QUANDO O assunto é amor, os italianos não têm rival. Aconteceu. Uns tempos atrás, representantes da espécie descobriram algo que deve ser partilhado e celebrado. Primeiro, a equipe do doutor Emmanuele Jannini descobriu que o ponto G existe mesmo. E, depois, acrescentou que ele não existe em todas as mulheres. Só em algumas. Paradoxal? Nem por isso. Mas vamos por partes. Ou, se preferirem, por pontos.
Caso não saibam, o ponto G era uma entidade mítica, como as fadas, os duendes ou os esquerdistas inteligentes, que os mapas anatômicos situavam, algures, entre a vagina e a uretra. Foi um alemão quem primeiro revelou o fato: em 1950, Ernst Gräfenberg, um ginecologista com longa experiência no assunto, explicava que certas mulheres eram capazes de atingir intensíssimos orgasmos vaginais, diferentes dos comuns orgasmos clitoriais.
Uma vez atingido esse ponto por machos talentosos e afortunados, as donzelas sentiriam um tremor de prazer com intensidade dez na escala Richter. Orgasmos múltiplos. Sincopados. Musicais. Dizem que dodecafônicos.
O problema estava em saber se o ponto G existia mesmo; se era possível encontrá-lo; e, uma vez encontrado, não perder o mapa do tesouro para a próxima viagem.
Durante 60 anos, em quartos anônimos de vilas ou cidades, organizaram-se expedições por montanhas de lençóis. Muitos partiram. Alguns regressaram para contar. E não houve macho com pretensões de sedutor que não tenha avançado pelo desconhecido, disposto a encontrar o cume e cravar nele a bandeira da consagração.
Não fui exceção na busca por esse tesouro. Tenho um nome a defender. Não como homem. Mas como português. E recordo os meus antepassados lusitanos, em busca de paragens míticas pelas águas dos descobrimentos e enfrentando monstros de todos os tamanhos e feitios. O ponto G era o meu caminho marítimo para a Índia. E eu era Vasco da Gama, explorando os mares do Sul, procurando dobrar o Cabo das Tormentas e vencer o Adamastor.
Eu sabia como navegar. Eu sabia a qualidade da minha embarcação. E tratava por tu as águas dos mares, como meus avós e bisavós, que deram novos mundos ao mundo, normalmente nove meses depois. Zarpava. Confiante. Mas o ponto G nem sempre surgia na linha distante do horizonte. A tripulação desesperava. "Ele não existe, capitão", diziam os meus homens, doridos e cansados depois de esforço épico, digno de um filme de Ben-Hur. Eu acendia um cigarro e tocava a sineta. Hora de recolher. "Talvez para a próxima", murmurava baixinho, como Ahab em busca da sua baleia.
Os italianos, que desde Marco Polo sempre estiveram à frente dos portugueses, publicaram na "New Scientist" a informação que faltava. Mulheres com orgasmos vaginais para um lado, mulheres sem orgasmos vaginais para o outro. E, no primeiro grupo, composto por 11 exemplares que juravam contato regular com a divindade, apuradas ultra-sonografias revelavam um espessamento do tecido uretrovaginal. Ponto G? Ele existe. Ele é visível. Alguém no laboratório deveria ter gritado: "Terra firme!".
Conseqüências da descoberta? Daqui por diante, as mulheres saberão que o ponto G não é mito nem recompensa; é questão de acaso na constituição orgânica, o que retira algum sentimento de culpa para donzelas insatisfeitas. E os homens estarão unidos nessa certeza. Para que viagens inúteis quando é possível investir em novas rotas e trajetos com benefícios para todas as partes?
Sejamos sinceros: a pílula libertou sexualmente as mulheres a partir da década de 60; a existência de um ponto G injustamente distribuído pela espécie liberta agora ambos os sexos em inícios do século 21. "Grazie, ragazzi."
fonte: UOL
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colaboração: Beto Ramos
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