A lufada divinamente compreensiva da literatura arquiteta argutamente a anarquia; arrasta os párias até o centro do palco, até o cume da tragicômica travessia humana. Seus gritos são finalmente libertos das amarras do silêncio forçado, sua voz é extravasada pela língua divina da poesia.
Enquanto a história distribui as batatas entre os vencedores, a poesia abuda o solo dos desvalidos. Enquanto aqueles se fartam de tubérculos, estes acolhem em casa a Poesia Encarnada.
As letras transtornam o mundo, insultam os poderosos, chicoteiam as hierarquias. No literato Jesus de Nazaré o amor é protagonizado por um desprezado Samaritano. Em Dostoiévski uma piedosa puta revela ao homicida o facho da redentora luz. Machado de Assis concede fraternalmente sua voz a um defunto enquanto Goethe torna pública as cartas atordoadas de um suicida. Thomas Hardy narra a história de um obscuro Judas e William Faulkner acompanha a travessia de uma adolescente carregando no ventre o filho da vergonha.
O Sermão do Monte é menos um sermão que uma obra literária. Jesus, o literato desprovido de pena, canta ali a imortalizada ode aos rejeitados. Bem-aventurados os samaritanos, os defuntos, os suicidas, os obscuros, bem-aventuradas as mães solteiras e as putas, porque deles, porque delas é o Reino da Poesia.
Alysson Amorim
20.4.08
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