29.7.08

Bananas de Pijamas

NADA TENHO contra vigilantes. Contra? Minha adolescência cinéfila não foi só Bergman, não foi só Bresson, não foi só Renoir. Nos intervalos, escondido de meus amigos intelectuais, eu gostava de assistir a Clint Eastwood limpando as ruas de San Francisco. "Do you feel lucky, punk?" converteu-se para mim em mantra espiritual, tão emblemático como o "Play it again, Sam" que Ingrid Bergman (nunca) disse em "Casablanca".

Para não falar de prazeres menores, ou maiores, como Charles Bronson em "Desejo de Matar". Que será feito de Bronson? Divago. Recordo apenas uma seqüência de um dos filmes da série: Bronson, caminhando lentamente nas ruas do bairro, com câmera fotográfica sobre o ombro e tomando sorvete em pose turística. Subitamente, o bandido entra em cena, pega a câmera de Bronson e foge como um galgo de competição.

Bronson não corre atrás. Com a mesma displicência com que tomava o sorvete, joga-o fora, saca da arma (a inevitável Magnum 44), aponta sem pressa e atira no bandido, como quem atira em um animal. O bandido tomba. Bronson recupera a câmera (mas não o sorvete). Só quem nunca teve uma câmera roubada em plena rua é que não entende o prazer de assistir a essa cena.

Nada tenho contra vigilantes, repito. Mas também acrescento que os vigilantes têm de cumprir dois requisitos básicos.

Em primeiro lugar, só podem existir na tela, não na vida real. Na vida real, continuo a preferir o Estado de Direito, em que existem leis, polícia e tribunais, e não loucos ou beneméritos que gostam de fazer justiça com as próprias mãos.

Mas mesmo os vigilantes das telas têm de cumprir um segundo requisito: não podem usar collants, máscaras, pinturas ou capas supostamente voadoras. Dizem-me que Batman, ou Super-Homem, é uma metáfora profunda sobre a nossa condição solitária e urbana; heróis derradeiros da pós-modernidade. Não comento. Exceto para dizer que morro de rir quando vejo um ator, supostamente adulto e racional, enfiado num pijama colorido e disposto a salvar a humanidade das mãos maléficas de um vilão tão ridículo e tão colorido quanto ele.

Sem falar dos fãs: homens feitos, alguns casados, que continuam a acreditar que um super-herói em pleno vôo compensa todas as ereções falhadas.

E foi assim que assisti ao último Batman, "O Cavaleiro das Trevas", dirigido por Christopher Nolan. Não vale a pena apresentar o filme: durante meses e meses e meses, uma máquina publicitária que não pára tentou convencer o mundo de que "O Cavaleiro das Trevas" era o melhor da série e, juro que ouvi, um dos maiores filmes de toda a história do cinema. De acordo com os promotores, Nolan trocara a fantasia sombria de Tim Burton e o espetáculo adocicado de Joel Schumacher por um realismo digno de Michael Mann: desde "Fogo contra Fogo" ninguém filmava assim uma cidade, cruamente e no osso.

E os atores? Os atores seriam exemplos de um realismo ainda mais brutal, com destaque para o Coringa, papel que pode valer a Heath Ledger o Oscar póstumo. Alguns, mais ousados, ainda acrescentam que Ledger morreu de overdose precisamente por causa das exigências do papel.

Não tenciono polemizar com a sabedoria dos críticos, mas suspeito de que Heath Ledger morreu de overdose porque, depois de assistir ao resultado, não agüentou a vergonha. E quem o pode censurar?

Eu não, rapazes. E confesso que entrei na sala com boa vontade: "O Cavaleiro das Trevas" apresenta o herói (Batman) em luta final contra o mestre da anarquia (Coringa), um lunático que não deseja dinheiro nem poder como os vilões tradicionais, mas sim pura destruição. Na cabeça dos criadores, essa oposição simplória entre civilização/caos seria uma metáfora sobre o mundo pós-11 de Setembro: um mundo em que o terrorismo niilista não deseja um objetivo político preciso, mas simplesmente mergulhar o Ocidente num clima de paranóia destrutivo e autodestrutivo.

Infelizmente para os criadores, a narrativa não é apenas infantil em sua pretensão política e filosófica; é incongruente quando Batman ou Coringa entram no enquadramento. Razão simples: se a fantasia já é difícil de engolir como fantasia, imaginem apresentá-la em tom "realista" e até "documental".

