5.11.07

Dois pesos, duas medidas

Sim, vivemos um novo momento da web, alguns até afirmam que há uma nova bolha se enchendo Acabei de mudar e como estava sem internet em casa resolvi me atualizar comprando a edição dominical de um dos mais populares jornais do País. Domingo foi a última vez que comprei jornal.

Ok, você pode achar um contra-senso eu escrever isso em uma coluna publicada em um jornal, mas fala sério:por que as pessoas reclamam de pop-up na web e nojornal vale tudo em termos de campanha publicitária? Páginas e mais páginas inteiras de anúncios de celular, carros em 60 meses e lançamentos imobiliários. Além, claro, dos megacadernos de classificados. Ah sim, entre um anúncio e outro, um pouco de conteúdo.

Deveriam fazer um projeto cidade limpa no jornal. Na web eu ainda consigo fechar o pop-up e ignorar seu conteúdo, mas no jornal é difícil.Tive a mesma sensação lendo uma tradicional revista semanal: será que ainda são eficazes campanhas compáginas duplas seqüenciais? Tenho sérias dúvidas, pois fiz um esforço de memória e não consigo lembrar de nenhum dos anunciantes pelos quais passei. Mas com certeza, tanto os encartes de jornal quanto as páginas seqüenciais geram uma boa remuneração para as agências.

Outro dia cheguei para uma reunião em uma grande editora e havia um cartaz enorme, com uns 5 metros: "Parabéns para a equipe comercial da revista por ter batido o recorde de vendas: 80 páginas de anúncios". Isso porque a edição tem umas 100 páginas no máximo! E ainda tem gente que acha que home page de portal tem muito banner.

Spam via e-mail é chato? Sim, muito. E folheto de pizza delivery debaixo da porta do apartamento ou encartado? E aquelas meninas que fazem fila na janela do seu carro para entregar folheto do últimolançamento imobiliário? É spam! (ok, uma coisa é verdade: pelo menos ali eu tenho a opção de fazer um "opt-out" e ficar de janela fechada.)

Ainda, graças à mudança de casa, encontrei uma lista telefônica... taí outra coisa que não faz mais parte de minha vida: se eu quero o endereço de uma empresa eu procuro no Google. Tá certo, é verdade que uso bastante o Guia Mais em sua versão online, mas para procurar endereços e traçar rotas. Mas agora com a chegada do Google Mapas, será que continuarei fiel?

A TV digital chega em pouco mais de 30 dias e espero que seja um novo alento para as campanhas interativas. Akio Morita, fundador da Sony, tem uma frase célebre (pelo menos pra mim): "A vantagem da TV sobre o computador é o efeito 45 graus". Você assiste à televisão sentado confortavelmente em um sofá, enquanto que ao computador é preciso uma postura mais rígida, mesmo que esteja com um notebook no colo à cama.

Não acredito que as pessoas irão parar uma partida de futebol ou novela para comprar a camisa do jogador ou ator principal, mas com certeza haverá uma mudança de hábitos - de consumidores e, por conseqüência, de anunciantes.

Quem serão os anunciantes (e agências) beneficiados? Aqueles que já têm uma experiência com a web "convencional", via computador. O Toninho Rosa,primeiro presidente da Associação de Mídia Interativa (hoje IAB Brasil) e atualmente diretor da Rede TV, sempre dizia que "os anunciantes terão que aprender a clicar".

Pois é uma enorme verdade: quem ainda não entende e desconhece o potencial de uma campanha online terá grande dificuldade em aproveitar os novos recursos disponíveis na televisão do futuro (futuro esse que está logo ali, virando a esquina). Se até mesmo para profissionais com mais experiência em mídia online acompanhar o ritmo alucinante de mudanças é difícil, imagine para aqueles que ainda olham ainternet com desconfiança.

Você já pensou, por exemplo, que o site mais visitado por país (Orkut) não tem conteúdo próprio? Ou sabia que o blog The Huffington Post levantou cinco milhões de dólares em investimento e já é avaliado em sessenta milhões?

Sim, vivemos um novo momento da web, alguns até afirmam que há uma nova bolha se enchendo. Bobagem, pois hoje estamos muito mais racionais, cientes do potencial do meio e da importância de um modelo comercial viável.

Enfim, você vai dizer que eu não sou parâmetro, que o Brasil é outra coisa. É verdade, tem milhões depessoas (e empresas) que continuam e continuarão comprando jornal aos domingos, usando lista telefônica, comemorando uma revista que tem mais anúncio do que conteúdo editorial e abrindo a janela para receber folheto de propaganda. Mas não eu e nem boa parte dos 33 milhões de brasileiros que acessam a internet.

Marcelo Sant'Iago, no Propaganda & Marketing.

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