"A vida, por fim, não passa de um hábito que se tem de perder, depois de todos os outros."
Marcel Jouheandeau
Ao completar 50 anos em um mesmo endereço, na Rua Joaquim Antunes, na cidade de São Paulo, a Farmácia Jardim Paulistano fechou suas portas. Luiz Lanfredi, farmacêutico, durante meio século atendendo milhares de clientes e amigos que viu nascer, crescer, mudar, prosperar, morrer, sobreviver, baixou as portas pela última vez no dia 7 de dezembro de 2007. 78 anos de dedicação e ótimos serviços num rosto marcado pelas rugas e pelos cabelos brancos.
Muitas dessas farmácias ainda resistirão Brasil adentro e Brasil afora, mas já não fazem parte do mundo moderno. Num raio de 1 quilômetro da Farmácia Jardim Paulistano no mínimo 40 outras farmácias de rede, em diferentes formatos e serviços, com um mix maior de produtos; e mais as farmácias em anexo aos supermercados; e mais as vendedoras porta a porta; e mais a internet; e mais o que está por vir.
Oitavo mMandamento do Marketing, de meu livro que foi considerado pela Câmara Brasileira do Livro como "O Melhor Livro Não-Ficção de 2005 – Prêmio Jabuti": "O preço da sobrevivência é a permanente atualização".
Seu Luiz não atualizou porque não quis. O formato que lhe realizava e trazia felicidade era aquele; e assim resistiu até o fim. Definitivamente, os formatos modernos não tinham nada a ver com ele.
Pessoas, nós, consumidores, não compramos produtos. Compramos os serviços que esses produtos prestam. Quando novos produtos de farmácia passaram a oferecer um mix de serviços mais conveniente aos consumidores, nós, não obstante todo o apreço, amor, consideração, que a Jardim Paulistano e seu Luiz fizeram por merecer pelos ótimos serviços prestados nos mantivemos leais. Sempre serão lembrados com respeito, saudades, admiração, reconhecimento. Mas as compras passam a ser realizadas em novos endereços.
Em verdade, a Jardim Paulistano foi a última das pequenas farmácias da região dos jardins a fechar suas portas. Outras sete, nos anos anteriores, a precederam no caminho.
Como não poderia deixar de ser, muitos dos clientes foram se despedir do farmacêutico Luiz. Falando a Fernando Vieira do Diário do Comércio, Genoveva Vidigal, 53 anos, disse, "Meu avô, meu pai, eu e meus filhos... foram várias gerações cuidadas pelas mãos do seu Luiz. Vamos sentir sua falta... e muito!". Já Maria de Lourdes Ribeiro, 50 anos, levou flores para o farmacêutico por tudo o que fez por seus clientes: "Ele não era uma farmacêutico. Era mais: o médico do bairro. Mesmo depois de uma consulta com um médico a opinião dele era a que valia". E outro cliente, Luiz Cassino, pontuou, "Era um farmacêutico que receitava não tomar remédio". Imediatamente endossado por Sinésio Batista, 80 anos, e dono da banca de jornal vizinha da farmácia há mais de 40 anos: "Tinha gente que chegava doente e saía curada só com uma boa conversa".
Valeu, seu Luiz. Foi ótimo enquanto durou. Que saudades!
Francisco A. Madia, no jornal Propaganda & Marketing.
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