EP - Que peso o senhor atribui às idéias religiosas na configuração desses sistemas de valores compartilhados que chamamos de civilizações ou culturas?
Khatami - As religiões são o elemento mais importante que há em cada cultura e em cada país, e por isso a interação entre elas é fundamental para resolver os problemas. Por exemplo, na Fundação, nos reunimos com representantes do Vaticano, da Catedral Nacional de Washington e da Universidade Islâmica de Al Abar para debater o caminho que é preciso seguir. Naturalmente, outras religiões poderão se incorporar. É muito importante esse diálogo inter-religioso.
EP - Que os doutos das diversas religiões entrem em acordo parece mais simples do que estes o façam com os ateus. Não é maior o abismo entre os religiosos militantes (qualquer que seja seu credo) e os que defendem a laicidade?
Khatami - Sem dúvida, mas o diálogo não termina nos religiosos. Temos muitos problemas humanitários nos quais podemos chegar a um acordo [com os ateus], como por exemplo a pobreza -o mais importante de todos- ou a grave crise do meio ambiente. Devemos pensar nas coisas que temos em comum como seres humanos, e não deixar que as diferenças nos separem.
EP - No fundo dessas diferenças estão as relações entre religião e Estado. Na sua opinião, quais são as normas que as devem reger?
Khatami - É um problema do mundo moderno. Na Idade Média não se planejava. Hoje triunfa a idéia de que se devem separar governo e religião. Diz-se com freqüência que a secularização acabou com as guerras de religião, mas houve outras, como a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais, ou numerosos conflitos regionais que não têm nada a ver com religião. Não se pode afirmar que a separação de governo e religião põe fim a todos os problemas. Para que não haja guerra, o ser humano precisa deixar para trás seu egoísmo e não se considerar o centro do mundo. A religião não se opõe à liberdade, ao desenvolvimento e à democracia. Hoje não é mais como na Idade Média.
trecho de entrevista do ex-presidente iraniano Mohamed Khatami ao jornal El País.
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tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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fonte: UOL
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