12.12.07

Jejuo também por democracia real

ACUSAM-ME de inimigo da democracia por estar em jejum e oração combatendo um projeto do governo federal autoritário, falacioso e retrógrado, que é o da transposição de águas do rio São Francisco.

Meu gesto não é imposição voluntarista de um indivíduo. Fosse isso, não teria os apoios numerosos, diversificados e crescentes que tem tido de representantes de amplos setores da sociedade, inclusive do próprio PT.

Vivêssemos uma democracia republicana, real e substantiva, não teria que fazer o que estou fazendo.

Um dos mais graves males da "democracia" no Brasil é achar que o mandato dado pelas urnas confere um poder ilimitado, aval para um total descompromisso com o discurso de campanha, senha para o vale-tudo, para mais poder e muito mais riquezas.

Tráficos de influências, desvios do erário, porcentagens em obras públicas e mensalões são práticas tradicionais na política brasileira, infelizmente, pelo visto, ainda longe de acabar. A sociedade está enojada e precisa se levantar.

Há políticos -e, infelizmente, não são poucos- que, por onde passaram na vida pública, deixaram um rastro de desmandos, corrupção, enriquecimento ilícito etc. Como ainda funcionam o clientelismo eleitoral, a mitificação de personagens, as falsas promessas de campanha, o "toma-lá-dá-cá" e mais deseducação que educação política do povo, esses políticos conseguem se reeleger e galgar posições de alto poder em governos, quaisquer que sejam as siglas e as alianças.

Na campanha do candidato Lula, o tema crucial da transposição era evitado o máximo possível. Mas as campanhas eleitorais, à base do marketing e das verbas de "caixa dois" das empresas, são tidas e havidas como grandes manifestações do vigor de nossa democracia, que, com urnas eletrônicas, dá exemplo até aos EUA...

O projeto de transposição não é democrático, porque não democratiza o acesso à água para as pessoas que passam sede na região semi-árida, distante ou perto do rio São Francisco.

O governo mente quando diz que vai levar água para 12 milhões de sedentos. É um projeto que pretende usar dinheiro público para favorecer empreiteiras, privatizar e concentrar nas mãos dos poucos de sempre as águas do Nordeste, dos grandes açudes, somadas às do rio São Francisco.

A transposição não tem nada a ver com a seca. Tanto que os canais do eixo norte, por onde correriam 71% dos volumes transpostos, passariam longe dos sertões menos chuvosos e das áreas de mais elevado risco hídrico. E 87% dessas águas seriam para atividades econômicas altamente consumidoras de água, como a fruticultura irrigada, a criação de camarão e a siderurgia, voltadas para a exportação e com seríssimos impactos ambientais e sociais.

Esses números são dos EIAs-Rima (Estudos de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto sobre o Meio Ambiente), públicos por lei, já que, na internet, o governo só colocou peças publicitárias.

O projeto de transposição é ilegal e vem sendo conduzido de forma arbitrária e autoritária: os estudos de impacto são incompletos, o processo de licenciamento ambiental foi viciado, áreas indígenas são afetadas e o Congresso Nacional não foi consultado como prevê a Constituição.

trecho de artigo de Dom Frei Luiz Cappio publicado na Folha de S.Paulo. Ele é bispo diocesano da cidade de Barra (BA) e autor do livro "Rio São Francisco, uma Caminhada entre Vida e Morte".

3 comentários:

Anônimo disse...

Não entro no mérito da transposição em sí, mas a Igreja católica sempre foi e contunua sendo, uma forte aliada da elite pôdre de governantes que sempre dominaram o Brasil, desde os tempos da colônia.

Anônimo disse...

Dom Cappio tem razão. O "projeto" de transposição do São Francisco não passa de um projeto de engenharia, cuja decisão para investir já foi tomada antes da elaboração do mesmo, e está sendo tocado de maneira atabalhoada e atropelada, de forma a criar um fato consumado e assim garantir benesses para grandes empresários do agrinegócio e de empreiteiras, à custa do erário público.
Seus objetivos poderiam facilmente ser alcançados mediante a revitalização das bacias afetadas, com melhoria na gestão dos atuais sistemas hídricos e com a recuperação das áreas devastadas pelo desmatamento, inclusive cabeceiras de cursos dágua e matas ciliares. No Brasil não se realiza mais análise econômica e social de projetos, as decisões para investir são tomadas aso arbítrio de téccnicas de análise de projetos e ao sabor dos interesses dos grupos poderosos que financiaram as campanhas dos políticos.

Unknown disse...

Creio que o projeto de revitalização do rio São Francisco merece ser posto em prática, senão vai haver mais manifestações contra e pode abalar o governo popular que está no poder, porém pecisa ecutar as vozes que veêm das ruas. Graças a Deus que existe movimento e reflexão sobre os acontecimentos que podem abalr a estrutura de uma democracia fixa, para um democracia de debate e discurssão.
Paz e bem

Blog Widget by LinkWithin