Conheci uma senhora portuguesa em Nova York que não conseguiu aprender inglês e esqueceu o português. Quando deixava recados, em vez de pedir para retornar ou "call me back", dizia "chama-me para trás". O projeto do deputado Aldo Rebelo que proíbe o uso de palavras estrangeiras também soa como um chamado para trás.
Sob pena de multa, mulheres nacionais não farão mais stripteases, mas excitantes "tira-provoca". Os restaurantes terão dificuldades de explicar em seus cardápios que o "soprado de queijo" é o velho e banido suflê e que o "marronzinho" é o ex-brownie. A Aids terá de ser chamada de Sida sob pena de o doente não receber os remédios. E os lobistas, coitados, como se chamarão?
Ninguém falará mais laptop, que deverá ser chamado de "ordenador de colo", já que computador é americanismo e também está fora da lei, só poderemos falar ordenador -macaqueando os franceses e os espanhóis. Falar em PC só se for o do B: os ordenadores pessoais serão os populares OPs, os programas rodarão no sistema "Janelas". Já os CDs terão que ser chamados de DCs, "discos-compactos".
As lanchonetes terão que mudar de nome. Como se chamarão os sundaes? O milk-shake será "leite-chacoalhado"? O afrancesado croquete é fácil, vira "cocréte". Assim como as balas Hall's são chamadas de "Rális" na Bahia.
Estou preocupadíssimo com os publicitários, que terão que fazer muitos seminários para se adaptar a uma nova e estranha língua. Mas eles são criativos, encontrarão boas expressões nacionais para layout, release, top de linha. Pior para os surfistas, que já não tem um vocabulário muito amplo e ainda serão privados do pouco que têm.
Livre da nefasta influência estrangeira, a nossa língua será pura. Nem nós a entenderemos.
Nelson Motta, na Folha de S.Paulo.
4.1.08
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