Eu vou te contar que você não me conhece.
E eu tenho que gritar isso porque você está surdo e não me ouve!
A sedução me escraviza a você.
Ao fim de tudo você permanece comigo, mais preso ao que eu criei, e não a mim.
E quanto mais falo sobre a verdade inteira, um abismo maior nos separa.
Você não tem um nome, eu tenho.
Você é um rosto na multidão, eu sou o centro das atenções.
Mas a mentira da aparência do que eu sou e a mentira da aparência do que você é, porque eu não sou o meu nome, e você não é ninguém.
O jogo perigoso que eu pratico aqui, ele busca a chegar ao limite possível da aproximação.
Através da aceitação da distância e do reconhecimento dela.
Entre eu e você existe a notícia, que nos separa.
Eu quero que você me veja a mim.
Eu me dispo da notícia.
E a minha nudez parada, te denuncia e te espelha.
Eu me delato, tu me relatas.
Eu nos acuso e confesso por nós.
Assim, me livro das palavras, com as quais, você me veste.
Fauzi Arap. Esse texto fez parte do show "Pássaro da manhã", de Maria Bethânia (1977).
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