8.3.08

Dou-te os meus ganhos

Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas,
sou uma estrutura agrandada pelos anos e o peso dos fardos bons ou ruins (carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)
O que te posso dar é mais que tudo o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir quando em outros tempos choraria,
busca te agradar quando antigamente quereria apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza e juventude agora:
esses dourados anos me ensinaram a amar melhor, com mais paciência e não menos ardor,
a entender-te se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força - que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável cujas marés - mesmo se fogem - retornam,cujas correntes ocultas não levam destroços, mas o sonho interminável das sereias.

Lya Luft

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