Segregadas dos homens, proibidas de dirigir e submetidas a limitações para viajar, trabalhar e mesmo estudar, muitas mulheres da Arábia Saudita tentam se suicidar para escaparem de uma das sociedades mais rígidas do mundo.
A Arábia Saudita, um Estado islâmico conservador cujos clérigos exigem uma separação total entre os homens e as mulheres, costuma adotar uma postura severa com as mulheres, muitas delas vítimas de atos agressivos realizados por homens.
Uma garota de 19 anos sequestrada e estuprada por sete homens acabou condenada, recentemente, a 200 chibatadas em um caso que gerou críticas na comunidade internacional e manchou a imagem da Arábia Saudita, o berço do Islã.
O rei Abdullah, do país, perdoou a mulher nesta semana, em uma medida que parecia significar uma crítica dura aos clérigos da vertente Wahhabi do islamismo (de linha-dura). Esses clérigos dominam o Poder Judiciário do país.
As pressões exercidas sobre as mulheres sauditas obrigam-nas a viver em um mundo isolado, o que muitas vezes torna mais difícil o embate com as atribulações da adolescência e os problemas familiares.
"Eu estava desesperada naquela época por causa de problemas familiares. Minha mãe tinha se divorciado e eu tive de ficar com ela enquanto meus dois irmãos mais velhos foram morar com meu pai", disse Maha Hamad, 23, estudante, que tentou se matar há dois anos.
"Eu era pressionada demais pela minha mãe a respeito de tudo o que fazia. Eu não conseguia viver sem que ela determinasse o que eu podia e o que eu não podia fazer."
O suicídio é uma prática banida pela lei islâmica e, os hospitais costumam registrar o fato como "uso errado de medicamentos", o que faz esse tipo de caso figurar com menor peso nas estatísticas.
Pressões sociais
Um raro estudo de 2006 sobre as suicidas sobreviventes, realizado por Salwa al-Khatib, da Universidade Rei Saud, descobriu que de um universo de cem tentativas, 96 envolveram mulheres.
Segundo a pesquisadora, o hospital no qual trabalha como conselheira recebe uma média mensal de 11 mulheres que tentaram cometer suicídio.
"As mulheres enfrentam graves casos de depressão devido às pressões sociais", afirmou Khatib. "O tratamento diferenciado reservado aos homens e às mulheres dentro das famílias contribui para aumentar as pressões. Os homens, criados para serem superiores, costumam menosprezar as mulheres. Eles adotam um comportamento agressivo a fim de manifestar o poder que possuem sobre as mulheres."
Feitas com pequenas doses de remédio tomadas durante o dia, muitas das tentativas de suicídio revelam-se antes como pedidos de ajuda, e não esforços sérios para acabar com a própria vida, disse Khatib.
"Várias das adolescentes da Arábia Saudita não se comunicam com seus pais. Não há ninguém para ouvir sobre seus problemas emocionais, sociais ou mesmo educacionais", disse a pesquisadora.
Os casamentos forçados são um fator comum por trás das crises de depressão enfrentadas por mulheres jovens, dizem cientistas. Geralmente, apenas mulheres da classe alta da Arábia Saudita conseguem se casar com um parceiro que elas próprias escolheram.
fonte: Reuters [via ADIBERJ]
23.12.07
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