Em 15 de dezembro de 2007, a Folha de S.Paulo publicou reportagem da jornalista Elvira Lobato revelando o patrimônio da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), composto por 2 jornais, 40 emissoras de rádio, 23 emissoras de TV, e mais 19 empresas em nome de 32 membros da igreja, inclusive uma registrada no paraíso fiscal de Jersey, no Canal da Mancha, que considerou uma hipótese de que os dízimos dos fiéis sejam "esquentados em paraísos fiscais", o que sugere a utilização de dinheiro imune de tributação para favorecer atividade comercial, o que poderia ou deveria acarretar a perda de imunidade fiscal.
Ao que parece, a resposta da IURD foi incentivar seus fiéis a processar jornalistas e órgãos de imprensa que publicam matérias investigativas a respeito do patrimônio do bispo Edir Macedo e da própria Igreja: com petições de parágrafos idênticos, foram ajuizadas ações de indenização por danos morais em Juizados Especiais de vários Estados.
A discussão imediata ao redor dos eventos trata de temas como: assédio judicial, uso abusivo do sistema judiciário mediante instauração de ações judiciais com a nítida intenção de dificultar o direito de ampla defesa, litigância de má fé, intimidação da imprensa e atentado contra a liberdade de expressão. Discute-se também os limites da imprensa investigativa, ofensa das garantias constitucionais como a dignidade da pessoa humana, acesso à Justiça, liberdade de crença e inviolabilidade da honra.
Suspeito que a IURD, uma instituição religiosa que pretende representar os interesses do evangelho de Jesus Cristo e do reino de Deus, esteja envolvida numa disputa mais facilmente identificada com interesses políticos, econômicos e comerciais.
Suspeito também que as bases que fundamentam as ações judiciais dos fiéis da IURD sejam mentirosas: não creio verdadeiras as alegações de que os fiéis estejam sofrendo discriminação e sejam vítimas de preconceito e perseguição religiosa em razão das notícias veiculadas, até porque muitas destas ações foram ajuizadas em cidades e lugares remotos.
Finalmente, suspeito que os fiéis da IURD estejam sendo manipulados e instrumentalizados pelos pastores e bispos, para que saiam em defesa de interesses escusos acreditando defender sua fé e seu Deus, sendo esta a face mais aviltante deste infeliz episódio.
Desejo estar errado. Prefiro crer que as igrejas ainda não caíram na rede da cultura de mercado, e não se transformaram em meras fachadas para a devoção ao deus Mamon, mas permanecem fiéis à sua vocação de proclamar as boas notícias do reino de Deus, vivendo sob a máxima "de graça recebestes, de graça dai".
Prefiro crer que as igrejas continuam solidárias à causa do órfão, da viúva e do estrangeiro, permanecem ambientes de emancipação e libertação, se mantêm como voz dos fracos, oprimidos e indefesos, e se recusam peremptoriamente a permitir que seus fiéis sejam transformados em massa de manobra nas mãos do ministério da iniqüidade.
Prefiro crer que as igrejas não cederam à lógica maquiavélica de que "os fins justificam os meios", e não se deixaram iludir acreditando que é possível cooperar para o avanço do reino da luz fazendo uso das armas das trevas.
Prefiro crer. Mas sei que crer é um ato de teimosia.
Ed René Kivitz, no boletim da IBAB.
24.2.08
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2 comentários:
Ed...não creia. Venderam a alma pra mamon. Os líderes. Os seguidores, chamados fiéis, não. Estes são apenas manipulados. Como se diz popularmente “levou uma lavagem cerebral”. Uma postagem no :http://tempora-mores.blogspot.com/2008/02/deus-o-trabalho-e-prosperidade.html. O autor tem uma visão clara do que é a igreja brasileira hoje. A postagem anterior trata do cara preso apelidado Ninho, por ter sido preso na primeira vez por roubar leite Ninho. Porque , como no caso da IURD, alguém não procurou a justiça para defendê-lo? Pagar fiança ou sei lá o que? Certamente algo deveria e poderia ser feito, por milhares de cristãos que conhecem a Palavra de Deus , mas não movem uma palha pra fazer justiça. Vivem um cristianismo egoísta, que não é o verdadeiro cristianismo onde a essência é o amor(caridade) ao próximo. Em contrapartida, manipulados por estes calhordas, fazem o maior estardalhaço pra defender “o Reino de Deus”na justiça enquanto milhares morrem de fome e sede de justiça neste país. Deus não precisa que o defendamos. Ele quando quer defende-se a si mesmo, não é verdade?
Graça , misericórdia e paz
Em Cristo
Wladimy Morais
prefiro enxergar a verdade... onde está Deus no meio de tanto interesse próprio e zero de renúnia e arrependimento?
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