Confrontado com Batman e Coringa, nenhum adulto equilibrado vê um super-herói e um super- vilão. Vê, simplesmente, dois dementes em pijamas que fugiram do asilo da cidade.

João Pereira Coutinho, na Folha de S.Paulo.

28 comentários:

Anônimo disse...

Deve ser difícil para você entender o público que gosta de revistas em quadrinhos, por isso não entende a paixão dele quando essas histórias são levadas para as telas.

Eu percebi muito preconceito da sua parte com relação aos filmes baseados em histórias de super heróis. Na verdade, eles não se diferem de nenhum filme comum, a não ser pra quem gosta do gênero. Mas que o filme é um épico para o gênero, ninguém pode negar.

Talvez por essa fase de adaptar os quadrinhos nas telas ainda estar em amadurecimento, alguns críticos não entendem a importância de filmes como esse para o público.

Enfim, descobri que o autor dessa "crítica" é puxador de saco do Mainardi da Veja, já entendi tudo então. Mais um retardado que gosta de ser "do contra" somente para aparecer, a cada dia mais contratam retardados para as redações.

Anônimo disse...

Nunca li tanta besteira junta na minha vida!!!

Anônimo disse...

Por acaso esse cara teve infância?

Unknown disse...

O Público em geral gosta de ver esse tipo de filme porque ele traz uma esperança imaginaria, onde possa existir um heroi que vive pela justiça
É bom saber que o crítco prefere um Estado de Direito igual ao nosso do que um justiceiro...
Principalmente porque aqui o Estado de Direito significa...Direito de ser assaltado, direito de ser assassinado, direito de ser sequestrado, direito de pagar impostos abusivos, e outros direitos mais que todos os brasileiro tão cansado de conhecer.
Espero que no dia em que ele for assaltado ele tenha a grata impressão que o Estado vai estar presente para protegê-lo dos bandidos.

Gilberto

Anônimo disse...

Puta que pariu é o batman!
Vai assistir "e o vento levou" com um lencinho na mão e não me eneche o saco!

Unknown disse...

Bom, para uma coisa valeu esta crítica: estou mandando para um monte de gente e estamos todos nos divertindo com todas as asneiras escritas.
O que eu não entendo é como alguém que se predispõe a escrever críticas avalia os filmes pelo seu gosto pessoal. Isso não é crítica, é gosto. E, graças aos céus, gosto não se discute.
"...homens feitos, alguns casados, que continuam a acreditar que um super-herói em pleno vôo compensa todas as ereções falhadas..." - Essa frase tem algum embasamento? Será que nas vezes que o autor da crítica brochava ele ia assistir a um Charles Bronson para se sentir melhor!? A crítica é hilária mesmo. O sr João Pereira usa no primeiro parágrafo nomes como Bergman e Renoir para mostrar ao leitor o quão culto ele é, e assim dar credibilidade às suas palavras. Paro por aqui porque não quero que meu comentário seja maior que a crítica.
Só para concluir, não imagino que seja muito confortável dormir com uma armadura de kevlar, capa e botas. Pijamas? Sinceramente...

ThiagoMaya

Anônimo disse...

Concordo com você, Thiago! E só acrescento uma coisa: é lamentável que um sr. tão culto, equilibrado, tão interado de filosofia, política e dotado de tão profundo senso crítico, confunda “gostar de um filme de super-herói muito bem retratado na telona” com “acreditar que aquilo é real”. É simplesmente primário.

Anônimo disse...

O mínimo que o leitor deseja, ao ler uma crítica, é que ela seja embasada, de forma consistente, no universo do qual está inserida, sob pena de tal crítica ser apenas retórica. Neste sentido, acredito que o filme Batman, Cavaleiro das Trevas, faz duas referências básicas a clássicos dos quadrinhos: a primeira e mais óbvia é “Batman: Ano Um”, desenhada por David Mazzuchelli, em que Frank Miller acompanha os primeiros anos de Bruce Wayne como vigilante de Gothan. A segunda referência trata-se do premiado Piada Mortal (1988), de Allan Moore, desenhada por Brian Bolland, em que o autor sugere que, no final das contas, herói e vilão não são tão diferentes quanto se imagina. Essa referência é possível de ser identificada no filme de Nolan quando o Coringa afirma que “Batman o completa”. No filme, como na HQ de Allan Moore, o Coringa tem suas teorias loucas sobre a relação íntima entre o caos e a ordem.
Sem dúvida, qualquer personagem dos quadrinhos - como de qualquer obra de arte – está passível de crítica. Porém, se o articulista fosse pegar apenas esta vertente: de que se trata de um personagem apenas insano (o que não seria defeito na estrutura da obra, mas apenas um julgamento moral), poderia começar criticando uma gama de personagens malucos da literatura, a começar pelos próprios autores.

