Até recentemente, romances transmitidos por telefone celular -compostos nas teclas dos telefones por garotas brandindo ágeis polegares e lidos por fãs em suas pequenas telas- eram menosprezados no Japão como um subgênero que não fazia jus ao país que deu ao mundo seu primeiro romance "A História de Genji", há um milênio.
No mês passado, a seleção de fim de ano dos best-sellers mostrou que os "romances de celulares", reeditados na forma de livros, não só se infiltraram no mercado como estão dominando o setor.
Entre os 10 romances mais vendidos no ano passado, cinco eram originalmente romances de telefone celular, em sua maior parte histórias de amor escritas com as frases curtas características das mensagens de texto, mas contendo pouco do enredo ou do desenvolvimento de personagens encontrados em romances tradicionais. Além disso, os três primeiros lugares foram ocupados por romancistas estreantes, incendiando os debates nos meios de comunicação e na "blogosfera".
"Será que os romances de celular vão 'matar o autor'?" indaga em sua capa a famosa revista literária Bungaku-kai, na edição de janeiro. Os fãs exaltam os romances como o novo gênero literário criado e consumido por uma geração cujos hábitos de leitura se constituíam principalmente de mangás, as histórias em quadrinhos. Os críticos dizem que a predominância de romances de celulares, com sua limitada qualidade literária, pode acelerar o declínio da literatura japonesa.
Sejam quais forem seus talentos literários, os romancistas de celular estão colhendo o tipo de vendas com o qual muitos dos romancistas mais experientes, tradicionais limitam-se apenas a sonhar.
O romance de celular nasceu em 2000, depois que um site para quem faz home pages, o Maho no i-rando, percebeu que muitos usuários estavam escrevendo romances em seus blogs; ele preparou seu software para permitir que os usuários baixassem seus trabalhos em andamento e os leitores pudessem comentar, criando o romance em série para telefones celulares.
O número de usuários que enviou os arquivos com os romances só começou a explodir há dois ou três anos e o número de romances relacionados no site chegou a um milhão no mês passado, segundo o Maho no i-rando.
"Love Sky", o romance de estréia de uma jovem chamada Mika, foi lido por 20 milhões de pessoas nos celulares ou computadores, segundo o Maho no i-rando, onde foi publicado primeiro.
Um dramalhão que traz sexo entre adolescentes, estupro, gravidez e uma doença mortal -imprescindível no gênero- o romance acabou captando o comportamento da geração jovem, seus tiques verbais e a onipresença do telefone celular. Reeditado na forma de livro, tornou-se o romance mais vendido no ano passado e foi transformado em filme.
trecho de matéria publicada no The New York Times [via UOL]
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tradução: Claudia Dall'Antonia
28.1.08
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Um comentário:
Acho incrível a maneira como tudo se adapta às formas impostas pela tecnologia e, principalmente, pela modernidade.
Espero que a moda pegue por aqui e que a qualidade seja alta, para não cairmos em historinhas de adolescentes descabeçados, como estes que dominam o mundo.
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