18.5.08

Como uma deusa

O primeiro me chegou como quem vem do florista
Trouxe um bicho de pelúcia, trouxe um broche de ametista
Me contou suas viagens e as vantagens que ele tinha
Me mostrou o seu relógio, me chamava de rainha
Me encontrou tão desarmada que tocou meu coração
Mas não me negava nada, e, assustada, eu disse não
Chico Buarque
Faz algum tempo venho prometendo uma análise filosófico-teológica da música Teresinha do Chico Buarque. Tudo começou com aquela demência minha de querer arranjar uma namorada. Sabe como é né. Sou um homem, cristão, tímido e intelectual. Isso já faz tempo, o Vinicius e o Thiago e o Guilherme sabem é pra antes de 2006 essa história toda.

Tenho hoje 23 anos e nunca namorei. Sobrei – quase – só eu dos “últimos abeuenses virgens”. Isto não é um confessionário; mas ajuda a entender a complicação toda na qual me meti. Tentar entender as mulheres, tentar entender como se faz para conquistar uma dama. Não sei em que ponto desta história (e naquele momento não estava sozinho, estávamos todos lá) comparamos a mulher com a graça. Quer dizer, o que se faz para conquistá-la, em suma, não é uma técnica ou um esforço meritório. Aquilo que há de verdadeiramente feminino nas mulheres não se compra seja com carinho, com dinheiro ou com “obras”.

As mulheres têm essa capacidade especial de ver em nós exatamente o que nós somos, apesar do que fazemos (e cada coisa ridícula que fazemos) para chamar sua atenção. E elas inconscientemente avaliam nossa essência com a delas, querendo encontrar uma harmonia que possa durar a vida toda.

Já o que nós homens avaliamos não é a harmonia interna, mas a simetria exterior. Nós temos dentro de nós um arraigado senso de controle, queremos uma mulher que possa ser controlada, e acreditamos que sabemos como fazer isso.

Tanto a Rainha, quanto a Perdida na música são modos como o homem procura prever o comportamento da mulher e controlá-la. É isto o que significam os “nomes”, quer dizer, como o homem “chama” uma mulher.

No primeiro caso ele a eleva demasiadamente, dá presentes, elogia, dá tudo o que pensa que uma mulher pode querer. “Comigo” podemos imaginá-lo pensando “poderás ter tudo o que quiser”. Este homem acha que têm tudo, não concebe uma mulher que não se deixe seduzir pelo dinheiro e pelo poder. Mas elas olham além disso.

Claro que no meio disto tudo existem pormenores. Não estou generalizando. Existe o pecado, e existem realmente mulheres que se deixam seduzir por estas coisas. Mas no fundo quando há uma relação deste tipo é uma relação onde o homem não se deixa envolver pela mulher pois pensa que ela pode traí-lo pelo dinheiro, ou roubá-lo.

E a mulher também não se deixa envolver pelo homem pois igualmente têm um desejo de domínio da situação, não quer perder o controle pois não quer perder o conforto que é à ela proporcionado. Mas este tipo de relação é um engano, onde a imagem do masculino foi projetada na noção de poder (o que já é um erro) e onde a própria mulher se masculiniza e o homem se feminiliza, pois considera que tudo o que ele precisa de masculino está no poder. Não significa que este homem é gay ou algo assim, mas é um frouxo, não sabe, como na música, “dizer não”.

trecho de texto do Xoyo no blog Os decadentes.

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