10.11.07

Estou bem

Não, não sou feliz! Há muito abandonei a felicidade num caminho deserto. Para mim, felicidade não passa de uma bruxa malvada que promete colorir o mundo de dourado, mas sua recompensa acaba em pântanos cinzentos. Quem deseja ser feliz termina perdido nos delírios de suas loucas fantasias.

Não, não sou feliz! Não persigo esta promessa como uma verdade, não acalento este conceito como uma possibilidade, não sonho com esta experiência como uma dádiva.

Mas, estou bem, muito bem. Tornei-me um escafandrista que vasculha as cavernas abissais de sua própria alma, um arqueólogo que varre o fino pó de suas memórias, um espiritualista que exorciza os demônios de sua história. E isso me acalma a coração.

Sim, estou bem, muito bem. Aspiro por mundos inexistentes, acalento desejos calmos, reconstruo as minhas ruínas, revolto-me com narcisismos doentios, celebro toda sensibilidade solidária de mão estendida.

Realmente, estou bem, muito bem. Percebo Deus nos vazios, compartilho de sua saudade eterna, folgo com a sua misericórdia gratuita. Como é bom relaxar com o ranger da rede paterna que me embala o sono.

Não, não sou feliz, mas não dá para imaginar como estou bem, muito bem.

Soli Deo Gloria.

Ricardo Gondim

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