23.4.08

Subindo vou

O padre Adelir De Carli, de 41 anos, foi expulso da escola de vôo livre Vento Norte, em Curitiba, há cerca de três anos por indisciplina e exibicionismo. É o que conta Márcio André Lichtnow, instrutor responsável pelo curso de parapente que teve o padre como aluno. Carli desapareceu no último domingo no litoral de Santa Catarina depois de ter decolado de Paranaguá impulsionado por balões de gás hélio.

"Ele era indisciplinado e não participava das aulas teóricas, que são fundamentais para se compreender as questões meteorológicas. Ele não tinha nada de humilde, se acha o bom, o que conhecia tudo, o que sabia tudo. Parecia um playboy", diz Lichtnow. O instrutor afirma que o padre fez dez horas de aulas práticas e quatro horas de aulas teóricas. Para completar o curso precisaria de 40 horas de prática e 30 horas de teoria.

Durante uma filmagem para reportagem da TV local há cerca de dois anos, o padre fez uma demonstração e, segundo Lichtnow, desobedeceu as orientações de vôo. "Expulsei ele do curso, porque neste dia falei para ele voar até o local do pouso e, da cabeça dele, ele resolveu voltar para o morro do Boi, em Caiobá, litoral paranaense, em uma corrente de vento ascendente. Ele voltou para o lado errado do morro, na parte de trás, bateu nas árvores e ficou pendurado.

Quando os bombeiros chegaram para fazer o boletim de ocorrência, ele disse que o instrutor havia orientado e atrapalhado o vôo", explica, ressaltando que havia testemunhas no local e a expulsão seguiu cláusula de contrato do curso de vôo livre que prevê desligamento quando o aluno coloca-se em perigo ou oferece perigo a terceiros.

Lichtnow conta ainda que o padre o procurou para falar dos planos de voar a partir de Paranaguá (PR). "Falei para ele que decolando dali o único lugar que ele poderia pousar era na África do Sul, porque é para lá que os ventos levam. Mas ele disse que já havia estudado tudo e eu achei que era brincadeira", lembra.

De acordo com o instrutor, todas as condições eram desfavoráveis ao vôo de balão. "Foi de um amadorismo impressionante, ele não fez avaliação nenhuma: no ato da decolagem, ele não avaliou o vento, porque já decolou indo para o oceano; não avaliou a cobertura de nuvens do tipo nimbostratus, porque no dia havia uma frente fria que deixa o ar turbulento e com muita concentração de água; não avaliou a temperatura, porque o gás hélio em temperaturas baixas diminui de volume e força a descida.

Além disso, ele invadiu o espaço aéreo brasileiro e poderia ter batido e derrubado um avião", analisa. Pelas imagens divulgadas pela imprensa, Lichtnow calcula que o padre Carli atingiu 5.800 metros de altura e a temperatura nesta faixa era de aproximadamente -25ºC, dadas as condições meteorológicas.

"Fiquei bem menos católico depois de conhecer o padre", finaliza o instrutor, que faz questão de dissociar a figura de Adelir De Carli da escola de vôo. "Ele tentou ser meu aluno, mas não foi aceito".

fonte: UOL

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