A Polícia Civil do Distrito Federal descobriu um suposto esquema de tráfico de influência que estava sendo montado para liberar verbas públicas destinadas a financiar projetos apresentados por prefeituras e ONGs. O dinheiro viria de emendas parlamentares e de verbas dos ministérios.
Como existe a suspeita da participação de deputados e prefeitos, a Polícia Federal foi acionada e assumiu o caso. Segundo relatório ao qual a Folha teve acesso, a pivô das negociatas é Lúcia Maria Fiquene de Almeida, que trabalhou como secretária parlamentar na Câmara entre 1995 e 2005.
Conforme o objetivo, ela atua com diferentes parceiros de negócios, alguns deles também identificados pela investigação policial, como Rivane Melo, acionada para "consultoria" destinada à liberação de verbas, e Rômulo Saliba, contatado para assuntos relacionados a ONGs.
Não está claro para a polícia a vantagem que Lúcia, segundo a investigação, queria levar. Em um dos casos investigados, de liberação de verbas do Ministério da Cultura, ela é acusada de pedir 2% de comissão sobre o total liberado.
Em entrevista à Folha, o deputado João Campos (PSDB-GO), citado em diálogos monitorados, confirmou que já contratou os serviços de Rivane para acompanhar a liberação das verbas em suas emendas.
Nega ter feito qualquer pagamento a ela, o que caberia ao destinatário da emenda, como disse o próprio parlamentar."Se você tem alguém com informação, conhecimento técnico, preparo, eu acho absolutamente normal [esse tipo de assessoramento]", afirmou. Campos não descarta a possibilidade de conhecer Lúcia ou Saliba. Mas diz não associar as pessoas aos nomes.
Diálogos
Em julho deste ano, conforme diálogo gravado pela Polícia Civil com autorização judicial, Lúcia foi chamada por um outro funcionário da Câmara. Trata-se de Sandro de Albuquerque, lotado no gabinete do mesmo João Campos.Por volta das 10h do dia 11 de julho, em ligação de quase dez minutos, Albuquerque informa estar no Plenário 2 da Câmara, com os deputados Robson Rodovalho (DEM-DF) e João Campos. "Eles estão aguardando, só aguardando a chegada de vocês", numa referência, além de Lúcia, a Rivane.
Albuquerque diz que Rivane "recebeu do pessoal para fazer o evento, recebeu tudo certinho, inclusive emitiram recibo, nota em nome da entidade"."O que estamos condenando é a atitude dela como lobista", afirma o assessor. Por fim, declara que "eles não querem mais nada, que não houve cumprimento". "Isso é coisa perigosa, vai ser ruim para ela."
Entre risos, Lúcia responde: "Isso vai ser ruim é para os deputados". Albuquerque afirma que "eles [os deputados] são a lei". E conclui: "Vai ser ruim para ela, pode ter certeza. O pessoal tá que tá. Eles estão pronto pro que der e vier".
No entendimento da polícia do DF, "Lúcia, Sandro e Rivane estiveram envolvidos em uma transação obscura envolvendo grandes somas em dinheiro para os seguintes parlamentares: dep. João Campos, Bispo Rodovalho e Marcelo Aguiar".
Rodovalho diz conhecer Rivane, que seria, como ele, da igreja evangélica Sara Nossa Terra. Nega ter participado de qualquer negociação intermediada por Albuquerque, bem como ter recebido de Rivane proposta de acompanhamento de liberação de emendas.
fonte: Folha de S.Paulo
23.11.07
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