3.1.08

Vaia com Deus

“Vamos aplaudir mais forte, povo de Deus! A gente bate palmas aqui nesta igreja porque a Bíblia diz: ‘Batam palmas todos os povos’”.

Inapto e inepto, o pastor tentava ingenuamente animar o povo a participar da reunião. Infelizmente, o formato de culto que predomina em boa parte das comunidades só permite a participação popular ao aplaudir, cantar e dizer “amém” (ou expressões afins).

A origem dos aplausos está relacionada ao aspecto religioso. Em vários ritos pagãos, o ruído provocado pelas palmas era uma forma de chamar a atenção dos deuses. Interessante notar que hoje o rebanho continua sendo pavlovniamente condicionado a repetir esse tipo de gesto. O sucesso no adestramento parece desmentir a proximidade genética apenas com os símios. Basta espiar a performance uniforme da fauna amestrada em muitos templos.

Como acontece nos programas de auditório, a intensidade dos aplausos tornou-se referência para avaliar se o culto foi bom ou não. A adoção de um parâmetro equivocado abre espaço para toda sorte (ou seria “azar”?) de expedientes para provocar as palmas da congregação. Por exemplo, chamar celebridades de terceira linha para testemunhar que Jesus deu novo rumo para sua carreira decadente. Com direito a promoção de opúsculos e CDs na tradicional xepa após o fim da reunião.

Poucos se lembram de observar se a Palavra está produzindo transformação na vida dos ouvintes. Em certos modelos eclesiásticos vigentes essa tarefa realmente é impossível, já que a igreja perdeu características neotestamentárias fundamentais.

As pessoas apenas freqüentam reuniões nesses templos religiosos de consumo, sem nenhuma oportunidade de interação com os irmãos. Tornaram-se apenas consumidores açulados a todo o tempo por pastores-vendedores (tanto faz a ordem, neste caso) a adquirir campanhas, comprar desafios e aceder a apelos lamurientos na hora da oferta.

Matéria publicada recentemente na revista Veja SP abordou a questão da obrigatoriedade dos aplausos ao final de qualquer espetáculo. Independentemente da qualidade da apresentada, a ovação agora faz parte do script. Segundo o crítico de música erudita Irineu Franco Perpétuo, “um público menos informado não é criterioso e bate palmas o tempo todo”. Será que a asserção também é válida no caso das igrejas?

Após desempenho medíocre no palco, aplausos automáticos deixam os atores aliviados. O efeito é similar quando as palmas irrompem no meio de uma mensagem sem conteúdo pregada com entusiasmo. Não faltam candidatos a “puxadores de palmas”, remetendo à estratégia usada pelo imperador Nero de sempre levar uma claque para garantir a repercussão de seus discursos.

Se a contrapartida de reação fosse válida, também teríamos o direito de vaiar o que nos desagrada durante as reuniões. A banda não ensaiou e errou vários acordes? Vaias para os músicos. O pastor se desculpa antecipadamente dizendo que “Deus pediu” para ele mudar a mensagem e por isso não se preparou adequadamente? Nem é preciso esperar a pregação. Vaia nele. O preletor convidado testemunha que o Senhor “cegou” os guardas e eles não viram as várias infrações que cometeu no trânsito para chegar na igreja? Muuuitas vaias para o cara-de-pau.

Para alívio de muita gente, os apupos devem continuar proibidos. Aos insatisfeitos com a condição de claque muda ou de meros provedores de megalômanos infecundos, resta-lhes a mesma reação que têm muitos consumidores ao serem ignorados ou tratados de forma inadequada numa loja: retirar-se silenciosamente, geralmente para nunca mais voltar.
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texto que será publicado na coluna PavaZine# na próxima edição da revista CristianismoHoje.

9 comentários:

Priscilla disse...

Esses dias estava pensando exatamente nisso. Quando bato palmas na igreja por louvor ao Senhor e quando faço apenas por liturgia. E agora leio seu texto...

As palmas são, com certeza, o instrumento de louvor de pessoas que, como eu, não tem o mínimo talento musical. Seu texto me levou a pensar que devo ser mais cuidadosa ao usar meu "instrumento", assim como um músico é com o dele.

Paz.

http://beadisciple.wordpress.com

`:_(°)~ Mεnos έ Mąis ~(°)_:´ disse...

Está escrito que o SENHOR não divide a Glória dEle com ninguém. (Is 42:8)
Quer ser ouvido pelo SENHOR?
- É simples: "a um coração quebrantado e contrito, ELE não resiste".(Sl 51:17)

Parabéns Pavarini.

Dos dois lados do Equador disse...