Kelma Gallas

Anônimo disse...

Poucas vezes em minha vida lí tanta meleca numa... ha-ram... "pseudo-critica". E este "pseudo-intelectualóide" que escrevera ainda se presta a baixarias. Vai ser fraco assim lá no raio... Ou melhor tamanha coletânea de asneiras nem merece atenção mesmo. E já me retiro!

Judith disse...

Putz, já adiei assistir o filme umas 3 vezes, uma delas com a Myrna na última sexta mas, agora, vai ser mais fácil ainda...rs

Unknown disse...

Acho que antes de escrever um artigo, esse JOão deveria se informar um pouco sobre o universo dos super-heróis e o porque de sua existência antes de falar tanta bobagem e demostrar tamanha falta de conhecimento.

As histórias de super- heróis são adequadas para as crianças simplesmente por razões comerciais, que são os públicos que mais concomem suas lancheiras, carrinhos, bonecos e cadernos, mas suas verdadeiras histórias são dedicadas ao público adulto, que se sente incomodado com diversas questões da sociedade e que se identifica com o personagem em questão por este ser uma pessoa (as vezes não é pessoas, mas enfim...) que não apenas também se incomoda e quer mudar as coisas, mas ele PODE muda-las. As histórias podem ter um tom irônico, sarcástico, ou uma simples diversão de efeitos (e poderes) especiais, mas os verdadeiros heróis, e esses são os que a gente, "homens feitos, alguns casados" realmente pagamos um pau, são aqueles que nos desafiam e nos faz refletir sobre diversas questões. E o relacionamento entre o Batman e o Coringa é um exemplo, que foi representado com fidelidade às histórias originais no filme que o JOão simplesmente não entendeu, resumo e moral de todo o relacionamento Batman e COringa: Como um simlpes homem, maluco, um qualquer pode criar um pandemônio se realmente o quiser, basta pouco, a sociedade é facilmente corrompivel, até mesmo o Harvey Dent, que é o cara do bem, o verdadeiro herói, um humano sem poder algum, que era a grande esperança pode se tornar um louco e desistir de tudo. E como nos livrar destes elementos que destroem a sociedade? A maçã podre que estraga as outras? O batman é um herói, um cara do bem, não mata, mas é ae que o Coringa o ganha, "Você não me mata, e eu não o mato, eu faço minha sujeira e você a limpa, ficaremos nessa pra sempre", tudo isso pro leitor (ou espectador) se levar a conclusão que o o Coringa tanto quer "O batman tem que matar ele logo e acabar com isso", nos fazendo refletir posteriormente e nos sentir podres, assim como nos sentimos a torcer pros civis explodirem a bomba do navio dos presidiários, até que o presidiário-mor, aquele com cara de mau, negão, com cicatrizes na cara, pega o dispositivo e o joga fora, "Sim, você é mais podre e mais baixo do que esse prediário" é o que o Coringa deixou óbvio e te esfregou na cara. Mas aê vem o lado do bem, dos civis que também não conseguem ir ao ponto de explodir o outro navio, é o lado do Batman que diz que a humanidade tem sim salvação, e é por isso que ele faz o que faz, é por isso que ele dedica sua vida e fortuna, para ajudar as pessoas que merecem por isso.

Se isso não é uma discussão política e filosófica o suficiente para o Sr Pereira Coutinho eu o admiro, ele deve ser realmente muito foda e pensar sobre coisas que realmente fazem sentido na vida.

Não entender que os "pijamas" são meras alegorias e só existem exatamente para manter o caráter lúdico e tradicional do mundo dos super heróis é, além de uma prova de distanciamento do público jovem, plena falta de cultura moderna.

João Abrahão

Vitor Coelho disse...

