Sempre que sinto a urgência de escrever uma história de horror (e poucas coisas me dão maior satisfação) sou lembrado de que uma porção essencial (talvez a porção mais essencial) da minha disposição mental está irremediavelmente mergulhada no pessimismo. Penso que na maior parte do tempo isso não fique aparente, mas considero-me inveterado pessimista e só me sinto verdadeiramente à vontade entre pessimistas.
Isso para mim fica muito claro quando considero os autores aos quais acabo sempre voltando, seja para reler ou para imitar: Lovecraft, Thomas Ligotti, Shirley Jackson, Schopenhauer, Fernando Pessoa, Dashiell Hammett, Tolstoi, Poe, até mesmo Borges – cada um desses cultivador de um matiz diverso do mesmo pessimismo fundamental.
(como já devo ter dito pelo menos uma vez, parte de mim sente falta do tempo em que o cristianismo era um movimento de pessimistas. Os cristãos eram advertidos a esperarem serenamente participação no destino degradante de Cristo, e ensinados que é em meio ao sofrimento que se palmilha o caminho do Reino. Eram informados austeramente a respeito do que poderia dar certo na vida que está por vir – ou seja, não se surpreendiam de modo algum quando tudo dava errado nesta. Isso naturalmente foi antes que o cristianismo institucional sofresse um severo reposicionamento de marketing de modo a tornar-se palatável ao mercado moderno e à índole saltitante do positivismo e do capitalismo. Esta foi apenas uma das ínumeras cirurgias plásticas a que o movimento se submeteu ao longo da história, mas nos diz respeito porque acabou gerando tanto os republicanos norte-americanos e seu Bush quanto os profanos entusiasmos da teologia da prosperidade)
Penso que a maioria das pessoas tende a associar pessimismo a inatividade e paralisia, e otimismo a entusiasmo e relevância. Na verdade nada é tão simples; regra geral, é precisamente o oposto que é verdadeiro. Em seu deslumbramento os otimistas, que diante de tudo se ofuscam, a nada se apegam. Em sua lucidez, aos pessimistas é dado enxergar na escuridão a única coisa essencial, e sentem-se como ninguém compelidos a agarrar-se a ela.
Paulo Brabo, no blog A Bacia das Almas.
9.2.08
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