A sina da noiva rejeitada persuadiu a estudante de Montpellier a submeter-se à operação.Ela insistiu que nunca manteve relações sexuais, e disse que só descobriu que o seu hímen estava rompido quando tentou obter um certificado de virgindade para apresentá-lo ao namorado e à família.
Talvez a sua alegação seja verdadeira: ela teria sangrado após um acidente quando andava a cavalo aos dez anos de idade.
Segundo a estudante, o trauma ao descobrir que não era capaz de provar a sua virgindade foi tão intenso que ela discretamente tomou dinheiro emprestado para pagar pela cirurgia."De repente a virgindade tornou-se importante na França", diz ela. "Percebi que poderia ser vista como aquela mulher sobre a qual todos falam na televisão".
Os cirurgiões que realizaram a operação afirmam que estão conferindo poder às suas pacientes, ao proporcionar a elas um futuro viável e impedir que sejam vítimas de abusos -ou até mesmo de assassinatos- pelos seus pais ou irmãos.
"Quem sou eu para julgar?", pergunta Marc Abecassis, o cirurgião plástico que restaurou o hímen da estudante de Montpellier. "Tenho colegas nos Estados Unidos cujas pacientes fazem isso como presente do Dia dos Namorados para os maridos. O que faço é diferente. Não é algo para diversão. As minhas pacientes não têm escolha caso desejem encontrar serenidade -e maridos".
Especialista naquilo que chama de "cirurgia íntima", incluindo uma operação para aumento do tamanho do pênis, Abecassis diz que realiza duas operações de restauração de hímen a cada semana.
A Escola Francesa de Ginecologia e Obstetrícia opõe-se à cirurgia por motivos morais, culturais e de saúde."Tivemos uma revolução na França para conquistar igualdade; tivemos uma revolução sexual em 1968, quando as mulheres lutaram pela contracepção e pelo aborto", argumenta o médico Jacques Lansac, o presidente da associação. "Conferir tanta importância ao hímen é uma regressão, uma submissão à intolerância do passado".
Mas as histórias das mulheres que passaram pela cirurgia expõem a complexidade e as emoções intensas que estão por trás de tais decisões.Uma muçulmana de 32 anos, nascida na Macedônia, diz ter optado pela operação para evitar ser punida pelo pai, quando o seu relacionamento de oito anos com o namorado terminou.
"Fiquei com medo de que o meu pai me levasse a um médico para descobrir se eu ainda sou virgem", conta a mulher, que é dona de uma pequena empresa e que mora sozinha em Frankfurt, na Alemanha. "Ele me disse: 'Eu perdoarei tudo, mas não se você tiver lançado sujeira contra a minha honra'. Não tive medo de que ele me matasse, mas sem dúvida alguma ele teria me espancado".
Em outros casos, a mulher e o seu parceiro decidem juntos que ela deve submeter-se à operação. Uma mulher de 26 anos de ascendência marroquina diz ter perdido a virgindade quatro anos atrás, quando apaixonou-se pelo homem com quem agora pretende casar-se. Mas ela e o marido decidiram dividir os US$ 3.400 cobrados pela cirurgia de restauração de hímen, que é feita em Paris.
"Para o meu noivo o fato de eu não ser virgem não tem importância -mas isto representaria um grande problema para a família dele", diz ela. "Eles sabem que você pode derramar sangue nos lençóis na noite de núpcias, de forma que eu necessito de uma prova melhor".
Enquanto isso, as vidas do jovem casal francês cujo casamento foi anulado encontram-se paralisadas. O Ministério da Justiça solicitou ao promotor de Lille uma apelação, argumentando que a decisão do tribunal "provocou um debate social acalorado" que "atinge todos os cidadãos do nosso país, e especialmente as mulheres".
No Centro Islâmico de Roubaix, o subúrbio de Lille onde foi celebrado o casamento, há simpatia pela mulher."O homem é o maior de todos os burros", afirma Abdelkibir Errami, o vice-presidente do centro. "Mesmo que uma mulher não seja mais virgem, ele não tem o direito de expor a honra dela. Não é isso o que o islamismo ensina. Ele ensina o perdão".
fonte: The New York Times [via UOL]
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