16.5.08

Marina, minha irmã de fé

Já fazia algum tempo que não sentia simultaneamente orgulho e tristeza pela postura de algum evangélico. Refiro-me à demissão da ex-ministra Marina Silva.

Eu a conheci pessoalmente em um evento sobre fé e justiça onde partilhamos nossas idéias. Mas fora os abraços formais de despedida, nunca mais tive qualquer contato com a senadora.

Guardo, porém, uma admiração profunda por esta mulher. Para mim, Marina Silva faz parte do seleto panteão das pessoas extraordinárias. Sua conduta e testemunho de vida no Ministério não foram apenas impecáveis, mas inspiradores. Marina foi um Davi que nunca se acovardou diante de inúmeros Golias. Ela enfrentou a volúpia dos encastelados no poder, a gula desenfreada dos latifundiários da Amazônia, o rolo compressor dos cartéis internacionais e a irresponsabilidade de tecnocratas míopes, que só analisam gráficos. No Ceará, dizemos que gente assim é "madeira de lei".

No "Painel do Leitor" da Folha de São Paulo de 16 de maio de 2008, Stalmir Vieira escreveu sobre a demissão de Marina: "No mundo encantado do poder, ocupado por ex-subversivos e ex-torturados, hoje bochechudos, rosados e de cabelos bem arranjados, o único papel que caberia a uma mulatinha magrinha, que jamais aceitou abandonar suas origens, seria o de servente. Ela não topou".

Não penso só em Marina Silva quando lamento a sua demissão, mas nos rios, nos santuários ecológicos que se degradarão, nos mognos contrabandeados. Estou triste pela chuva ácida, pelos plásticos boiando, pelos aeroportos interditados com fumaça. O governo preferiu perder uma cabocla para prestigiar um "drag-queen cultural". O acadêmico que vai tocar o PAS (Plano Amazônia Sustentável) veio do Norte, não sabe a diferença entre um papagaio e uma arara, e fala com sotaque de gringo – parece um missionário que faltou às aulas de português. Marina Silva nunca desaprendeu os regionalismos. No dia em que sentei do seu lado, não me senti perto de uma ministra, mas de uma nortista cheia de brios.

O empobrecimento ético dos evangélicos é notório e Marina Silva destoa. Portanto, quando não der para sentir orgulho dos crentes brasileiros, nos inspiremos em nossa irmã.

Soli Deo Gloria.

Ricardo Gondim

2 comentários:

Alysson Amorim disse...

Chico Mendes e sua discípula; são gente assim que nos inspira a continuar a caminhada.

Ageu disse...

Marina tem a graça das interioranas, a simplicidade no estilo, e fragilidade física que valoriza a força moral, como Gandhi. Sua trajetória política ética e corajosa, seu percurso de fé sem barganhas honra a Cristo. Agora é a sua vez. Enfim, novo ânimo à vida política brasileira.
Desde já apoio sua candidatura. Ageu Heringer Lisboa, psicólogo.

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