1.4.08

Inferno no Paraíso


Cubanos já podem até frequentar hotéis!

Governo também libera aluguel de carro; restrições eram vistas como humilhação pela população da ilha

O governo de Cuba levantou ontem uma das proibições mais impopulares à população da ilha - a que impedia os cubanos de freqüentarem hotéis para turistas. A decisão não foi anunciada pela a imprensa oficial, provavelmente numa tentativa de evitar chamar a atenção sobre as mudanças que estão sendo implementadas dia após dia na ilha. Gerentes e funcionários dos maiores hotéis do país, porém, confirmaram o que os rumores já haviam se encarregado de difundir de Havana a Santiago de Cuba. “Sim senhor. Os cubanos, afortunadamente, já podem se hospedar aqui”, disse a um repórter da agência EFE a recepcionista de um hotel administrado por um grupo espanhol na capital cubana.

Em outros hotéis, como o El Nacional, o Valencia e o requintado Ambos Mundos a ordem era a mesma: hospedar os cubanos que quisessem - e tivessem como pagar as diárias de até US$ 150 para um quarto simples, ou mais de sete vezes o salário médio dos cubanos. As empresas que alugam carros também haviam sido instruídas a atender a população local. Na tarde de ontem funcionários do governo explicariam, em uma reunião com os gerentes dos hotéis, o exato alcance da medida.

“Era absurdo que um cubano não pudesse se hospedar num hotel de seu país”, diz o mecânico Roberto Gonzáles, de 47 anos, que ontem já fazia planos para passar quatro dias com a família num hotel em Varadero. “Trabalho duro e agora poderei me permitir alguns luxos”, completou, lembrando, porém, que muitos de seus conterrâneos só podem sonhar com essa possibilidade. Como o salário médio é de US$ 19, apenas os cubanos que fazem “bicos”, atuam no mercado negro ou recebem dinheiro de parentes no exterior têm condições de pagar as diárias dos hotéis. Ainda assim, são pouquíssimos. “Ao menos o fato de que agora posso fazer isso algum dia, me alegra”, diz uma nutricionista, que ganha US$ 25.

Até agora, os cubanos só podiam se alojar com autorizações especiais ou a convite do governo - como prêmio por seu bom desempenho no trabalho ou presente de casamento, por exemplo. A proibição, vista por muitos como uma humilhação, estava em vigor desde os anos 90, quando foi adotada pelo líder Fidel Castro para impedir “o aumento das desigualdades sociais” no país. Cheirava a uma tentativa desastrada de ocultar a nítida linha que separa dois mundos: o primeiro, dos turistas, com praias ensolaradas, lagostas e quartos luxuosos. O segundo, dos cubanos, com suas casas precárias e alimentos racionados.

OUTRAS MEDIDAS

O fim da proibição para os cubanos freqüentarem hotéis faz parte de uma série de mudanças tomadas nas últimas semanas pelo atual presidente de Cuba, Raúl Castro, irmão de Fidel, para eliminar o que ele descreveu como um “excesso” de restrições na ilha.

No início do ano, o governo permitiu o comércio de aparelhos eletrônicos como computadores e DVDs, que começarão a ser vendidos em Cuba hoje. Pouco depois, levantou uma proibição para que agricultores possam comprar insumos como herbicidas e ferramentas. Na sexta-feira, autorizou também o serviço de telefonia celular para a população, benefício antes exclusivo de funcionários do governo e estrangeiros. A partir do dia 14, a população já terá acesso a linhas telefônicas por cerca de US$ 120.

MUDANÇAS NA ILHA

Agricultura: Governo prepara descentralização do setor e permite compra de insumos

Aparelhos eletrônicos: Havana suspende restrições à venda de alguns aparelhos, como computadores e DVDs

Telefones: Cubanos terão permissão para comprar telefones celulares em seu nome

Hotéis: Governo levanta proibição que impedia cubanos de freqüentarem hotéis para turistas


Aí, Pava. Será que os cubanos terão condições de se hospedar no Meliá, onde você fica toda vez que vai pra Havana?

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