Luiz Maklouf Carvalho, na ótima Revista Piauí
O negócio de Antoninho Tatto, católico fervoroso, é arrecadação de dízimo. “O dízimo é caso sagrado e consagrado”, costuma dizer. Nos últimos 25 anos, ele vem pregando as maravilhas da contribuição religiosa em milhares de paróquias do Brasil e do mundo: Boston, Londres, Maputo e Lima.
Quando não está cuidando de sua empresa de contabilidade – que, segundo diz, tem uma carteira de 400 clientes e fatura 3 milhões de reais por ano –, Antoninho atua como missionário arrecadador. Embora não seja badalada como as pastorais sociais, a Pastoral do Dízimo foi oficializada pela CNBB, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, na década de 70. Acatava o quinto mandamento da Igreja Católica: “Pagar dízimos conforme o costume.” Em 2005, o papa Bento XVI alterou a redação para “Atender as necessidades materiais da Igreja, cada qual segundo as próprias possibilidades” – ou seja, ldquo;dízimo” não precisa ser a décima parte do que se ganha. A recomendação oficial da CNBB é que se implante a cobrança em todas as paróquias, para que elas se tornem auto-sustentáveis.
Aos 59 anos, Antoninho não é o mais conhecido dos dez irmãos Tatto. A família, de origem gaúcha, tem um Arselino vereador, um Enio deputado estadual e um Jilmar deputado federal, todos do PT paulista, partido em que também trabalha um Jair vice-presidente da direção estadual.
Antoninho é filiado ao PT, mas “por insistência” dos irmãos, esclarece. As relações da família Tatto com o presidente Lula podem ser conferidas em fotos penduradas na parede do escritório de Antoninho, o dizimista, em São Paulo. Uma delas, de 1999, mostra Lula de chapéu de palha entre ele e o irmão Arselino. Em outras duas, datadas do ano seguinte, o futuro presidente, de camisa pólo vermelha, posa sorridente com o anfitrião numa manhã ensolarada. “Nesse dia ele ainda não tinha resolvido ser candidato novamente”, diz. “Acho que a nossa conversa ajudou.”
No ano passado, Lula fez forfait na festa de 80 anos da matriarca Tatto, dona Inês, por quem declara uma admiração incondicional, talvez por ver na trajetória dela um espelho da sua própria: da pobreza extrema a uma vida de conforto e segurança. A maior autoridade petista do evento foi o ex-ministro José Dirceu. Muitos convidados estranharam. Na luta interna do partido, os Tatto e a turma de Dirceu costumam se cumprimentar de nariz tapado. Aliados da família acreditam que houve dedo de Dirceu nas acusações que expuseram os irmãos Tatto ao vendaval de alguns escândalos, como, por exemplo, a denúncia de desvio de salário de um funcionário do gabinete de Arselino, ou o envolvimento de Jilmar, secretário de Transportes na gestão da prefeita Marta Suplicy, com a máfia das vans. “Nada ficou provado. Por eles eu boto a mão no fogo”, diz Antoninho.
Loiro de olhos claros e discretas entradas na testa, ele aparenta menos idade. Fala pelos cotovelos, sem vôos de estilo, num tom monocórdio. Antoninho escreveu nove livros sobre o dízimo, todos publicados pela editora O Recado, de sua propriedade, e diz que vendeu cerca de 3,5 milhões de exemplares.
“Eu odiava o dízimo”, afirmou. Para ilustrar seu caminho rumo à defesa do que antes abominava, lembrou a infância pobre, nos pampas gaúchos, e a visita anual do padre para cobrar a contribuição, o que sempre constrangia a família. “Não tínhamos dinheiro para dar e também não conseguíamos dizer não. Eu não entendia aquilo”, disse. “Achava que a Igreja era rica e que os padres não precisavam de dinheiro.”
Movido por “uma curiosidade em decifrar a origem dos recursos religiosos”, ele se propôs a trabalhar como contador da paróquia de Santo Amaro. Em seguida, começou a cuidar da diocese e da arquidiocese de São Paulo. Nesta última, foi convidado por d. Paulo Evaristo Arns, de quem afirma ter se tornado “o braço direito nessas questões”. Não sabia, mas já estava na sua estrada de Damasco. E, como Paulo, teve uma revelação: “Descobri que a Igreja não tinha dinheiro sobrando e entendi a importância do dízimo na sustentação do trabalho pastoral.” Passou a contribuir com 3%.
