2.12.07

Estagnados no dia seguinte


O que você só vai entender tarde demais é que Jesus não disse que não vivessemos ansiosos com o futuro porque deveríamos crer que tudo acabaria dando certo no sentido de paz e prosperidade (não deu para ele e para nenhum dos seus seguidores), mas porque enquanto vivemos obcecados pelo futuro não nos forçamos a viver o único momento singular e portanto santo, o presente. Seu “o amanhã cuidará de si mesmo” corresponde ao seu “deixe que os mortos enterrem os seus mortos”.

Hoje dizemos que não se preocupar com o futuro é postura infantil e uma irresponsabilidade, porém o rabi de Nazaré queria o oposto. Viver em função do futuro, explica ele, é idiotizante e infantilizante, e nossa única chance de pisarmos o chão da realidade é nos desprogramarmos desse eloqüente mundo de ilusão.

A sociedade de consumo glorificou a obsessão pelo futuro, transformando-a num modo de vida e num incessante estado mental. Somos idiotas por pré-progamação. Não desfrutamos daquilo que temos, porque nossos olhos estão continuamente postos naquilo que se tudo der certo iremos um dia consumir. Não encaramos de frente o mal de cada dia, porque estamos sempre trabalhando para contornar a obsolescência que virá. Não desfrutamos da segurança presente, porque estamos perpetuamente preocupados com a segurança que devemos adquirir para o amanhã.

Em conseqüência somos obsoletos por padrão, imprestáveis do momento em que saímos da fábrica. Esta geração nada fez e a geração seguinte nada fará, porque nunca estamos aqui. Vivemos estagnados no dia seguinte. Nascemos mortos.
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Paulo Brabo, no blog A Bacia das Almas.

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