18.5.08

Meu bem, meu mal

Uma das grandes questões que inquietava Agostinho antes de sua conversão foi a origem do mal. Se Deus é bom porque permite o mal? Ele primeiro aceitou o pensamento dos maniqueus, que diziam que o mal era uma substância que existia independentemente de Deus. Esta idéia se aproxima da explicação gnóstica, que o mal não teve sua origem em Deus. O problema deste pensamento é que coloca a criação como má.

Com a sua conversão, Agostinho começou a afirmar de forma categórica a soberania de Deus. Nada existe sem a permissão de Deus, inclusive o mal. Agostinho, usando um argumento do neoplatonismo, ensinava que o mal é “ausência do bem”, e não é uma substância em si. Vemos abaixo uma declaração de Agostinho sobre a origem do mal:

“Quando, então, se pergunta de onde vem o mal, deve-se primeiro indagar o que é o mal e este não é outra coisa senão corrupção, seja da medida, da forma ou da ordem que pertence a natureza. A natureza que, portanto, foi corrompida é tida como má, porquanto certamente é boa quando não é corrompida; mas, mesmo corrompida, é boa enquanto natureza e má enquanto corrompida”.

Se Deus é soberano, porque então permitiu o mal? Sendo Deus soberano ele podia impedir a existência do mal. Agostinho dizia que havia um motivo para Deus permitir o mal. Ele dizia de forma bastante inteligente que “embora, pois, o mal não seja um bem à medida que ele é mal, por outro lado, é um bem o fato de existir tanto o mal como o bem”.

A existência do mal fez com que o homem possuísse o livre arbítrio, se assim não fosse, o homem não poderia escolher. Em seus primeiros escritos Agostinho enfatizou bastante a questão do livre-arbítrio. Com o desenvolvimento de sua teologia cada vez mais ele defende a predestinação absoluta, e assim aos poucos dá bem menos valor ao livre-arbítrio.

Para Agostinho, a criação é boa, pois foi Deus quem a fez. Deus não criou, em sentido absoluto o mal. O mal entrou no mundo pela corrupção da natureza. O mal ocorre quando o homem usa de forma errada as boas coisas que Deus criou. Por isso que Agostinho dizia que a natureza é boa em si mesmo, mas é má a partir do momento que foi corrompida. Concluindo, Deus permitiu o mal, mas não foi ele quem criou o mal.

Sendo a natureza boa, porque então ela se corrompeu? Se era boa, por que permitiu a entrada do mal? Agostinho explica que a criação é boa, mas não perfeita. Se fosse perfeita seria igual a Deus, e a criação está abaixo de Deus. E outra razão para entrada do mal na vida humana foi a liberdade de escolha que possuía o primeiro casal. A liberdade de escolha era boa, mas foi usada de forma errada. “O mal é, pois, empregar erroneamente o que é bom”.

Em outra palavra ele também ensinava que “a única coisa má que realmente existe é o mau uso do livre arbítrio” ou então “o que é chamado mal é o bem corrompido”. Em suas explicações sobre a origem do mal, Agostinho demonstra como é possível usar a filosofia para se fazer boa teologia. Toda esta argumentação usada por Agostinho está calcada no pensamento neoplatônico.

Há, porém, outros momentos onde os pais da Igreja usam a filosofia de forma a perverter a teologia bíblica. Um exemplo é o desprezo pelo corpo e a idéia de que o sexo seria um mal necessário. Tal pensamento veio do pensamento grego que ensinava que o bem estava na alma, e o mal no corpo. Assim tudo ligado ao corpo deveria ser desprezado, valorizando-se somente o espírito.

Luís Carlos Batista, no blog A fé em busca de entendimento.

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