E eu fico pensando como eu fui um dos que "correram atrás" para que a "igreja" pudesse bater palmas...Isso lá no início dos anos 90, época das comunidades, das recém inventadas bandas de rock gospel... ai ai.

E hoje tudo não passa de uma vaidade tola.

Antes esse fosse o maior problema da igreja evangélica.

No entanto, na verdade, a discussão a respeito das palmas só revela o quanto estamos aquém. O quanto já poderíamos ter seguido na jornada.

O seu artigo, Pava, me lembra quando, ainda no seminário dizia a meus colegas de turma: "a questão não é aqui em sala mas o que faremos no dia-a-dia".

E pensei então nos milhares que lerão seu artigo, concordarão com você, e no domingo à noite, e na quarta, e na quinta, e na sexta-feira santa, baterão palmas efusivamente. E não terão entendido nada. E dirão que aquilo ali não é com eles. Não terão entendido que na "igreja" dele acontece exatamente aquilo ali que está denunciado aqui. Ele achará que é assim mesmo, que "a igreja é compostas por homens". Pobres moços ricos ainda não sabem o tamanho do buraco.

Ou seja, aonde se vá, o palmômetro é que mede a intensidade da ação do espírito.

Do espírito do homem, explique-se, esse o número da besta: 666. E eles ainda querem saber quem será a besta cujo número é número do homem.

O pior de tudo não é ser besta é se fazer de besta quadrada.

Bjão,

Vando

Anônimo disse...

pavarine, só nao gostei disto: "Por exemplo, chamar celebridades de terceira linha para testemunhar que Jesus deu novo rumo para sua carreira decadente."
muitas vezes sao de terceira linha pq nao conheciam jesus e nivelavam td por baixo. apesar de q uns conhecem e nivelam...
agora, eu acho que como nao temos como vaiar, podemos nos retirar. por exemplo, esse negócio de mulher pastora, eu nao engulo, vai pregar no culto de mulheres, nao sei como os homens aceitam isso. deveriam sair da igreja pra protestar.

Joel disse...

O povo de Deus nao é idiota. Idiota é quem assim o acha, talvez por nao ter alcançado os aplausos que tanto critica e gostaria de tê-los. Aplaudo quando estou cheio do Espirito Santo, pois a mensagem, louvor, alcançou minha alma, me aproximou de Deus. E ser pobre nao é ser burro. Não sou burro. Assim como o povo, sei distinguir quando o pregador não esta no Espírito. Deus o abençoe.

Joel disse...

Uma pergunta: vc é de que religiao... Jesus ironizou os letrados de sua época, pois se achavam superiores aos mendigos, pobres, doentes, pescadores, prostitutas que ele curava.....

Anônimo disse...

Prezado,
Gostava mt qndo chegava seu e-mail para ler o conteúdo, mas confesso q já não estou gostando mais.
Primeiro q depois desses últimos comentários seus tenho minhas dúvidas a respeito do q vc é realmente (cristão ou perseguidor deles)e segundo pq vc generaliza tds os pastores como "pastores-vendedores".
Sou casada com um pastor evangélico e me senti ofendida pelo q disse. Creio q há sim pastores q pensam apenas em lucros, mas o q eu vivo e vejo é diferente. Ele não está lá para vender campanhas, envelopes ou etc, mas para abençoar o povo através disso.
E com relação às palmas, a Bíblia declara: "Aplaudi com as mãos todos os povos, e cantai a Deus com voz de triunfo"(Salmo 47:1).
Acho q não preciso dizer mais nada né?

Anônimo disse...

Ta escrito tem Salmos 47:1, mais certamente Deus nao quere casar o versiculo com ignorancia do pouvo em nao sabendo como discernir (Joel - cheio do espirito e nada mais do que um salvo que esta cheio da palavra) e essa raca de pastor malandro (Vanessa - o trabalho do pastor e pregar e ensinar a palavra de Deus e nao "abencoar").

Foi 10 Pava

Caps disse...

A ignorância dominou o corpo de Cristo. Agora até o mesmo o povo de Deus se tornou mané, sem opinião.

E pelos comentários do post, parece que a galera não entendeu... A questão não é bater palmas ou não. É aprender a se expressar, aprender a apreciar ou criticar.

Eu sou completamente a favor da participação da comunidade, nos cultos principalmente. Mas tá na hora dos "irmãos" criarem senso crítico.
Literalmente concordo com o que o artigo diz: se for pra aplaudir, aplaudam! Mas se for pra vaiar, vaiem com vontade, quem sabe assim quem tá lá em cima não se toca...

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