23.4.08

Escritores não podem salvar nem o mundo

O escritor José Saramago afirmou nesta segunda-feira, em Lisboa, que "falta em Portugal espírito crítico" e defendeu o valor das "idéias que vão contra a maré".

As declarações do Prêmio Nobel da Literatura de 1998 foram feitas durante uma visita à exposição "José Saramago - A Consistência dos Sonhos", dedicada a sua vida e obra. A mostra, que reúne mais de 1.200 documentos, será inaugurada na quarta-feira, na Galeria de Pintura D. João 1º do Palácio da Ajuda, em Lisboa.

Em entrevista coletiva, Saramago falou durante mais de meia hora sobre as suas impressões em relação à mostra e a recuperação física após problemas graves de saúde pelos quais passou no fim do ano passado.

O autor ainda comentou sobre seu novo livro, "A Viagem do Elefante", que deve ser publicado no segundo semestre. "Desculpem-me as senhoras, não haverá história de amor", disse. "Os escritores não podem salvar nem o mundo nem o país em que vivem", afirmou, acrescentando que "há muito trabalho a fazer, e não é para restituir Portugal a um papel que só episodicamente teve, mas para que seja um lugar reconhecido".

Retorno

Ao lado do ministro luso da Cultura, José António Pinto Ribeiro, e do curador da exposição, Fernando Gómez Aguilera, também diretor cultural da Fundação César Manrique, Saramago disse estar "muito feliz por estar em Portugal".

"Tenho a reputação de ser uma pessoa seca, dura, antipática e de ser vaidoso. Mas eu sou um sentimental", disse, revelando o motivo que o levou a deixar o país, em 1993. "Fui tratado injustamente nesta nossa terra e sofria", afirmou.

"Este país é o exemplo de algumas coisas negativas, mas é o meu país. Descobri, há pouco tempo, que a língua mais bonita do mundo é o português. Talvez por viver no estrangeiro, comecei a saborear as palavras e a reconhecer a sua beleza melódica", salientou.

Para Saramago, "a língua é o ar que respiramos" e "há uma grande responsabilidade da imprensa na defesa da língua portuguesa, a de Camões".

Em relação ao acordo ortográfico, Saramago disse que já foi contra e a favor, mas que, fundamentalmente, esta nova reforma "é uma operação estética à língua" e que ele continuará a escrever da mesma forma - "os revisores que tratem disso". "Haverá facções contra e favor, mas não é tanto importante como a língua se apresenta, mas o que ela diz, o que propõe", disse.

Sobre o seu atual estado de saúde, comentou estar "ainda um pouco instável". "Quando estava na clínica, pesava 51 quilos. Já recuperei 12 ou 13. Eu parecia uma múmia andante. Não gostava de me ver assim. Estar aqui é um milagre", afirmou.

fonte: Lusa [via UOL]

Uau! Que inveja dos portugueses que vão visitar a exposição...

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