Meu natal tem cor de nostalgia, cheiro de saudade e gosto de lágrima. Ele chega carregado de ausências. Nos dias que antecedem o vinte e cinco de dezembro, percebo a sombra da melancolia cobrindo tudo. As muitas luzes não me iludem; a avalanche de reclames comerciais torna toda festa vulgar. O natal engasga minha alma com um choro que nunca chega.
Meu natal pertence à infância perdida; lembro do menino ansioso que fui, da frustração dos presentes que nunca chegaram e da expectativa renovada de que o próximo ano será diferente. O Deus do natal é menino. Preciso cobrar deste coração adulto: quem não se fizer como uma criança não herdará o seu Reino.
Meu natal sempre vem com jeito de despedida. Como ele acontece a uma semana do final do ano, devo olhar para o passado e observar o rastro do que foi a minha vida. Sinto falta de quem já partiu e despeço-me de cada um, mais uma vez. No natal, lamento os lugares vazios na mesa e contemplo os sorrisos nas fotografias de quem já não existe. Tenho medo; em outros natais menos gente virá para a ceia. E isso dói.
Meu natal é carente de Deus. O Menino-Deus já não está por aqui. Faz tempo que ele se foi. É verdade que deixou seu Espírito, mas eu careço de sua presença concreta. Nada e ninguém o substituem à altura. Ah, como eu desejo tocar em suas vestes e acompanhar o movimento afetuoso de seus lábios. No natal meu espírito clama, Maranata!
Soli Deo Gloria.
Ricardo Gondim
24.12.07
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