9.3.08

Entre o folclore e o escândalo

Nos EUA, os evangélicos formam uma comunidade política poderosa e sem rival em um aspecto: a atuação quase sempre homogênea de seus integrantes nas urnas. Na corrida à Casa Branca de 2004, por exemplo, 78% optaram pelo Partido Republicano.

No Brasil, o comportamento de manada não é algo dado. Pesquisa da York University (Canadá) com base em dados do instituto Ipsos mostra que nem Lula, sabidamente um fenômeno eleitoral polarizador, conseguiu esse feito. Em 2002, o petista foi o destinatário da maioria dos votos evangélicos no segundo turno. Em 2006, porém, não obteve entre esses fiéis margens de apoio estatisticamente diferentes.

Simone R. Bohn, autora do estudo, acha que, ao menos por ora, o impacto eleitoral dos pentecostais no Brasil pode ser uniforme somente na presença de candidaturas explicitamente identificadas com essas igrejas. A comunidade, segundo ela, ainda não consolidou no país um "grupo de interesse" capaz de concretizar um projeto político.

Há obstáculos. O grande número de legendas, em contraste com o bipartidarismo dos EUA. O receio dos caciques de lançar muitos candidatos evangélicos e perder espaço para esses puxadores de voto. A competição entre as próprias igrejas. E a lamentável atuação, entre o folclore e o escândalo, de vários de seus representantes na política.

Mas a multiplicação dos fiéis (25 milhões), sua capacidade crescente de mobilização e o sonho de contar com esse eleitorado deixam ouriçada muita gente em Brasília.

O governo Lula associa os evangélicos à "nova cidadania" nas grandes cidades, dada a penetração da religião entre os milhões que ascenderam das classes D e C.

Com a encomendada desistência de Wagner Montes (PDT) nesta semana, o bispo Marcelo Crivella confirmou-se, ao mesmo tempo, como a ponta-de-lança do Planalto à Prefeitura do Rio e um novo ensaio do voto evangélico no Brasil.

Melchiades Filho, na Folha de S.Paulo.

Só 25 milhões de evangélicos? Estimativas conservadoras apontam 35 milhões...

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