UOL - "Inclassificáveis" é também uma resposta ao pragmatismo previsível das verdades absolutas a respeito de música?
Matogrosso: Eu não tenho esse tipo de preocupação e não sou dono da verdade. Estou apenas me colocando dentro do espectro da música brasileira com a minha verdade e com aquilo em que acredito. Essa questão não compete a mim. As pessoas é que vão ou não fazer esse julgamento.
UOL - Sua postura de enaltecer sua individualidade torna o material uma afirmação política?
Matogrosso: Resguardo minha individualidade em parte, pois aquilo ali reflete o meu pensamento. Sim, expressar o que se pensa e não seguir os ditames pré-estabelecidos é sempre transgressor. Eu sou assim e morrerei sendo. De uma maneira geral, acho que as pessoas não se expõem verdadeiramente e esse é o problema. Falo isso de uma forma bem genérica. Acho significativo você ver o trabalho de uma pessoa e saber quem é ela por trás daquilo, seus pensamentos, o que ela pretende. Não acho que seja uma obrigação, mas certamente isso é mais interessante.
UOL - Você é um artista veterano e consegue ser sucesso de público e crítica. A que atribui a razão do apelo de seu trabalho no decorrer das décadas?
Matogrosso: Eu não sei, só posso dizer que tudo é verdadeiro de minha parte. Não faço as coisas apenas para ganhar dinheiro. Quando me jogo nesses trabalhos, eu realmente acredito nos temas que abordo e me jogo com essa fé. É atraente as pessoas verem um artista totalmente entregue em cena. Acho que já confiam em mim e sabem que, se eu lanço um trabalho, é realmente alguma coisa interessante. Sabem que não vou perder meu tempo fazendo bobagem porque antes de tudo é uma questão individual que está em jogo. Pois isso, sempre há essa necessidade de apresentar material interessante, tanto em disco quanto nos palcos.
UOL - A resposta da audiência seria devido à transgressão comportamental que você simboliza há muitos anos?
Matogrosso: Não sei, acho que são várias coisas que devem chamar a atenção das pessoas. Não acho que a transgressão seja a razão, é apenas um dos fatores. Gostaria que as pessoas se manifestassem independentemente do ambiente dos shows. Mostro às pessoas que é possível existir de uma maneira diferente de 99% da população - que um pensamento diferente pode se manifestar no mundo. Então gostaria de influenciar as pessoas nesse sentido: sejam, vivam, existam plenamente, sem se submeter a critérios pré-estabelecidos. Quais são os critérios que estabelecem essas regras? Acredito que eu mesmo possa determinar meus limites e saber o que é bom ou ruim para mim - até o que me é permitido sou eu quem vai estabelecer.
trecho de entrevista de Ney Matogrosso ao UOL.
Já que estamos proseando hj s/ música, me chamou a atenção uma afirmação do cara: "Expressar o que se pensa e não seguir os ditames pré-estabelecidos é sempre transgressor. Eu sou assim e morrerei sendo". Bela lição.
26.3.08
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