Faz tempo que eu não tenho tido prazer em ler. A última vez foi… nem lembro quando foi. Já tive muito prazer com a literatura. Mas agora não. Meu lado adulto e racional diz “sim, isto é bom. Sim, o cara que escreveu esse livro sabe das coisas. Sim, é um ótimo autor, muito conceituado, vende pra caramba, reconhecido no mundo inteiro, o cara entende do assunto”. E daí? Literatura é como sexo. Também dá pra fingir orgasmo. Já fiz muito isso. Mas ando sem saco.
Quando vejo, estou pulando páginas e páginas do tal livro maravilhoso do cara maravilhoso. Começo a ler de duas em duas, de três em três (o que não faz a menor diferença) até largá-lo de vez. Os modernosos dirão que literatura é pra cabeça e não para o coração. Que se eu quiser algo que me emocione que vá ler essas babaquices que existem aos montes por aí. Mas eu sei que há uma terceira via: a da alta literatura que fala ao pau. É com esse que eu vou. É nessa que eu estou.
Pertenço à categoria dos que não são herméticos, não são cerebrais, não são experimentalistas, não são cifrados, temperamentais, obnubilados e nem por isso são idiotas. Nosso mestre é Amós Oz. Que está longe de ser porcaria.
Meu enjôo pela literatura não seria problema algum se eu não tivesse que entregar um romance dentro de alguns meses. Tudo bem, o romance já está praticamente escrito mas ainda falta muito pra ele ficar minimamente decente. Só que como ele foi escrito há quase quatro anos, eu olho pra ele e me pergunto: o que que eu tenho a ver com essa história? O que fazer com isso tudo?
- Rasgar e começar tudo de novo?
- Embaralhar as páginas para ver se melhora? (qualquer coisa eu digo que ele é o retrato do estilhaçamento da modernidade).
- Deletar uns parágrafos para que ele fique mais enigmático?
- Tirar o nome dos personagens pra tornar a história mais complexa?
- Apagar os travessões para que ninguém saiba quem está falando, nem se estão falando?
Valei-me Senhor! Eu tinha que brochar logo agora? Ou será que tamanha confusão na minha cachola ainda é efeito da anestesia?
Ivana Arruda Leite, no blog Doidivana.
3.5.08
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