessoas. Mas no final desse capítulo Ele nos adverte para avaliarmos onde estamos construindo nossa casa, ou na rocha ou na areia. Em 1 João 4:1 somos advertidos que nem todos os espíritos procedem de Deus. Em 1 Tessalonicenses 5:21 somos instados a verificar tudo e reter apenas o que é bom. Em Efésios 4:14 somos advertidos a não sermos conduzidos pelas astúcias dos homens.

Quem foi que disse que os pastores não erram? Quem foi que disse que tudo que o líder de louvor faz é correto? Quem foi que disse que toda revelação vem da parte de Deus? Quem foi que disse que a esposa do pastor deve ser a pastora da igreja local? Quem foi que disse que as músicas que louvam a Deus são todas parecidas, na métrica e nas letras? Quem foi que disse que estamos em avivamento no Brasil? Quem foi que disse que o louvor das igrejas deve ser igual aos grupos que mais vendem no Brasil? Ou na Austrália? Quem foi que disse que as pregações devem ser parecidas com a dos pastores da televisão? Quem foi que disse que eu devo contribuir para os programas de rádio e de televisão não acabarem? Quem foi que disse que Deus está interessado na minha prosperidade financeira? Quem foi que disse que o Brasil é do Senhor Jesus? Quem foi que disse que o Paquistão não é do Senhor Jesus?

Será mesmo que foi Deus quem revelou tudo isso?

Marcos David Muhlpointner, articulista dos sites Provoice e Bíblia World Net.

5 comentários:

Alysson Amorim disse...

A ausência de questionamentos é apenas mais uma prova, a prova cabal talvez, de que a lógica da Igreja Evangélica é a lógica do Rebanho, diametralmente oposta ao convite a individuação proposto no Evangelho.

Unknown disse...

Graça e Paz

Essas defesas são utilizadas muitas e muitas vezes. Em qualquer lugar que você ousar questionar, alguém lhe dirá as mesmas coisas. É como uma lavagem cerebral. Ninguém entende o sentido de "não toqueis nos meus ungidos", aplicando-o a qualquer membro do ministério (alto clero), como se os demais membros não o fossem (crentes "normais").

Mas ouso questionar...

Ungidos que enriquecem a custa dos dízimos e ofertas?
Ungidos que fazem assédio moral sobre os membros da igreja?
Ungidos que tem uma vida oculta?
Ungidos cujos ministérios passam de pai para filho, numa espécie de dinastia?

Sinceramente, se for para ser um ungido assim, melhor se um dos principais pecadores, conforme Paulo mesmo se denominou.

Soli Deo Glória

Anônimo disse...

nossa, verdade! o pior é: ninguem pode julgar! td bem, está certo, o julgamento é um inferno mesmo. mas acontece q nesses igrejas os caras erram e nao assumem, se eles errassem e assumissem... mas o maior problema q vejo mesmo é q hj qq um monta uma igreja, as igrejas, digamos, mais "suspeitas", sairam de outras, e isso é estranho. ai, o cara que é o "dono" da igreja coloca sua marca pessoal em td, isso q é o fim da picada. olha isso, o bispo edir falou q vai ganhar dinheiro com o livro dele pra pagar sei lá o q, e esse livro esta sendo vendido na igreja, ou seja, comercio na casa de Deus. mas pra td eles tem uma explicacao. depois, ficam chocados com as imagens catolicas, com toda essa aberracao, eu nao sei quem eh mais idolatra.

Anônimo disse...

Como é bom ter acesso a outras pessoas que pensam como nós...

Já sofri uma série de ataques (no sentido psicológico da palavra) na igreja que frequento há 2 anos atrás.

Motivo?
Mandei uma mensagem direta e secretamento apenas para o pastor... "Pastor, vc não é Deus"

Resultado?
Além de me denunciar a todo o ministério (outros pastores, presbitéros e liderança) ainda fez eu perder meu namoro (com constante ameaças a minha ex, ou ela escolhia ficar comigo ou perdia todos os ministérios), perdi meus amigos, mas jamais abalou minha fé.

Continuo frequentando lá...

Por quê?
Sou uma pedra no sapato deles, jamais poderão penetrar dentro de mim... mesmo que possam corromper meu 'eu' exterior... o interior sempre clamará: 'nada poderá me separar de Cristo Jesus'

Unknown disse...

Interessante a matéria, mas, também quero fazer colocações;

Falar em mandingas tamvez seja um pouco forte desde que estamos falando do povo de Deus, seja ele moderado, histórico, pentecostal,etc.
Quando tratamos de questões de confronto, eu penso que devemos sim, colocar os fatos diante de Deus, ou melhor até mesmo denunciar aquilo que consideramos exageros, herésias por que eu creio que julgamento é somente para Deus. Usar um site destes dito Cristão somente para o ataque ao invés de registrarmos também os pontos positivos das ações que vemos independente daquilo que consideramos normal ou não?!
Quero também colocar uma questão;
Quem disse que a liberdade de louvor é uma coisa absurda? (Quanto ao fato de "engatinhar"). Davi dançou diante da arca e Mical ousou recriminá-lo. Por que você não pode dançar, gatinhar, levantar as mãos, chorar ou qualquer outra manifestação de adoração expontânea diante de Deus?
Será por que somos racionais e críticos e isso afeta nossa moral e costumes?
O comentarista diz que devo ousar em questionar.
Quem foi que disse que pastores não erram? Também não sei, mas se erram e não se arrependem, o Senhor Todo poderoso diz em Mc 9.42 - E Jesus continuou: E quanto a estes pequeninos que crêem em mim, se alguém for culpado de um deles me abandonoar, seria melhor para essa pessoar ser jogada no mar, com uma grande pedra amarrada no pescoço.
O povo cristão evangélico hoje é extremamente crítico, nós defendemos somente a visão que temos em detrimento à visão do outro (irmão). Creio que devemos refletir em como temos agido em relação às outras formas de Culto, Adoração, Comunhão, ou então vamos acabar nos tornando como a igreja Católica Apostólica Romana dos séculos da inquisição.
Quero dizer que Deus está interessado sim, no bem estar de todos nós, mas, Ele acaba por ser impedido muitas vezes de abençar seu povo, porque seu próprio povo o rejeita quando não ama seu semelhante nem o suporta em amor como é mandamento, não opção.
Eu penso que devemos ser mais complacentes com o pecador e odiar o pecado.

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