20.4.08

Santarrões desgovernados

De todos os santarrões hipócritas que empesteiam o mundo, os piores ainda são aqueles que ostentam no vidro do carro aquele adesivo “Em caso de arrebatamento, este carro ficará desgovernado”. Questão de lógica: se o cara acredita mesmo que Jesus Cristo vai abduzir seus seguidores de uma hora para outra, sem que seja possível determinar o momento com antecedência, então por que sai por aí dirigindo? Que cristão é esse, que mantém a vida dos outros em constante perigo? Não importa se os que vão ficar são os infiéis: o amor cristão é para todos, então ameaçar a vida dos incréus é um pecado muito sério.

Então chegamos a um paradoxo: se o sujeito for mesmo arrebatado, pode muito bem causar a morte de várias pessoas. Matar é um pecado e, como ele não teve tempo de se arrepender, vai para o inferno. Como é que fica a logística do Barbudão lá em cima? Será que tem que emitir nota fiscal de remessa para o capeta?
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Deus pode até não ser onipresente, mas o adesivo “Deus é fiel” é. E repare na distribuição socioeconômica: esse úbiquo adereço está sempre grudado ou em carros novos em folha (porque o proprietário acredita que o veículo foi uma dádiva dos céus) ou em latas velhas (porque o pobre dono acha que vai conseguir um carro novo se começar pelo adesivo). Pode procurar, você não vai encontrar essa frase em um Corsa 2003. Nós, que dirigimos carros “seminovos” (latas velhas que ainda pagam IPVA), somos a nata do ceticismo nacional.
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Dia desses, andando ali pelo Pacaembu, um carro emparelhou comigo. O motorista, coitado, estava entrando em desespero com aquelas ruas tortuosas que parecem terminar todas no mesmo lugar.

— Amigo, como é que eu chego na Angélica?

— Não é difícil, mas vai arrumar encrenca com o Luciano Huck.

— …

— Er… Vai direto aqui, vira à direita na Estrela de Davi, vai subindo que você sai lá.

— Obrigado.

— De nada. Desculpe a… Ah, porra.

Enquanto ele se afastava, vi no vidro traseiro o adesivo “Dirigido por mim, guiado por Jesus”. Bom, o guia não parece ser de muita ajuda em São Paulo, mas se um dia ele for para Jerusalém nem vai precisar pedir informações.

Marco Aurélio, no Jesus, me chicoteia!

Um comentário:

Anônimo disse...

gente, esse blog é meio confessionario! mais uma utilidade.

sabe, estou chegando a conclusao q a teologia da prosperidade é uma otima ideia de se justificar as diferencas sociais. pq se vc tem muito, é pq vc eh um abencoado, vc fica livre de se importar com o outro. afinal, o outro deve fazer o mesmo q vc, buscar em Deus. se ele nao achar a culpa eh dele mesmo. ou seja, acaba legitimando a omissao de quem tem mais. nao q todos sigam isso, mas podem seguir. meio perverso, neh?

me lembro que gdes homens de Deus e Jesus se importaram com as necessidades das pessoas.

sei lá, no meio disso acho q há muito engano, extras que querem colocar na palavra de deus que deixam ela com um gosto horrivel.

a palavra é um alimento perfeito, alterações estragam essa comida.

como eh?

acautelai-vos do fermento dos fariseus.

como podemos ver, ela está viva!

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