Chamar de novo o ano que se inicia me deixa de pé atrás. Mineiro, sobra-me desconfiança. Porque novo só mesmo o avanço de 1 dígito no calendário anual deste século XXI.
Ano que se inicia é como casa nova, vem junto toda a tralheira da velha. Parece aniversário, a gente muda de idade e conserva os mesmos vícios, as mesmas manias, os mesmos (des)propósitos. E ainda acha, de quebra, que não ficou mais velho. Porque ruga só se enxerga em rosto alheio.
Este novo ano convergirá para as eleições municipais. Vai rachar na base citadina a coalizão articulada nas lúlicas altitudes do Planalto. Partidos que se bicam em Brasília haverão de quebrar o pau na disputa municipal pela cadeira de prefeito. E uma avassaladora multidão de candidatos estará de olho no mandato de vereador. Uns, porque, imbuídos de espírito cívico, aspiram sinceramente a servir à população. Outros sonham em ganhar sem trabalhar.
Ser vereador no Brasil é prêmio da loteria eleitoral. O eleito comparece uma ou duas vezes por semana à Câmara Municipal e, graças ao cargo, dedica o resto do tempo ao que lhe dá na telha. Uns poucos se interessam de fato pela cidade; outros cuidam de seus negócios pessoais; e há ainda os que preferem a ociosidade bem remunerada, turistando mundo afora à custa do contribuinte e do erário público.
A maioria faz tráfico de influência. É o chamado nacotraficante. De cada jeitinho dado o sujeito arranca um naco em proveito próprio: um saco de cimento aqui, a matrícula do menino ali, uma passagem rodoviária interestadual acolá...
O bom pra eles é que nós, eleitores, votamos e, quinze dias depois, nem mais recordamos o nome do candidato. Se eleito, o sujeito fica à vontade, sem sofrer pressão de quem o elegeu. É a democracia delegativa. Nem chega a ser representativa. E está a mil anos-luz da participativa – aquela em que a sociedade civil organizada interage permanentemente com o poder público. E tem consciência de que político não é autoridade, é servidor. Nós o elegemos e lhe pagamos o salário. Autoridade é o povo, a quem ele deve prestar contas. O eleitor tem o direito de cobrar, propor, pressionar; o político, o dever de prestar contas.
Bom seria que escolas, associações, sindicatos, igrejas, empresas etc. promovessem debates com partidos e candidatos, e exigissem, por escrito, a garantia de que cumprirão determinados compromissos. Fiz isso na última eleição para deputado federal. Houve quem se recusasse a assinar... E olha que era gente de partido pretensamente progressista. É assim, na hora do discurso, uma beleza; na hora do compromisso, uma tristeza...
E é bom ter presente também que, neste ano, comemoram-se os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. O que a direita raivosa considera “coisa de bandido”. Falta incluir na Declaração os direitos internacionais, planetários e ambientais, de modo a obrigar o governo dos EUA a tirar as patas de Cuba (Guantánamo + bloqueio) e de Porto Rico (colônia USA desde 1898, quando o processo de descolonização já ocorreu no resto do mundo).
Bons votos e feliz 2008, querido(a) leitor(a)!
Frei Betto é escritor, autor de “A arte de semear estrelas” (Rocco), entre outros livros.
8.1.08
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Um comentário:
Ah não !! Quem é este senhor para falar de qualquer coisa visto que nutre idolatria pelo maior genocida vivo no mundo, a saber o monstro Fidel Castro.Qual é Pavarini ?? Não acredito que você vai cair nesse discurso socialista mentiroso (desculpe o pleonasmo).O que faz o Lula senão distribuição de esmola com o dinheiro dos impostos? Pelo amor de Deus, o comunismo foi a maior desgraça do século XX e esse pseudogoverno está conduzindo nosso país a essa tragédia colocando o Estado no lugar de Deus!! O que ele chama de " direita raivosa " são as pessoas que querem ver os bandidos na cadeia.Automaticamente o leitor é induzido a pensar que a "esquerda é da paz ".Isso é mais uma tática comunista, e esse senhor entende bem disso pois deu auxílio aos terroristas que queriam dar um golpe no Brasil para implantar um modelo socialista nos moldes de Cuba, impedido pelo contragolpe dos nossos bravos militares, que hoje são humilhados pelo atual desgoverno.Eu quero acreditar que você não tinha conhecimento disso ao publicar o artigo desse senhor...
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