8.3.08

Ah, Capitolina

Acabo de ler Dom Casmurro. De novo e sempre. A edição está em todas as bancas a preço de ocasião. Tropeça-se aqui e ali em errinhos de revisão, mas vale a pena. Nada que a prosa de Machado não nos faça esquecer e saltar num pulinho.

Aqui do meu leito, ainda assustada com as cores que redescubro no mundo (como são vivas as cores do mundo!), eu me prostro de joelhos no altar do bruxo e o louvo com todas as minhas forças.

Confesso que escolhi uma má hora para voltar a Machado. Às vesperas de começar a escrever o meu romance (o adianto para fazê-lo já me foi depositado), a vontade é escrever um bilhete à tal companhia dizendo: desisto. Nada há mais a ser dito.

Mas escritor é bicho vaidoso movido pela obsessão de fazer sombra ao mestre. E por isso contarei a minha história. Até lá espero livrar-me da assombração machadiana.

Voltando ao Casmurro, custa-me crer que existam pessoas capazes de defender a honra de Capitu. Não a honra, pois esta ela sempre teve, tem e terá até o fim dos séculos. Mas a fidelidade. Claro que ela traiu Bentinho. A menos que se escreva um outro livro. Nesse que Machado escreveu, a traição está lá com todas as letras.

E nem perca seu tempo perdoando seu gesto tresloucado. Ela dá uma banana para o meu ou para o seu perdão, assim como deu para o de Bentinho. Viveu muito bem sem ele até o fim da vida que chega para todos, virtuosos ou pecadores, devassos ou castos.

Aproveito esse finzinho do Dia Internacional da Mulher para erguer bem alto minha bandeira onde tremulam os olhos de ressaca da morena de Matacavalos. Aquela que, tal como Eva, carregará nossos pecados nas costas e publicamente para que continuemos a cometê-los às escondidas.

Ivana Arruda Leite

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