Na época da ditadura os jornais publicavam pequenas notas de pé de página informando ou desinformando que um jovem "subversivo" havia morrido atropelado em fuga, perseguido por agentes da repressão política.
Os jornais não faziam por mal, mas não era nada disso. A informação era divulgada pelos órgãos de segurança que agiam em conssonância com o que se passava nos porões do regime militar, em que o militante político era torturado até a morte e entrava automaticamente para as estatísticas de atropelamento.
Os tempos sombrios de violência que vivemos - tanto por parte dos criminosos como por parte de maus elementos do aparelho policial - nos levam de volta ao passado.
Os jornais de hoje também publicam notas de pés de página afirmando que mais um traficante foi morto em tiroteio com a polícia. E, na grande maioria das vezes, aplaudimos a ação enérgica da polícia porque afinal alguém está tomando alguma providência contra o crime encastelado nas áreas pobres da cidade. Não resta dúvida de que a ação policial, mesmo por meio de operações mal planejadas, é fundamental para mostrar a presença do Estado (poder público) em áreas dominadas pelos foras-da-lei de todo tipo. Mas nem sempre o que se lê numa nota de jornal é a expressão mais pura da verdade.
Assim como ocorria no regime militar, os órgãos de segurança de hoje são rápidos e eficientes para divulgar sua versão à imprensa e os meios de comunicação muitas vezes lentos ou ineficientes para desmontá-la.
Cada vez mais policiais bandidos estão forjando apreensões de armas e drogas para justificar suas execuções.
É o que se pode concluir do Caso Willian (Willian de Souza Marins, de 19 anos) que foi executado com a pecha de traficante, mas ninguém duvida de que sua idoneidade moral era exemplar.
Mesmo assim ele foi preso, julgado e condenado à morte por policiais do Grupamento de Ações Táticas (GAT) do 14o Batalhão da Polícia Militar (Bangu), na tarde do domingo passado, dia 18 de maio de 2008. E para justificar sua morte, os policiais colocaram arma, granada e drogas na mochila dele. Há testemunhas que viram isso, mas temem serem também assassinadas.
Seu corpo só foi aparecer segunda-feira no Instituto Médico-Legal. Willian era um jovem dedicado à fé evangélica e a música cristã. Nunca teve passagem pela polícia e nem sequer qualquer envolvimento com o crime. E foi morto duas vezes de uma vez só.
Rio de Paz faz manifestação contra a morte de inocente
Para impedir que o caso de Willian seja mais um a entrar para as estatísticas como um auto de resistência (morte em suposto confronto com a polícia), quando na verdade ele foi covardemente executado poragentes do Estado, o movimento Rio de Paz apóia a família e amigos do rapaz e convida a sociedade fluminense a participar de um ato público de protesto contra o crime praticado por PMs, marcada para às 18h da próxima segunda-feira, dia 26 de maio, na Cinelândia, em frente à Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, no Centro do Rio.
Participarão amigos e parentes do rapaz, além de representantes de entidades da sociedade civil e do movimento de defesa dos direitos civis.
Daquele local, um grupo de amigos do rapaz vai partir às 15h30m em direção ao quartel-general da PM, na Rua Evaristo da Veiga - a menos de 200 metros dali - onde entregará uma carta pedindo que a Polícia Militarinvestigue o caso com isenção, transparência e máxima urgência. Os manifestantes pedirão também a proteção das testemunhas que viram o jovem ser executado pelos policiais militares. Eu vou!
Jorge Antonio Barros, no blog Repórter de crime [via Palavra plena]
colaboração: Renato Vargens
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25.5.08
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