“Moço, compra pra me ajudar, vai!“
Você seria capaz de adivinhar onde ouvi isso? Talvez uma criança vendendo alho, ou um senhor de idade vendendo bilhete de ônibus? Nada disso. Ouvi de uma vendedora de uma grande loja de varejo. Eu estava bem empolgado pela compra de uma liquidificador quando a vendedora me ofereceu um seguro adicional de mais um ano além da garantia de fábrica, no valor de R$15,00. Não aceitei. Ela insistiu. Agradeci novamente, mas disse delicadamente que não aceitava comprar um seguro em uma loja de eletrodoméstico.
Papo vai, papo vem, e decidi comprar um ferro de passar roupas. Ela me ofereceu o seguro do tal do ferro e, mais uma vez, neguei. Conversamos mais um pouco sobre a qualidade do material antiaderente do conjunto de panelas e, sentido-se mais à vontade comigo, confessou que sua cabeça iria rolar caso ela não vendesse os seguros. Fiquei surpreso com a sinceridade dela e pedi para que me explicasse mais sobre aquilo, o que me deixou indignado.
Indignado por três motivos. Pelas lojas de varejo camuflarem seu principal negócio, que é a venda de serviços financeiros, seguindo a tradição brasileira de dificilmente as coisas serem realizadas às claras, pela pressão que a vendedora estava submetida de vender um serviço financeiro (o seguro), sendo que era vendedora de móveis e eletrodomésticos, e pela vendedora ter transferido seu problema para outra pessoa - aliás, um hábito bem brasileiro também - ao pedir para que eu lhe ajudasse, comprando os seguros.
No Brasil, a frase “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa completamente diferente”, já não é mais bem assim.
fonte: Notas de Mauricio C. Serafim
28.4.08
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