25.3.08

Igreja neoprimitiva

Tiago, o apóstolo, acaba de chegar para o culto de domingo. Vestiu a sua melhor roupa, vestes talares, para se diferenciar dos outros que frequentam a igreja. Afinal, ele estaria na direção da igreja naquela noite, deveria se diferenciar. Quando chega na melhor carruagem da cidade com seus cavalos reais vê que outros apóstolos já haviam chegado, doze das melhores carruagens estavam reunidas no pátio do suntuoso templo de três pavimentos, feito com a nova unção que foi liberada através de um ato profético no ano passado.

Há um murmurinho do lado de fora, quando de repente aparece Matias, o apóstolo levita, tocando o seu shofar para que o culto tenha início.

Logo após os cânticos entoados por toda a congregação, cerca de duas mil pessoas, o culto da campanha da prosperidade tinha começado. Era o quinto domingo da campanha que tinha o objetivo de determinar a Deus a restituição daquilo que eles tinham direito.

Mateus, o ex-cobrador de impostos, assume o posto no púlpito. Vale a pena descrever aquele púlpito: cerca de quinze metros de comprimento por dez de largura, no centro um menorah em tamanho gigante, com um piso todo em mármore. E ainda, doze cadeiras com aparência de ouro.

Mateus usa de todas as suas técnicas aprendidas na antiga profissão para persuasão da entrega de ofertas. Benção sobre o que der, mesmo que seja a contragosto, e maldição sobre o que não der, mesmo se não tiver dinheiro. O dinheiro, dizia ele, seria revertido para um novo templo que estava sendo construído em Roma com o dobro de tamanho do atual, que estava localizado em Jerusalém.

Passado tal momento, Tiago passa a palavra para João, o discípulo amado, que estaria pregando naquela noite sobre quebra de maldição e cura interior. Era necessário lembrar ou relembrar aquilo que foi dito contra a sua vida, mesmo antes de se ter consciência, afinal isso estava atrapalhando sua vida no cotidiano.

Começa a oração sobre todos, enquanto levitas entoam uma música, dizia-se música de adoração, no meio dos levitas pode-se ver alguns gentios mas estavam a frente da igreja cantando, consequentemente eram levitas. Alguns judeus haviam questionado se tais gentios haviam se circuncidado para se auto proclamarem judeus levitas, esse tipo de questionamento só trazia dúvidas e confusões dentro da igreja, principalmente com os líderes. Expulsaram os judeus que faziam tais perguntas.

Enquanto pessoas estão recebendo novas unções e imitam animais no meio do templo, um demônio se manifesta, foi difícil perceber se era realmente um demônio. Constatada a possessão demoníaca é feita uma pausa no som. Tomé expulsaria o demônio naquela noite. Todos se sentam, estavam prestes a ouvir uma longa entrevista que começaria naquele momento.

Após todas as perguntas de praxe anotadas cuidadosamente em um pergaminho, que mais tarde serviria de ensinamento a igreja, deixaram a pessoa que estava possuída rosnando no meio do púlpito. Os santos ovacionam aquela cena com grande histeria, enquanto isso Tomé conversa com os demais apóstolos sobre o que estava acontecendo, é repreendido severamente. Volta e expulsa o demônio com alguns chavões bem conhecidos dos que ali congregavam.

Após a pregação e expulsão de demônios, Paulo fala sobre sua última viagem a Roma, tinha ido conversar com o Imperador sobre o novo templo. Novamente ratifica o que foi falado por Mateus, mas agora usando uma nova técnica que tinha aprendido quando ainda era fariseu. Fala sobre as práticas judaizantes que não deviam esquecer, mesmo sendo gentios.

Tiago já ao findar do culto, diz a igreja que naquela noite estava sendo liberada uma nova unção, assim como um novo título, para Pedro, pois havia uma promessa de Jesus sobre a vida dele, não seria mais apóstolo como os outros, mas sim Pai dos Apóstolos, e consequentemente Pai dos pais da igreja. Pedro a partir daquele momento seria o Papa da igreja primitiva.

Nos anúncios finais, Tiago mais uma vez lembra a igreja do seminário de batalha espiritual que estaria sendo ministrado naquela semana, haviam terminada a apostila com a última entrevista feita naquela noite. Seria realmente uma benção, assim como foi aquele culto de domingo, diziam os membros daquela igreja.

Raphael Rap, no blog Rapensando [via Infinita Highway]

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns pelo texto, Raphael: um retrato da confusão do meio que se diz neopentecostal, que se diz "escolhido", que se diz (e essa é de matar!) cristão!

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