13.6.08

O império de (P)Edir Macedo (42)

Leitores talvez não tenham notado, mas a semana que passou registrou um fato inédito: a Igreja Universal do Reino de Deus apareceu no noticiário de forma positiva. Foi nas reportagens sobre a inauguração do Centro Cultural Jerusalém, em Del Castilho, com uma réplica da cidade sagrada (foto), de 730 metros quadrados.

Assim que puder, vou lá conferir. Sem medo de perder a viagem. A maquete, que levou oito anos para ser construída, é feita com blocos de pedra trazidos de Jerusalém e reproduz fielmente a arquitetura da cidade no ano 66 d.C. Uma aula de História!!! Numa cidade onde a produção cultural privilegia a Zona Sul, ter um espaço assim na Zona Norte é, sem ironia, quase um milagre.

Mas cabe a pergunta: a Igreja Universal se torna idônea por ter dado essa contribuição ao Rio de Janeiro? Não faz muito tempo, o noticiário trazia reportagens sobre a agressividade na cobrança do dízimo, suspeitas de charlatanismo, o enriquecimento de seus líderes e a transformação de cinemas, caros à memória afetiva dos bairros, em templos.

Para mim, está claro que o centro cultural é conveniente à campanha do senador Marcelo Crivella, sobrinho de Edir Marcedo, à prefeitura do Rio. Para quem quer governar uma cidade com diversidade religiosa, nada melhor do que se mostrar acima de diferenças doutrinárias. O presidente da Federação Israelita do Rio de Janeiro, Sérgio Niskier, foi à inauguração.

Mas a disposição da Igreja Universal para conviver com a diferença não me convence. Em campanha, Marcelo Crivella já esteve na Associação das Escolas de Samba fazendo promessas. Só que várias agremiações viram suas alas de baianas minguarem depois de se converterem, convencidas pela pregação de que o carnaval (e as religiões afro-brasileiras) são coisas "do diabo". Um corpo estranho à tradição de tolerância religiosa no país do sincretismo.

Além disso, até hoje seu site informa que o endereço da Catedral Mundial da Fé, em Del Castilho, é "Avenida Suburbana 4.242". Ora, há quase dez anos que a avenida mudou de nome e se chama Dom Hélder Câmara, numa justa homenagem a um homem que liderou obras sociais e teve a coragem de denunciar a violência da ditadura militar. Ignorar seu nome só porque ele era católico não é atitude de instituição que sabe dialogar.

Dom Hélder ou Suburbana, não deixe de anotar o número, 4.242, porque é o mesmo endereço do centro cultural

Marcelo de Mello, em O Globo Online
colaboração: Paulo Sergio Feijolli

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