Nos seis meses seguintes, Antoninho se dedicou a esquadrinhar a Bíblia para identificar as passagens que tratavam do assunto. Gastou alguns cadernos de espiral com as notas. O trabalho resultou num livrinho de noventa páginas intitulado Dízimo e Oferta na Comunidade. Está na 85ª edição e, de acordo com o autor, já bateu os 2,5 milhões de exemplares.
Convencido de que o dízimo é um dever do fiel, aumentou o percentual, passando para os 10%. Segundo conta, o milagre veio em seguida: a cura da filha de três anos, que sofria de uma doença grave no cérebro. Duas décadas depois, testemunhou a repetição da graça: a neta enfrentou um mal sério nos rins e se curou. A história é narrada em outro de seus livros, O Milagre Aconteceu, cuja capa traz a menina num jardim, posando ao lado de um dos sete anões.
No final da década de 80, com o apoio de d. Paulo, Antoninho resolveu criar, em companhia de outros ativistas católicos, o Instituto Missionários para Evangelização e Animação de Comunidade. “Já pregamos o Evangelho em mais de 6 mil paróquias de todo o Brasil”, contou. O dízimo está implantado em 2 100.
Quando uma paróquia o contrata para ensinar a instituir o dízimo sem melindrar os fiéis, Antoninho ganha passagem, hotel e pró-labore, além do compromisso dos padres de comprar o “kit dízimo”: um calendário colorido impresso em ótimo papel – “O de 2008 já vendeu mais de 500 mil unidades!” – e os livros de sua editora sobre o assunto. O mais popular deles, que custa 3 reais, já lhe rendeu 7,5 milhões de reais. Esses conhecimentos também podem ser absorvidos através de vídeos produzidos por seu estúdio de televisão. Um deles ensina técnicas para conquistar novos dizimistas ou fazê-los aumentar o percentual de contribuição. Por exemplo: mandar um cartão no dia do aniversário do fiel, “de preferência assinado pelo padre”.
Antoninho gosta do padre Marcelo Rossi e diz ter identificado nele, bem antes de o religioso virar um pop star, seu enorme talento como animador de platéias. Também admira o bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, “mas apenas como o brilhante empresário que é”. Antoninho critica o caráter compulsório que a Universal atribui ao dízimo: promete-se o fogo do inferno a quem recusa a contribuição. “Também não é assim”, diz. “Se puder ser 10%, melhor” – mas ele garante que ninguém vai se danar se der menos.
Quando não está cuidando de sua empresa de contabilidade – que, segundo diz, tem uma carteira de 400 clientes e fatura 3 milhões de reais por ano –, Antoninho atua como missionário arrecadador. Embora não seja badalada como as pastorais sociais, a Pastoral do Dízimo foi oficializada pela CNBB, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, na década de 70. Acatava o quinto mandamento da Igreja Católica: “Pagar dízimos conforme o costume.” Em 2005, o papa Bento XVI alterou a redação para “Atender as necessidades materiais da Igreja, cada qual segundo as próprias possibilidades” – ou seja, ldquo;dízimo” não precisa ser a décima parte do que se ganha. A recomendação oficial da CNBB é que se implante a cobrança em todas as paróquias, para que elas se tornem auto-sustentáveis.
Aos 59 anos, Antoninho não é o mais conhecido dos dez irmãos Tatto. A família, de origem gaúcha, tem um Arselino vereador, um Enio deputado estadual e um Jilmar deputado federal, todos do PT paulista, partido em que também trabalha um Jair vice-presidente da direção estadual.
Antoninho é filiado ao PT, mas “por insistência” dos irmãos, esclarece. As relações da família Tatto com o presidente Lula podem ser conferidas em fotos penduradas na parede do escritório de Antoninho, o dizimista, em São Paulo. Uma delas, de 1999, mostra Lula de chapéu de palha entre ele e o irmão Arselino. Em outras duas, datadas do ano seguinte, o futuro presidente, de camisa pólo vermelha, posa sorridente com o anfitrião numa manhã ensolarada. “Nesse dia ele ainda não tinha resolvido ser candidato novamente”, diz. “Acho que a nossa conversa ajudou.”
No ano passado, Lula fez forfait na festa de 80 anos da matriarca Tatto, dona Inês, por quem declara uma admiração incondicional, talvez por ver na trajetória dela um espelho da sua própria: da pobreza extrema a uma vida de conforto e segurança. A maior autoridade petista do evento foi o ex-ministro José Dirceu. Muitos convidados estranharam. Na luta interna do partido, os Tatto e a turma de Dirceu costumam se cumprimentar de nariz tapado. Aliados da família acreditam que houve dedo de Dirceu nas acusações que expuseram os irmãos Tatto ao vendaval de alguns escândalos, como, por exemplo, a denúncia de desvio de salário de um funcionário do gabinete de Arselino, ou o envolvimento de Jilmar, secretário de Transportes na gestão da prefeita Marta Suplicy, com a máfia das vans. “Nada ficou provado. Por eles eu boto a mão no fogo”, diz Antoninho.
