2.3.08

A Bíblia, a ciência, os peixinhos e o mar

“Nossa história, a minha, a sua, a de todo mundo nesse planeta, começou ao mesmo tempo, cerca de 14 bilhões de anos atrás, quando nosso universo começou sua expansão. Foi então que essa massa de energia começou a moldar as partículas que formam tudo o que existe, os primeiros elétrons, os prótons e nêutrons, os primeiros núcleo atômicos.

Passados 400 mil anos, com o Universo ainda na sua infância, surgiram os primeiros átomos, os tijolos fundamentais da matéria. Conglomerados de átomos, atraídos pela gravidade, formaram nuvens de matéria que, girando de forma instável, contraíram-se para formar as primeiras estrelas. Essas viveram pouco, vítimas de sua enorme massa. Ao morrer, entraram em colapso, forjando em suas entranhas os elementos químicos mais pesados -carbono, oxigênio, ferro - lançados ao espaço em seus últimos estertores. Esses átomos espalharam as sementes da vida pelo espaço.

Outras estrelas nasceram e outras morreram cosmo afora. Passados quase 10 bilhões de anos, nasceram o Sol, os planetas, a Terra e a Lua, todos com infâncias violentas: cometas e asteróides bombardeando suas superfícies, radiação solar letal e poucas chances de a vida surgir. Mas em um deles, por não estar nem muito longe nem muito perto do Sol, a água pôde manter-se líquida; por ter a massa certa, criou uma camada protetora à sua volta, a atmosfera. Aos poucos, os elementos químicos foram se combinando, formando moléculas complexas. Delas, surgiu a vida. E dela, surgimos nós. Nossa história, se contada assim, do começo, é a mesma.”

A explicação é de Marcelo Gleiser, professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), em sua coluna no Caderno Mais! da Folha de S.Paulo de domingo passado. Constituem uma versão científica simplificada do que o Gênesis afirma em sete palavras em hebraico: Beréshit bara Elohîms ét hashamaîms veét haarés – “No princípio Elohims criava os céus e a terra”.

Para quem se assusta com a afirmação de que o Gênesis tem uma explicação científica – se é essa do Gleiser ou outra, não sei dizer – basta lembrar que a narrativa bíblica não é um texto científico, mas religioso. Afirma o que a ciência não consegue explicar, por exemplo, de onde veio a “massa de energia” que “começou a moldar as partículas que formam tudo o que existe” ou qual a origem dos “primeiros elétrons, os prótons e nêutrons, os primeiros núcleo atômicos”.

A Bíblia se preocupa em afirmar que Deus é a origem de tudo o que há, não importa o que a ciência diga como foi que tudo o que há veio a ser como é. A Bíblia quer nos ajudar a pensar “sobre o mundo e sobre nosso lugar nele”, outra frase de Gleiser.

Mas diferentemente da ciência, a Bíblia está ocupada em questões que transcendem a explicação racional do universo material: quer guiar o ser humano pelos labirintos da busca de sentido, oferecer balizamentos éticos, sugerir os caminhos para uma vida digna e plena de significado.
Parte do pressuposto da realidade de um Deus Criador, revela o caráter pessoal desse Deus e indica claramente como o ser humano pode e deve se relacionar com Ele.

Nada disso a ciência pode fazer, nem mesmo se propõe a fazer. Assim como a Bíblia não pretende explicar as dinâmicas físicas e estruturas químicas que regem o funcionamento da natureza criada.

A ciência tenta descrever as estruturas do mar e dos peixes. A Bíblia pretende ensinar a nadar. Existe um montão de gente que entende tudo de aquário e peixe, mas não sabe nadar. O oposto é verdadeiro, os peixinhos não sabem explicar o mar.

Ed René Kivitz

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