14.12.07

Altar dos loucos

Francis Schaeffer morreu em 1984, mas, se não fosse por ele, George W. Bush não estaria na Casa Branca, não haveria guerra no Iraque e o mundo provavelmente estaria melhor.

Eu duvido que você saiba quem é Francis Schaeffer. Noventa e nove por cento dos americanos não sabem e até a semana passada eu estava dentro desta estatística. Aprendi com o livro Crazy for God (Louco por Deus).

Francis Schaeffer veio da classe média baixa na Pensilvânia. A mulher Edith, filha de missionários na China, veio de família bem-educada, mas foi ele quem se tornou, de 1960 a 1980, o mais influente líder religioso americano.

Na década de 50, interessados em religião, filosofia e arte, Francis e Edith criaram uma missão evangélica na Suíça, uma espécie de comuna religiosa chamada L'Abri.

Deus, Satã, Darwin, Heidegger, o existencialismo de Sartre estavam nos sermões e nos debates.
Americanos e europeus se reuniam em torno da família Schaeffer – agora com um filho e três filhas.

A mesa era fina, com toalhas brancas e talheres de prata. Comia-se bem, mas os prazeres telúricos terminavam ali. Música, só clássica e aos domingos. Dança, jogos de cartas e álcool, jamais.

A educação era feita em casa e o comportamento rígido vinha de Calvino.

Na decada de 70, quando a direita cristã ainda não existia, o filho Frank convenceu o pai a fazer uma série de filmes e um livro. O titulo de ambos era How Should We Then Live? (Como nós devemos então viver? )

Líderes evangélicos se entusiasmaram com as idéias de Francis Schaeffer, e em poucos anos ele era a principal fonte de idéias dos evangélicos. Bily Graham e outros faziam romarias ao L'Abri para ouvir o mestre que conseguia atrair até jovens.

Pai e filho Schaffer fizeram um outro filme Whatever Happened to the Human Race (O que aconteceu com a raça humana), e Francis publicou o A Christian Manifesto (Um manifesto cristão). Em pouco tempo, se tornaram o cavalo de batalha contra o aborto.

Na década de 80, a direita evangélica já estava a todo vapor liderada por Pat Robertson, James Dobson, Jerry Falwell, Tim LaHaye.

A convite deles, o velho Schaeffer veio fazer sermões no circuito evangélico. Ficou abismado com a ganância, a hipocrisia, a vaidade, a corrupção e a sede de poder dos lideres que suas idéias tinham gerado.

Shaeffer era um homem tolerante em questões sociais e sexuais e nunca condenou o homossexualismo. Gays, mães solteiras e muitos hippies encontravam abrigo seguro no L'Abri.
Viveu grande parte da vida na Suíça e tirava férias na Italia, mas era um otimista com relação aos Estados Unidos.

O maior choque dele foi com a distorção das suas idéias para efeito político e enriquecimento dos evangélicos. Eles fabricaram um cenário americano apocalíptico envenenado pelos gays, feministas, mães solteiras e liberais.

Quanto mais decadente a sociedade, quanto maior o demônio, melhor para os evangélicos. Eles eram o caminho da salvação, mas precisavam de dólares para seus jatos particulares e para eleger seus políticos.

Schaeffer comentou sua grande decepção com os amigos, mas morreu de câncer antes de torná-las públicas.

Quem devassa essa direita cristã é o filho dele, Frank, que, com o pai, inconscientemente gerou os monstros que ele agora denuncia no seu livro Crazy for God : How I Grew Up as One of the Elect, Helped Found the Religious Right and Lived to Take All (or Almost All ) of It Back (Louco por Deus: Como eu cresci como um dos eleitos, ajudei a fundar a direita religiosa e vivi para retirar tudo (ou quase tudo) que disse).

Os evangélicos acham que Frank é um novo Judas e neste momento não estão loucos por Deus. Estão loucos de raiva.

Lucas Mendes, no site da BBC.
,
colaboração: Volney Faustini

4 comentários:

Adriano Estevam disse...

Bom... culpar Schaeffer pelas mazelas descritas, é como atribuir culposamente à Bíblia a maternidade por toda heresia que aparece... nem tanto mestre... nem tanto...

rev. Digão disse...

Se os evangélicos de hoje não conhecem Schaeffer, Lucas Mendes também não. Por que não disse nada sobre "O Deus que intervém", "A morte da razão", "O Deus que Se revela", "Morte na cidade", "Poluição e a morte do homem"? Jornalismo preguiçoso e mal-feito, engolido pela maioria do povo como verdade incontestável.

Anônimo disse...

Em que pese o fato que Schaeffer não precisa se defender (nem pai e, menos ainda, seu filho), penso que reações de Frank ao segmento dito "direita evangélica" é legítimo na medida em que denuncia males ideológicos e práticos. Se o título da matéria proposta no blog é de fato séria, penso que Santos Dumont também deve ser o culpado pelo atual caos aéreo no Brasil, por exemplo, afinal, quem mandou ele pensar em inventar o avião, não é mesmo?
Claro que nenhum autor está acima do bem e do mal. Críticas podem e devem ser feitas. Todavia, não vi idéias de Schaeffer serem criticadas de maneira consistente.
Partir em defesa do criticado ou atacar o crítico são lados diferentes da mesma moeda.
Não houve debate de idéias ou, mais lamentavelmente ainda, nem sequer denúncia fundamentada.
Palavras ocas também não voltam vazias e não valem o barulho que em vão fazem.

Anônimo disse...

o texto de lucas está excelente. tenho a maior admiracao por ele como jornalista. e ele fala que pegaram as ideias de schaeffer e mudaram, o que deve ser verdade. nao tenho muito conhecimento de sua obra para afirmar isso. mas vejo que hj tem muita heresia e loucura nas igrejas.

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