1) Em seu livro, o senhor fala de emoção, afetividade, educação e relaciona tudo isso com o cinema. Como é possível um profissional de recursos humanos ou um líder numa empresa usar no dia-a-dia as informações do livro?
O livro não é um manual no estilo "Torne-se um líder através do cinema" ou "Melhore a performance da sua equipe com a ajuda de Hollywood". Na verdade o livro não traz soluções e, talvez, o que faça é apontar problemas e desafios para os quais o líder ou o gestor de RH terá de procurar soluções por conta própria. O objetivo de utilizar o cinema e esses conceitos no livro é provocar a reflexão do gestor-líder, animá-lo a usar a metodologia e, por meio dela, a encontrar as soluções para os seus problemas do dia-a-dia.
2) Por que o cinema foi o veículo escolhido?
O que o cinema faz é revelar os problemas, colocá-los à flor da pele, trazê-los para o primeiro plano. Mas os desafios terão de ser resolvidos individualmente. A missão do líder é colocar as pessoas de frente para os problemas, ajudá-las a "subir na mesa" como faz Keatings em Sociedade dos Poetas Mortos, para que vejam o mundo de outro modo e assumam a própria responsabilidade diante das suas ações. É aí que o cinema entra como ferramenta. Vale lembrar que o cinema arranca desejos profundos, motiva para grandes sonhos, para novos desafios.
3) O senhor acredita que podemos mesmo compartilhar sentimentos dentro de ambientes tão competitivos, e muitas vezes hostis, como os das empresas na era global?
A globalização e a competição são situações e processos, cenários onde os players, como se diz modernamente, devem atuar. Mas não devemos esquecer que o ser humano - a natureza humana - continua sendo o mesmo. Isso é filosofia, e filosofia clássica; o que nos permite conhecer o ser humano, seus desejos e anseios, seus sonhos, trabalhar suas emoções, enfim, chegar ao que realmente importa. Veja, por exemplo, as decisões vitais. Mesmo na era globalizada ninguém pede o currículo a outro para ver se casa com ele ou se vai ser amigo dele. O que realmente importa para essas decisões está muito além do processo competitivo e globalizante, é algo que não se pode medir - e muito menos recolher num currículo.
4) O uso da emoção bem trabalhada pode ser um diferencial na carreira do executivo?
É sem dúvida um diferencial. Por meio das emoções conseguimos chegar ao núcleo da pessoa, atingir o que realmente importa - a motivação -, e partindo daí é possível construir uma carreira melhor. E também ajudar as pessoas a se tornarem melhores. Esta é a função do líder: ajudar as pessoas a atingir seus objetivos, facilitar o caminho, não deixá-las desistir. Isso é interesse real pelas pessoas e o único caminho para um executivo ser visto como um verdadeiro líder, um promotor de pessoas.
5) As empresas estão mesmo interessadas na formação de seus funcionários?
Recentemente assisti a algumas sessões de um curso para alta direção de empresas no Iese Business School, em Barcelona, Espanha. Comentaram-se casos reais de liderança e posso afirmar que o denominador comum dos que triunfaram é ter uma preocupação real pelas pessoas que trabalham a sua volta. Um diretor de uma companhia importantíssima comentou que a sua missão na vida era descobrir talentos e promovê-los. Algo que pode parecer pouco para quem está preocupado com o seu ego, mas que faz toda a diferença na hora de liderar uma equipe. Veja, por exemplo, o impacto que pode ter uma cena como o final de O Resgate do Soldado Ryan. Tom Hanks, o capitão, está morrendo. O soldado Ryan inclina-se sobre ele. E o capitão apenas lhe diz: "James, faça por merecer". Quarenta anos depois, James Ryan comparece ao cemitério acompanhado da sua família: filhos e netos. Esse é o seu currículo, o que ele andou fazendo nestes anos. E vem prestar contas: "Todos os dias penso no que você me disse aquele dia na ponte. Procurei viver a minha vida do melhor modo possível. Espero que pelo menos diante dos teus olhos eu tenha ganho o que todos vocês fizeram por mim". E, não satisfeito, procura a avaliação doméstica da sua vida, de que fez por merecer, e convoca a sua mulher e lhe diz: "Diga que a minha vida prestou para algo, que tive uma vida digna". O capitão - que era na vida civil um professor - educou Ryan com essa simples frase - "faz por merecer" - e com o seu exemplo de vida. Para qualquer um que pense nesse contexto, baste lembrar que faça por merecer, para que tudo venha à tona na cabeça e no coração.
6) Gostaria que o senhor comentasse sobre o personagem principal de três filmes que cita em seu livro, contando aos internautas o que esses personagens, tão distantes do mundo corporativo, podem acrescentar ou até mesmo ensinar ao profissional que busca construir uma carreira de sucesso. Os filmes são: Forrest Gump, O Show de Truman e O Rei Leão.
Forrest Gump é o sonho e o amor. "Não sou inteligente, mas sei o que é amar", diz Forrest. Amar é dedicar-se de corpo e alma àquilo que se sabe fazer bem. O sucesso de Forrest é dedicação, e não inteligência nem currículo. É alguém que vive intensamente o momento presente.
Truman é o ideal, um ensaio sobre a liberdade humana. Decide viver sua vida, sair do faz-de-conta, da mesmice, da mediocridade, presentes na vida e nas corporações. Todos gostariam de ser Truman, mas isto não é para qualquer um, é para poucos. E, quando Truman navega rumo à liberdade, o controlador do show aumenta o vento e provoca a tempestade, Truman se amarra ao barco, e isso o salva. Quer dizer que ele foi salvo por seus ideais.
Em O Rei Leão, Simba está na boa vida, e não quer assumir que cresceu. O macaco Rafiki lhe interroga e pergunta "Quem é você?". Não é uma resposta que vem pronta, fabricada. O gestor, o líder de equipe, deve incentivar a busca dos profissionais por essa resposta.
7) Para finalizar, gostaria de umas palavras suas sobre educação, cinema e prazer.
O tema é importantíssimo. Afinal, por que vamos pensar que tudo o que é útil tem de ser aprendido com sacrifício e dor? É possível orientar as pessoas num ambiente de prazer, motivação e, o mais importante, onde se desperte na equipe um verdadeiro desejo de ser melhor. Mas para tudo isso é preciso metodologia, não é algo que se possa improvisar. É um processo que requer habilidade e tato.
fonte: Você S/A
Um comentário:
Não tenho a menor dúvida que o cinema tem lições a ensinar aos profissionais!
Imagine um empresário, ou o CEO de uma grande corporação com o comportamento do rei Julien, monarca dos curiosos lêmures, no filme MADAGASCAR de Eric Darnell e Tom McGrath? É desastroso quando um líder pensa saber tudo e que pode impor seus planos "estratégicos".
Sorte quando um empresário assim tem ao seu lado um Maurice, dando uns toques que a casa vai cair.
Abração SERGIO!
http://jamiersonoliveira.blogspot.com/
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