16.3.08

Chão de estrelas

Jorge Luis Borges falando em conferência
transcrita em "Esse Ofício do Verso" (Cia das Letras)

No meu entender, qualquer coisa sugerida é bem mais eficaz do que qualquer coisa apregoada. Talvez a mente humana tenha uma tendência a negar declarações. Lembrem o que diz Emerson: argumentos não convencem ninguém. Não convencem ninguém porque são apresentados como argumentos. E então os contemplamos, e refletimos sobre eles, e os ponderamos, e acabamos decidindo contra eles.

Mas quando algo é simplesmente dito ou - melhor ainda - insinuado, há uma espécie de hospitalidade em nossa imaginação. Estamos dispostos a aceitá-lo. Lembro ter lido, há uns trinta anos, as obras de Martin Buber - que considerei poemas extraordinários. Então, quando fui para Buenos Aires, abri o livro de um antigo amigo meu, Dujovne, e descobri em suas páginas, para grande espanto, que Martin Buber era um filósofo e que toda sua filosofia estava contida nos livros que eu lera como poesia. Talvez eu tenha aceito aqueles livros porque chegaram a mim pela poesia, pela sugestão, pela música da poesia, não como argumentos. Creio que em alguma passagem de Walt Whitman a mesma idéia pode ser encontrada: a idéia de razões serem inconvincentes. Creio que ele diz em alguma parte achar o ar noturno, as poucas estrelas graúdas, bem mais convincentes que meros argumentos.

fonte: blog do Alysson Amorim

Um comentário:

Anderson disse...

Pavarini, você não faz idéia da satisfação que tive em ver seu comentário lá no incipiente Sola Gratia. Minha admiração por suas idéias são de longa data: desde as primeiras edições da Vidamix. Espero que mantenhamos maior contato. Fique na Paz,
Anderson

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