Loiro de olhos claros e discretas entradas na testa, ele aparenta menos idade. Fala pelos cotovelos, sem vôos de estilo, num tom monocórdio. Antoninho escreveu nove livros sobre o dízimo, todos publicados pela editora O Recado, de sua propriedade, e diz que vendeu cerca de 3,5 milhões de exemplares.
“Eu odiava o dízimo”, afirmou. Para ilustrar seu caminho rumo à defesa do que antes abominava, lembrou a infância pobre, nos pampas gaúchos, e a visita anual do padre para cobrar a contribuição, o que sempre constrangia a família. “Não tínhamos dinheiro para dar e também não conseguíamos dizer não. Eu não entendia aquilo”, disse. “Achava que a Igreja era rica e que os padres não precisavam de dinheiro.”
Movido por “uma curiosidade em decifrar a origem dos recursos religiosos”, ele se propôs a trabalhar como contador da paróquia de Santo Amaro. Em seguida, começou a cuidar da diocese e da arquidiocese de São Paulo. Nesta última, foi convidado por d. Paulo Evaristo Arns, de quem afirma ter se tornado “o braço direito nessas questões”. Não sabia, mas já estava na sua estrada de Damasco. E, como Paulo, teve uma revelação: “Descobri que a Igreja não tinha dinheiro sobrando e entendi a importância do dízimo na sustentação do trabalho pastoral.” Passou a contribuir com 3%.
Nos seis meses seguintes, Antoninho se dedicou a esquadrinhar a Bíblia para identificar as passagens que tratavam do assunto. Gastou alguns cadernos de espiral com as notas. O trabalho resultou num livrinho de noventa páginas intitulado Dízimo e Oferta na Comunidade. Está na 85ª edição e, de acordo com o autor, já bateu os 2,5 milhões de exemplares.
Convencido de que o dízimo é um dever do fiel, aumentou o percentual, passando para os 10%. Segundo conta, o milagre veio em seguida: a cura da filha de três anos, que sofria de uma doença grave no cérebro. Duas décadas depois, testemunhou a repetição da graça: a neta enfrentou um mal sério nos rins e se curou. A história é narrada em outro de seus livros, O Milagre Aconteceu, cuja capa traz a menina num jardim, posando ao lado de um dos sete anões.
No final da década de 80, com o apoio de d. Paulo, Antoninho resolveu criar, em companhia de outros ativistas católicos, o Instituto Missionários para Evangelização e Animação de Comunidade. “Já pregamos o Evangelho em mais de 6 mil paróquias de todo o Brasil”, contou. O dízimo está implantado em 2 100.
Quando uma paróquia o contrata para ensinar a instituir o dízimo sem melindrar os fiéis, Antoninho ganha passagem, hotel e pró-labore, além do compromisso dos padres de comprar o “kit dízimo”: um calendário colorido impresso em ótimo papel – “O de 2008 já vendeu mais de 500 mil unidades!” – e os livros de sua editora sobre o assunto. O mais popular deles, que custa 3 reais, já lhe rendeu 7,5 milhões de reais. Esses conhecimentos também podem ser absorvidos através de vídeos produzidos por seu estúdio de televisão. Um deles ensina técnicas para conquistar novos dizimistas ou fazê-los aumentar o percentual de contribuição. Por exemplo: mandar um cartão no dia do aniversário do fiel, “de preferência assinado pelo padre”.
Antoninho gosta do padre Marcelo Rossi e diz ter identificado nele, bem antes de o religioso virar um pop star, seu enorme talento como animador de platéias. Também admira o bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, “mas apenas como o brilhante empresário que é”. Antoninho critica o caráter compulsório que a Universal atribui ao dízimo: promete-se o fogo do inferno a quem recusa a contribuição. “Também não é assim”, diz. “Se puder ser 10%, melhor” – mas ele garante que ninguém vai se danar se der menos.
5 comentários:
Ei Alysson, onde vc acha essas coisas??
Realmente, "Deus" dá dinheiro...
A internet, Roger. Talvez não seja exagero atribuir a ela o título de divisora de águas na "democratização da informação", tal como foi a imprensa de Gutenberg no Quinze.
Você autorizaria a utilização desse texto no meu blog: www.dizimoparasociedade.blogspot.com ?
abr@ços
A. B.
Claro que sim, Álvaro!
Abs
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