30.12.07

O pastor e a mãe-de-santo

Um pastor e uma mãe-de-santo na mesma novela. A combinação poderia ser explosiva, mas, em´Duas caras´, os personagens vividos com maestria por Ricardo Blat (pastor Lisboa) e Chica Xavier (Mãe Setembrina) rezam a mesma cartilha: fazer bem ao próximo

Longe das novelas desde O fim do mundo, de Dias Gomes (1996), Blat ficou tão empolgado com o convite do diretor Wolf Maya que começou a freqüentar cultos para conhecer o universo do seu personagem. Para ele, não importa se a pessoa é budista ou evangélica, o importante é ter fé. Chica acha que Aguinaldo Silva, autor da trama, vem derrubando preconceitos em relação às duas crenças.

"Ninguém é superior, temos um Deus só. E o pastor e a Setembrina sabem disso", diz Chica,que, mãe-de-santo na vida real, explica com uma voz doce por que acende velas para os santos. "Quando falta energia, a gente não procura um toco de vela? Então, quando o ser humano precisa de força, deve acender uma vela para iluminar seus caminhos", complementa.

Em Sepetiba, onde mora ("Apesar da praia ter virado um lamaçal"), a atriz, de 75 anos, também gosta de usar roupas brancas e de colher ervas do seu quintal para fazer chás. "O chá da folha de colônia é o meu calmante", conta Chica, que também viveu uma mãe-de-santo na minissérie Tenda dos Milagres, baseada na obra homônima de Jorge Amado e exibida na Globo em 1985.

Mortes

Durante a invasão da Portelinha por traficantes, esta semana, Setembrina terá um infarto e morrerá. Mas Chica não vai se despedir de Duas caras: continuará guiando Andréia Bijou (Débora Nascimento), que sonha em ser madrinha da bateria, mas foi destinada pelos orixás a substituir Mãe Bina no terreiro.

A invasão da favela também provocará uma tragédia na vida do pastor Lisboa: ele perderá a filha, Rebeca (Paola Crosara), que será baleada. Mas Aguinaldo Silva diz que a fé do pastor não ficará abalada . "Ele acha que Deus está sempre testando a sua fé", diz Aguinaldo, que faz questão de frisar que no seu folhetim não há uma Igreja Católica. E polemiza: "E sabe por quê? Porque não há igrejas católicas nas favelas. O que eu acho um furo terrível. Na América Latina, a Igreja se tornou mais um partido político do que uma religião".

De volta

Blat, que tinha feito sua última aparição na TV no Sítio do Picapau Amarelo, após atuar também em Hoje é dia de Maria, não sabe dizer por que ficou tanto tempo longe das novelas. "Nunca me programei, nem pensei vou fazer isso ou aquilo", diz ele, que fez sua estréia em novelas na primeira versão de A viagem, em 1975, na Tupi. Além de Duas caras, no momento, o ator está envolvido na preparação do elenco do filme 174, de Bruno Barreto (sem data de lançamento prevista).

Tarefa que ele cumpriu também na minissérie A Pedra do Reino. "Eu me sinto como um afinador de uma orquestra. O Luiz Fernando (Carvalho, diretor) é o maestro", compara. Blat se diz empolgado com a chance de interpretar um homem de fé. Aos 56 anos, já foi à Índia "atrás da sua espiritualidade": "Sou curioso em relação à questão da fé e da paz que se pode encontrar seguindo uma crença. Quando rezo, peço que as minhas atitudes expandam luz".

fonte: Diário do Nordeste [via Agência O Globo]

Um comentário:

luciana disse...

Cinquenta e seis anos , quem mesmo??

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