26.4.08

Esperança equilibrista (3)

Apesar de toda fé verdadeira engendrar sempre esperança e de até não ser possível sem ela, a esperança que, no meu caso, convive com minha fé, poderia, como a entendo e a vivo, prescindir de minha fé. Da mesma forma como homens e mulheres descrentes em Deus, mas profundamente amorosos da vida, se entregam à luta em favor da justiça, da paz e da boniteza do mundo, cheios de esperança.

A razão de ser de minha esperança radica na natureza inacabada de meu ser histórico. Inconcluso, mas consciente de minha inconclusão, me acho inserido num movimento permanente de busca.

Minha esperança se funda na impossibilidade de buscar desesperançadamente. É neste sentido que tenho afirmado que não sou esperançoso por pura teimosia, mas por uma questão de radicalidade ontológica.

A nossa esperança tem que ver com a nossa capacidade de decidir, de romper, de escolher, de ajuizar. Tornamo-nos seres éticos, conscientes, sonhadores, utópicos. Por isso, seres a quem a esperança faz falta.

Os gatos sempre correram atrás dos ratos, mas não se pode, falando-se de sua perseguição aos ratos, dizer que o fazem esperançadamente ou desesperançadamente. Os ratos simplesmente correm atrás dos ratos...

Paulo Freire, em Pedagogia da Tolerância (Unesp).

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