15.2.08

Delirium tremens

Em 1932, pela primeira e última vez na história, católicos e protestantes irlandeses (do norte) se uniram, para um protestar contra alguma coisa (nesse caso o desemprego na Irlanda). Como a única música não-sectária que ambos conheciam era ‘Yes, we have no bananas’ de Frank Silver e Irving Cohn, esta passou a ser o tema musical da passeata.

Com a eterna criatividade tupiniquim, Braguinha e Alberto Ribeiro, quinze anos depois, compuseram a marchinha de carnaval “Yes, nós temos bananas”, incrustada na nossa memória por Carmem Miranda. A música nada mais era do que uma crítica aos brothers do Tio Sam e o seu desprezo pelos latino-americanos.

Não sei por que, mas foi essa a música que me veio à mente no último sábado, quando fui assistir ao show do Delirious? na Igreja Bíblica da Paz, em São Paulo.

Imaginei, pelo ingresso graciosamente recebido, que seria uma boa oportunidade para ver um show de rock britânico, feito por um grupo de músicos competentes que, por coisas que só o “deustino” sabe, são todos meus irmãos na fé.

É claro que fui preparado para um evento cultural (afinal, música também é cultura) promovido por crente, ou seja, fui preparado para a maior bagunça. E não é que até que estava organizado?
Fila para entrar, ausência, quase que total, de vendilhões no templo, barraquinha com merchandising oficial da banda...

Mas cai (quase que literalmente) na real, assim que o “show” começou...

Fui informado pelo apóstolo que dirigia o evento que o show seria gravado, com equipamentos de última geração, para o lançamento de um DVD. Além disso, não era só a gravação do Delirious?, mas sim a participação da banda no show de um cantor muito adorado pelos crentes brasileiros.
Até tirei o ingresso do meu bolso, para ver se era aquilo mesmo... Bom, pelo menos no meu ingresso não era, não...

Ouvi também do apóstolo que, como a gravação seria ao vivo, era pro pessoal não assobiar no meio do show, seguir toda a direção de quem estivesse “ministrando”, não colocasse a namorada nos ombros e, uma série de outras coisas, que minha memória, já paralisada naquele momento, não guardou.

Bom... a idéia de ser ao vivo não é pra gente registrar essa participação do povo? Só faltou ele falar que não seria permitido cantar e palmas só se subisse uma placa.

Ainda tive de ouvir que aquilo não era um show, mas um culto. Foi a deixa prá começar um “vira pro seu irmão e diz isso e diz aquilo e bate na cabeça e fala que é pra ele não assobiar”... Claro, que seguido de uma oração de uns cinco minutos expulsando o inimigo do lugar e clamando pelos anjos e bênçãos do Senhor para o cantor e os músicos...

Naquele momento, a cotação do programa já tinha subido mais três cocares...

Eis que o show começa com o brazuca cantando em inglês... Tudo bem... Vou dar um desconto... ele tá pensando no mercado internacional... Mas ai, o cara começa a ministrar pra molecada, em inglês! Era um Holy Ghost prá cá, um Holy Spirit pra lá, e toma lift your voice, praise the Lord...

A segunda música também foi em inglês... E a terceira... E o popstar continuava a cantar e a “ministrar” em língua estranha pra maioria do público... Lamentável... Imaginei que muitos ali estavam como que católicos em uma missa celebrada em latim.

trecho de Sim, we temos no bananas!, texto do Whaner Endo no site Cristianismo Criativo.

Aprouve aos céus me livrar de cometer inúmeros pecados se tivesse ido ao show-culto... O tal ministrador em inglês é conhecido como André Valadão.

Um comentário:

luciana disse...

Verdade!? mai que coisa...
Meu Deus!esse mundo jaz...mesmo.
Que coisa mais ridícula.

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