18.5.08

Boff destaca a indignação de Lutero

Ao receber o primeiro título de doutor “honoris causa” de uma instituição brasileira, o teólogo católico Leonardo Boff destacou a atualidade do reformador Martim Lutero e do princípio protestante da indignação. “A teologia de Lutero é boa para a humanidade sofredora. Ele foi um mestre da fé e a voz que clama pela renovação espiritual”, frisou.

As Faculdades EST (Escola Superior de Teologia) outorgaram a honraria ao teólogo católico em reconhecimento ao seu compromisso ecumênico nascido a partir do diálogo com a teologia protestante e à reflexão entre teologia e ecologia.

A cerimônia, coordenada pelo presidente do Conselho de Administração das Faculdades EST, empresário Hilmar Kannenberg, teve lugar no auditório do Colégio Sinodal, no Morro do Espelho, em São Leopoldo. O reitor da EST, professor Oneide Bobsin, salientou que o momento era de celebração e exaltação do Evangelho.

Ao apresentar o homenageado, o professor Rudolf von Sinner disse que Leonardo Boff fez ecoar a voz pioneira na luta pela preservação do meio ambiente e a construção de um outro mundo possível. Sinner destacou que os pensamentos e a teologia de Boff estão presentes na reflexão de teólogos luteranos em teses e dissertações. “Ele escreve e suscita livros, fazendo conciliar a ternura humana com o rigor do aprendizado”, agregou.

Ao agradecer a homenagem, Boff disse estar honrado em receber o título de doutor “honoris causa” de uma instituição luterana que, assinalou, mantém um nível de reflexão teológica à altura dos grandes centros metropolitanos do pensamento. Lutero, frisou o doutor honoris causa, apresentou um Deus que se acerca dos oprimidos, abrindo espaço para a esperança da humanidade, que se traduz na resistência e na busca da vida e da libertação.

Ao proferir a palestra de abertura do Seminário Ética e Participação Cidadã, na quarta-feira, 14, Boff declarou que a humanidade passa por um processo de mundialização. O fenômeno, além de demarcar a construção de um mercado globalizado, diz respeito também a uma etapa avançada em que os seres humanos se encontram enquanto família e fundam uma nova história, definiu.

Frente aos desafios da época, a lei suprema deve ser a cooperação entre povos, nações e religiões, defendeu Boff. Enquanto habitantes de uma única casa comum, a humanidade está convocada a atuar com ética e a assumir a missão de Deus de ser “jardineiro e guardião de todas as coisas”. “Eu não posso mudar o mundo, mas posso mudar este pequeno espaço de mundo que sou eu”, sublinhou.

Inseridas no contexto de um planeta ameaçado pelo fenômeno do aquecimento global e pela escassez de recursos hídricos, as igrejas têm uma função pedagógica a cumprir, principalmente quanto ao despertar de uma consciência ecológica junto aos jovens. “As igrejas devem atuar como escolas de respeito, reverência e conservação do criado, anunciando uma vida simples e o uso racional e solidário dos recursos naturais”, propôs.

Como um dos principais teólogos da libertação conhecidos no Brasil, Boff destacou a necessidade de cuidado para com os mais fracos, a fim de evitar o “darwinismo social”. “Precisamos preservar o fraco que revela traços do Criador, pois a lei suprema do universo prevê a colaboração de todos aqueles que integram essa gigantesca rede de vida”, definiu.

Como operador do ato de criação, o Deus revelado se comunica com a humanidade, participando das dores e das tristezas do Universo. “Deus pode até não explicar o mal, mas carrega a cruz junto a toda a criação”, afirmou Boff.

Em São Leopoldo, o teólogo da libertação ministrou o seminário “Leonardo Boff e a Teologia Protestante”, de 12 a 16 de maio, e abriu o Seminário Ética e Participação Cidadã, que se estende até o dia 21 de junho nas instalações da EST e do Círculo Operário Leopoldense (COL), em São Leopoldo.

Participaram da cerimônia de outorga do título doutor honoris causa o prefeito de São Leopoldo, Ari José Vanazzi, o pró-reitor acadêmico da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), padre Pedro Gilberto Gomes, o pró-reitor acadêmico da Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, professor Edgar Hammes, o pastor primeiro vice-presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), pastor Homero Severo Pinto.

Leonardo Boff é natural de Concórdia, Santa Catarina, e em dezembro completará 70 anos de vida. Doutorou-se em Teologia e Filosofia na Universidade de Munique, Alemanha, em 1970. Ingressou na Ordem dos Frades Menores, franciscanos, em 1959.É doutor honoris causa em Política pela Universidade de Turim, Itália, e em Teologia pela Universidade de Lund, Suécia. Em 1984, foi submetido a processo pela Sagrada Congregação para a Defesa da Fé, presidida pelo então cardeal Joseph Ratzinger, hoje papa Bento XVI, em razão de suas teses ligadas à Teologia da Libertação, apresentadas no livro “Igreja: Carisma e Poder”.

Em 1985, foi condenado a um ano de "silêncio obsequioso" e deposto de todas as suas funções editoriais e de magistério no campo religioso. Dada a pressão mundial sobre o Vaticano, a pena foi suspensa em 1986, podendo retomar algumas de suas atividades. Em 1992, ameaçado com uma segunda punição pelas autoridades de Roma, Leonardo renunciou às atividades de padre e se autopromoveu ao estado leigo. Em 1993, prestou concurso e foi aprovado como professor de Ética, Filosofia da Religião e Ecologia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Ele é autor de mais de 60 livros nas áreas de Teologia, Espiritualidade, Filosofia, Antropologia e Mística. A maioria de sua obra está traduzida para os principais idiomas modernos.

fonte: ALC

Um comentário:

Unknown disse...

Boff não comentou também que Lutero foi um "darwinista" ao purificar a humanidade de alguns camponeses e judeus?

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