14.5.08

Hora do strip-tease

“Tive que fazer quebra de maldições porque estava presa às pessoas que beijei antes de me converter. Assim como o sexo ilícito traz doenças, o beijo passa espíritos de uma pessoa para outra.”

O testemunho acima está na comunidade Beijo só no dia do casamento!, no Orkut. O grupo reúne mais de 2.500 jovens. Dezenas de tópicos giram em torno do mesmo tema: beijar é proibido para a galera cristã.

A decisão radical e voluntária remete à rigidez com que o tema já era tratado na década de 70. Alguns acampamentos inspiraram piadas em profusão ao vetar que casais de namorados cometessem o ato devasso de caminhar de mãos dadas. Nas piscinas, os guardiões da moral emulavam Jânio Quadros ao proibir biquínis. Só pensavam naquilo... como todos os jovens!

Após o diagnóstico dos primeiros casos de Aids no início dos anos 80, o discurso endureceu ainda mais. “O meu prazer agora é risco de vida”, cantava Cazuza. Católicos e evangélicos adotaram o discurso ecumênico da falibilidade da camisinha. Enquanto isso, crianças eram abusadas por padres e zilhares de moças solteiras engravidavam e precisavam “reparar o mal” por meio de casamentos marcados pela efemeridade.

Os resultados pífios das cruzadas anti-sexo levaram alguns clérigos a radicalizar o jogo. Muitos só oficiavam casamentos de moças grávidas se elas usassem uma tarja negra no alvíssimo vestido de noiva. Os rapazes também não foram esquecidos. Lembro-me de um pastor que recomendou a um seminarista a ingestão de hormônios para aplacar os desejos sexuais. É mole?

Beleza americana

A preocupação em manter a juventude afastada do sexo continua na agenda da maioria das igrejas. Nos Estados Unidos, atingiu maior grau de sofisticação sob o belicismo tresloucado do governo Bush. Não importa se são soldados iraquianos ou adolescentes com os hormônios açulados, guerra é guerra. Deus salve a América.

Em 2007, o Estado americano investiu US$ 191 milhões em mais de 700 programas que preconizam a abstinência sexual. Calcula-se que no ano passado foram realizados mais de 1.500 “Bailes da Pureza” em todo o país. No evento, adolescentes e pais assumem o compromisso de zelar pela castidade. Segundo a mídia, cerca de 16% das garotas americanas já assinaram compromissos de virgindade. Ao que parece, Deus estranhamente não está na lista de convidados do rega-bofe das imaculadas.

Ao sul do Equador

“Toda religião que, em nome de uma ordem espiritual, impõe sobre o corpo um regime de sistemática repressão, tende a produzir personalidades neuróticas.” A asserção do teólogo e educador Rubem Alves infelizmente tem sido comprovada com freqüência no seio da igreja.

Perdidos em meio ao tiroteio entre os que têm vida sexual regular e os xerifes da castidade, muitos jovens cristãos são confusos a respeito da virgindade, por exemplo. Não é raro que alguns casais tenham total liberdade no namoro, desde que o hímen permaneça zero quilômetro. Desconheço qual o parâmetro usado para os rapazes nesse raciocínio tosco.

A consumação do casamento infelizmente não resolve os problemas na área. Ao contrário, aí é que se manifestam os efeitos retardados decorrentes dos discursos policialescos e castradores ouvidos durante anos. Muitos casais nunca estão sozinhos na cama. Culpa, vergonha e medo são presenças freqüentes, destruindo a beleza desse presente sublime do Criador. Igrejas frias e camas mornas (ou o contrário) não são recomendáveis para nenhum lar cristão.

Manter-se afastado dos prazeres sexuais não garante por si só a presença divina em quaisquer faixas etárias. Melhor seria investir tempo e energia na busca de intimidade com Deus. Pra começar, é necessário limar toda a aura de hipocrisia em torno do assunto, como fez a galera do Sexxx Church. O escritor irlandês Oscar Wilde afirmou que “a maioria das pessoas apenas existe”. Passou a hora de o rebanho se despir do discurso moralista de fachada e, com os braços livres, abraçar a vida em abundância que nos foi prometida. Prazer igual não há!

texto da minha coluna na próxima edição da revista CristianismoHoje.

14 comentários:

Anônimo disse...

Mano Pavarini, onde encontro essa revista ? Não encontro nas bancas. Como faço pra comprar, assinar, ganhar, roubar,rss..

Carlos Eduardo Pereira disse...

Pava,

O discurso precisou endurecer para conseguir vestir o preservativo!
Abraço.

Humberto R. de Oliveira Jr disse...

O Assunto é mesmo delicado. Mas infelizmente qualquer um saí por aí falando "borrachadas" nos cultos de mocidade, deixando uma pá de adolescentes e jovens neurotizados.

