19.2.08

George W. Bush, o inesquecível

Philip Roth, que vai completar 75 anos em março, é um dos autores norte-americanos vivos mais aclamados pela crítica. Seu livro "O Complexo de Portnoy", de 1969, levou-o à fama, e ele deu continuidade ao sucesso, ganhando o prêmio Pulitzer com o livro "Pastoral Americana", de 1997.

Muitos de seus livros têm o alter-ego ficcional de Roth, Nathan Zuckerman, como personagem principal. Zuckerman aparece novamente no último trabalho de Roth, "Exit Ghost", em que o personagem volta a Nova York depois de muitos anos de exílio no interior da Nova Inglaterra.

Confira um trecho da entrevista que ele deu à revista alemã Der Spiegel.

Spiegel - Você ainda se importa com política? Está acompanhando as eleições de 2008?

Roth - Infelizmente sim. Eu parei de acompanhar até uns dois anos atrás - até lá, a política não era real. Então assisti os primeiros debates de New Hampshire, e os republicanos foram tão inacreditavelmente impossíveis. Assisti o debate dos democratas e me interessei por Obama. Acho que vou votar nele.

Spiegel - O que fez com que você se interessasse por Obama?

Roth - Primeiro o fato de ele ser negro. Sinto que a questão da raça nesse país é mais importante do que a questão feminista. Acho que a importância para os negros será enorme. Ele é um homem atraente, inteligente, e bastante articulado. Sua posição no Partido Democrata é mais ou menos OK para mim. E acho que vai ser importante para os negros americanos que ele seja presidente.

Spiegel - Poderia mudar a sociedade, não é verdade?

Roth - Sim, poderia. Isso iria dizer algo sobre esse país, e seria algo maravilhoso. Não sei se vai acontecer. Eu raramente voto em alguém que vença. Pode ser o beijo da morte se você escrever na sua revista que eu vou votar em Obama. Ele estará acabado!

Spiegel - O que vai ficar do presidente atual, George W. Bush? Será que ele vai ser esquecido depois de sair do governo?

Roth - Não, ele foi horrível demais para ser esquecido. Haverá muita coisa escrita sobre isso. E há muito a ser escrito sobre a guerra. Há muito para ser escrito sobre o que ele fez com o reaganismo, uma vez que ele foi muito mais longe que Reagan. Então ele não será esquecido. Já disseram que ele foi o pior presidente que os Estados Unidos já tiveram. Na minha opinião, isso é verdade.

Spiegel - Por quê?

Roth - Bem, principalmente por causa da guerra, da decepção com a entrada na guerra. O cinismo absoluto que envolveu a decepção. O custo da guerra, o Tesouro e as vidas dos americanos. Foi hediondo. Não há nada parecido com isso. Em segundo lugar, por causa de sua atitude em relação ao aquecimento global, que é uma crise mundial; e eles foram extremamente indiferentes, até mesmo hostis, em relação a qualquer tentativa de enfrentar o problema. E mais isso, mais aquilo, mais isso, mais aquilo... Ou seja, ele fez um grande estrago.

tradução: Eloise De Vylder

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