18.5.08

Encontrando Jesus no Bar

Eu comecei a entender o que era “evangelismo relacional” pela primeira vez numa noite quando uma mulher num bar me disse que ela tinha visto Jesus vestido como mendigo disfarçado com roupas de duende.

Eu tinha ido ao bar com uma amiga depois de assistir a uma aula sobre ministérios para a geração nascida nos anos 70. O palestrante terminou com um desafio simples: crie o hábito de conversar com pessoas na sua comunidade que não vão a igreja nenhuma. Não parecia muito um desafio quando ouvimos, especialmente porque nós duas nascemos nos anos 70. Mas ao estar lá no bar, com nossas cervejas ficando quentes nas nossas mãos, nós nos sentimos cada vez mais incômodas. Depois de muita hesitação, eu finalmente me virei para uma mulher de pé perto de mim e disse:

- “Posso deixar meu casaco no chão do seu lado? Estou cansada de carregá-lo.”

E para meu alívio, começou uma conversa.

Falamos sobre seu trabalho, seu namorado, as músicas que gostávamos, e eventualmente sobre o musical Rent, o qual amávamos. Falamos do seu personagem principal, Angel, um sem-teto gay, baterista que passava a maior parte do show vestido como um Papai Noel drag queen. Na metade do show o Angel morre de AIDS, rodeado de um grupo eclético de amigos. “O que é impressionante para mim”, disse a mulher, “é quanto poder tem o amor do Angel nas vidas dos outros personagens na peça. E o seu amor não pára de influenciá-los mesmo depois que ele morre. É como se… É como se ele se aperfeiçoasse na sua morte.”
Me dei conta de repente que nós não estávamos só batendo um papo.

- “Sabe, algumas pessoas dizem que o Angel é um personagem de Cristo.”, disse eu prontamente.

- “O que é que você acha?”

- “Eu não sei” – disse ela. “Só acho que eu me sinto muito mais perto do Angel que de Jesus.”
Eu fiquei espantada. Eu pensei que eu tinha ido ao bar naquela noite para encontrar pessoas que talvez precisassem de alguma coisa que eu pudesse oferecer – um ouvido compreensivo, um convite para vir ao culto na minha igreja, ou mesmo um testemunho sobre quem Jesus era e o que seu amor queria dizer para suas vidas. Eu não esperava ser eu a pessoa que fosse receber um convite para conhecer Jesus melhor e seguí-lo mais corajosamente. Para minha surpresa, e para meu deleite, foi isso o que aconteceu.

Eu fiquei viciada. Ir ao bar uma ou duas vezes por semana e conversar com pessoas que eu não conhecia virou uma prática minha regular. Fiquei perplexa com a facilidade de falar sobre assuntos “espirituais”. As pessoas me falaram sobre suas esperanças e medos, seus relacionamentos e seus conflitos de identidade. Era difícil explicar para a minha congregação (ou para a minha família) o que eu estava fazendo, então eu comecei a convidar as pessoas para vir comigo. Eu parei de ficar pensando como atrair jovens para a minha igreja e comecei a focalizar em como fazer minha congregação sair do seu templo e como inserí-la em relacionamentos com o mundo fora das suas portas.

Resumindo, me tornei algo que nunca sonhei ser: uma evangelista. Eu não era motivada por um desejo de salvar as pessoas das garras do inferno, e não era motivada por um desejo de fazer crescer a minha igreja. Eu era motivada pelo desejo de me relacionar com pessoas que eram diferentes de mim de várias maneiras. Eu queria esses relacionamentos porque eles me ajudavam a entender melhor o que Jesus estava fazendo no mundo e como eu poderia segui-lo, mesmo com ele me conduzindo para fora da igreja e para dentro do bar.

Heather Kirk-Davidoff, em An Emergent Manifesto of Hope.
tradução: K-fé [via Nitrogenio]

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