Algo da minha constatação pessoal: crente num sabe se relacionar direito, ou o cara (ou a menina) é travadão total, ou ele é um promíscuo de carteirinha que só não pegou a sua mãe na igreja, porque o resto das menininhas já rodaram na mão do sujeito... rsrs

É isso aí...

Anônimo disse...

Sou contra quaisquer tipo de repressão, dentro da igreja ou fora delas; em qualquer âmbito da vida humana repressão gera cadeias no inconsciente. Mas, contra também a alguns mecanismos, que só repetem o discurso de uma categoria de "pensadores", e que em nome de uma "crítica libertadora" reprimem, e o fazem ao induzir os leitores a uma "suposta liberdade". A lógica desses é que a felicidade, ou "a vida abundante" oferecida por Deus, se dá no fato de sair por aí fazendo sexo com todo mundo, ou sem quaisquer parâmetros de moral para a vida (diferente de moralismo!).

Caro colega, tenho certo receio quando pessoas preparadas ou despreparadas, saem por aí fazendo "teologia da crítica", talvez com a pretensa de ter achado a resposta que solucionará todos os males da humanidade, aquela chave mágica. Muita soberba, não acha!?

Criticar "modelos" eclesiológicos, frutos de uma concepção doutrinária, teológica, ou modismo - que seja, etc., não responde ao cotidiano das pessoas. Pelo contrário, a pergunta continua latente no inconsciente e imaginário de todos: "E daí?".
Hoje as celebridades ditam as normas, artistas e “blogueiros” falam com propriedade (será!?) sobre sexologia e comportamento humano, é o poder do simulacro, e a cada dia mais sendo alimentado. Isso pode ser um problema.

Em suma, tenho simpatia pelo conteúdo da presente postagem, mesmo assim, deixo a dica para reflexão: precisamos saber melhor sobre as implicações futuras daquilo que estamos falando, das afirmações que estamos fazendo, sem nunca termos a falsa percepção de que descobrimos "o segredo" da felicidade. Por quê que, ao invés de sairmos por aí criticando tudo e todos, não oferecemos reflexões maduras sobre o que implica adotar ou não tais modelos?

Nem toda reflexão precisa ser apologética, é possível uma "síntese dos comportamentos - modelos", de forma tal que se preserve o equilíbrio no discurso, aquele tão necessário para que nenhuma injustiça seja cometida.

Rotular modelos, de "bons ou ruins e mais-ou-menos", pode significar incapacidade de uma leitura mais aprofundada sobre as complexidades da vida.

Abraço.

vitorferolla disse...

É Pava,

eu sinceramente me enquadro + nos crentes do ínicio do texto.

Na verdade foi (e estou) sendo criado em um lar NeoPentecostal, Fundamentalista. Sempre fui ensinado a tomar muitooooo cuidado com relação à esses assuntos. E, as vezes, me vejo como um guardião moral.

Porém a Graça me alcançou e aprendi a esperar sem reprimir. Tenho entendido q a Culpa é uma arma perigosa nas mãos dos pastores. E tenho visto q nem sempre a cerca limita apenas o que é errado...

Concordo com o que vc escreveu e apreciei mt seu texto.

Está de Parabéns!
Abraços

Fique na Graça

Anônimo disse...

proibir bikinis nao rola! mais uma coisa forçada e imposta para resolver um problema pessoal e nao de tds.

pra mim, td se resumo à EXCELENTE frase: "Melhor seria investir tempo e energia na busca de intimidade com Deus." e "com os braços livres, abraçar a vida em abundância que nos foi prometida. Prazer igual não há!"

yes, pavarini!

o resto é resto mesmo!!!!!

acho q a posição moralista e a liberalista são ambas doentes!
se formos ver, a biblia nao fala muito sobre sexo. ou melhor, qdo ela fala muito (cantares), é pq é muito bom, e mostra isso como algo para ser vivido no casamento. qdo ela fala pouco (prostituicao, lascivia), é para ser retirado do nosso meio.

mas as referencias no geral sao boas, visto o enorme livro de cantares. sem contar que somos a noiva de crista, mais uma vez CASAMENTO.

nao há mais o que falar.

Busquemos intimidade com Deus, q o resto nao eh tao importante!

lembrando que o "amor é o vinculo da perfeicao".

precisa de mais alguma coisa?

e com relação ao trabalho citado, acho que a intenção é boa. mas martelar em cima de sexo vale a pena? nao é melhor se firmar naquele que nos preenche totalmente?

Cristo é a solução para todo o pecado, nele temos tudo, sem Ele, nao temos nada. Com Ele, tudo é limpo, sem Ele, tudo pode ser sujo. Somos limpos com ele, não precisamos ser neuroticos e perturbados.

Unknown disse...

Qual a solução então? O que dizer ao Jovem? O que é ter intimidade com Deus, e intimidade com o(a) namorado(a)? O que é pureza? São muitas as indagações para um jovem confuso, ainda bem que não sou confuso, sou casado e bem resolvido, mas converso muito com os Jovens da Igreja e tenho 2 filhinhos bebês ainda, mas um dia terei de encará-los e dizer alguma coisa, afinal Deus me constituiu pai pra isso mesmo, até lá, estou tentando ensinar meus filhos no caminho que devem andar..mas o caminho é árduo e cheio de armadilhas...

Vitor Grando disse...

Realmente o discurso da Igreja é repressor. Mas não podemos nos contaminar com nossos preconceitos em relação a Igreja e nos posicionarmos no outro oposto, aquele dos "mente aberta", os "descolados", "moderninhos". Sexo é um problema. A solução não é repressão mas também não é a "libertação". Freud nunca disse que o controle é nocivo, mas sim o recalcamento inconsciente dos desejos, já a supressão - controle consciente dos impulsos - é saudável e necessário. E sinceramente, eu não levo muita fé nesse papo de neurose provocada pelo discurso repressor da Igreja, acho que é um baita exagero dos dados.

Pavarini disse...

Oi, Vitor.

Creio que um papo c/ psicólogos e terapeutas que atendam cristãos ajude a esclarecer o lance das neuroses provacadas pela igreja.

Presidente do CPPC (e editor da Speak Up), o Karl Kepler tem um texto excelente s/ o tema.

Tenho certeza de que a Bíblia do Conselheiro tb será uma contribuição especialmente válida p/ todo o rebanho.

Big abraço

emilson disse...

Caro Pavarini:
A pureza espiritual, sexual e outras devem ser praticadas por amor a Deus, em primeiro lugar, e ao futuro cônjuge (eta palavrinha!) em segundo lugar.
Não é fácil, mas é um sacrifício de amor que trará inúmeras bênçãos - falo por experiência própria (31 anos de casamento com vida sexual cada vez melhor.)
Se o cristão não consegue se conter (auto-domínio é um dom do espírito), que peça ao Senhor que lhe dê forças, caso contrário também não poderá exortar o homossexual a ser celibatário, o pedófilo a não molestar as criancinhas, os incestuosos a não comerem suas irmãs, os necrófilos, os animalescos, os serial-killers e por aí a fora.
Como evangelizar vivendo em pecado? Ensine-me no próximo artigo. EMILSON

ps-Seu artigo é muito tendencioso. É bem Ricúpero - omite o que não interessa e fatura o que quer mostrar. Não é uma visão jornalística.

Pavarini disse...

Olá, Emilson.

Agradeço novamente sua manifestação. As reflexões que Deus me tem permitido fazer têm tão-somente o objetivo de incentivar o debate. Opiniões eventualmente diferentes enriquecem sobremaneira a discussão.

Permita-me apenas um esclarecimento. Colunas assinadas (como a minha) não devem apresentar o que vc chamou de "visão jornalística". Nesta e em qq outra revista isso acontece nas reportagens.

Como alguns veículos publicam na página de créditos, "colunas assinadas representam apenas a opinião do articulista".

Big abraço

Anônimo disse...

Caro Pavarini:

Agradeço o esclarecimento editorial. Também acho um absurdo as igrejas não falarem aos jovens franca e explicitamente sobre sexo. Em contrapartida, todo o resto do mundo só fala nisso, e orienta emocional, psicológica e cientificamente como devemos agir. O resultado está aí para quem quiser ver. Senhores pastores, ancião e presbíteros, parem de enterrar as cabeças na areia! EMILSON

Athayde Junior disse...

Grande Pavarini!

Otimo texto. Gostaria de expor mais claramente minhas ideias, mas acho que vou gerar polemica. Infelizmente o sexo esta dentro das igrejas. Esta entre os jovens mas parece que fazemos de conta que risso nao existe e continuamos com o discurso do "NAO PODE".
Creio que proibir nao é o correto, pq o jovem na igreja eh um santo. Saindo dela entra no motel. O lance eh conscientizar o jovem e faze-lo entender a importancia de manter-se sem sexo ate o casamento. SEXO EH BOM. Soh que fora do casamento traz consquencias traumatizadorasr. Me converti aos 24 anos e sei bem as consequencias sexual fora do casamento. Hoje carrego marcas que soh Cristo pode curar. Parabens pelo blog! Excelente!

Pavarini disse...

Muito obrigado pelo carinho, Athayde.

O anúncio da gravidez da filha de Sarah Palin, indicada a vice-presidente na chapa de John McCain, sinaliza que o "problema" está longe de uma solução.

Usei aspas pq tanto a garota qto a mamãe Sarah hasteiam a bandeira da pureza sexual c/ grande desenvoltura. Vou resistir a fazer piadinhas s/ o mastro da tal bandeira... rsrs

Continuo recebendo e-mails execrando o texto pq não traz "solução" p/ o lance. Acredito que relatos sinceros como o seu são importantíssimos p/ a reflexão.

Big abraço

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