Desde que nascemos somos apresentados a um conjunto de símbolos e signos que aprendemos a identificar e entender.
Eles fazem parte do processo de racionalização, integração social e mesmo da capacidade de criar (criatividade) humana.
A ciência que busca entender esses signos chama-se semiótica.
é pela semiótica que acontece desde a ilusão de ótica (nossa tentativa de entender algo que parece errado), até noções de motricidade e espaço físico.
Por existar a semiótica ou, mais longe, nossa capacidade de múltipla interpretação de signos é que existe o humor, a ludicidade e até mesmo conceitos literários profundos como a metáfora.
Filmes como matrix, lotados de signos, cheios de múltiplos sentidos são belos e mesmo lúdicos, profundos.
Não ver em batman um signo é uma limitação intelectual.. mais que isso... humana. É não ter capacidade de perceber nuances pessoais. Não conseguir brincar com o próprio entendimento ou mesmo associar idéias.
Ou quem sabe não seja nada disso, e, por algum motivo desconhecido, o autor só esteja tentando posar de adulto.
Por falar nisso.. Quero ser grande, com Tom hanks tem uma metáfora perfeita pra ele.

Anônimo disse...

Da série "Como fazer uma crítica imbecil de um filme". E olha que eu nem sou fã de Batman...

Anônimo disse...

Jesus voltando e essa gente sem o que fazer discutindo filmes de devasidão e luxuria. Em vez de ir no cinema é melhor buscar Deus nas igrejas.

Anônimo disse...

no mínimo o "sr.tão sábio crítico" agora deve estar em seu mundinho, sentindo-se o mais intelectualizado de todos os seres do universo, pensando: "tão ignorantes essas pessoas, coitadas, vão ao cinema só para se divertir"... com certeza esse "sr. tão sábio crítco" não faz muita coisa divertida na vida...

Anônimo disse...

JÃO DAS COVES MEMMMMUUUUU

Anônimo disse...

É incrível como esse comentário, todo recalcado e cheio de expressões de impactos tenta disfarçar com argumentos fajutos e PESSOAIS uma opinião burra toda uma linha de cultura que se desenvolveu em torno dos quadrinhos dentro da nossa sociedade. É ok não gostar de um filme. É ok preferir certos diretores a outros. O que não é ok é (e na verdade é bem estúpido) acreditar que a única forma de organização social exata são as ineficientícimas leis e a porra da polícia.
Mas o que é relamente frustrante é imaginar alguém que supostamente seria um formador de opiniões, justificar suas ereções falhadas com críticas tão agressivas...

Anônimo disse...

Tenham Cristo no coração irmãos. Paremos de criticar uns aos outros e unamo-nos em torno de sua palavra. Só Jesus salva. O Batman é luxúria....

disse...

Com o lusitano como inimigo, que precisa de Coringa?

Veja o nosso desabafo também:

http://bhqmais.blogspot.com/2008/07/por-que-to-pentelho.html

disse...

Valeu pela visita, Pavarini!

Boa referência o seu conteúdo.

Inclusive, usarei como link para o nosso emputecimento para com o jornalista português.

Daí a gente tira o nosso da reta e põe o seu. hehehe

Abração, irmão!

Anônimo disse...

Conheço um monte de gente assim: que fala merda pra parecer que tem opinião, faz questão de ser diferente de todo mundo e tira onda de intelectual, mas na verdade nunca leu uma linha do que ele se pretende a criticar. Tô quase certo que o "gajo" escreveu essa no banheiro, com uma puta diarréia mental e as opiniões dele lambrecando toda a louça. Seria melhor ele aproveitar essa "inspiração" de momento e ler um gibi. Quem sabe ele não descobre algo novo?

Matheus Colla disse...

O mais deploravel é que uma pessoa q se diz tao culta faz um comentario ridiculo sem base de pesquisa alguma...
Coringa foi criado decadas antes de 11 de setembro ...seu geito anarquista de apenas quere gerar o caos nao tem nada de analogia a 11 de setembro...

Se vc era excluido quando criança e sua mae nao dexava vc assistir desenhos e ler HQ's eu apenas posso sentir pena de vc e mais nada.
É deploravel o q uma pessoal tem q fazer pra parecer culta ¬¬

Filipe Freitas disse...

Como pesquisador do campo do cinema documentário, me arrisco a dizer que conheço superficialmente o conceito de realismo, e receio não ter reconhecido no filme nenhuma pretensão documental. A falha que o crítico tão veementemente aponta em "O Cavaleiro das Trevas" me parece antes sintoma de uma falta do próprio autor do artigo; falta da capacidade de exercer uma suspensão da descrença, esse que é o requisito básico para se assistir a qualquer filme. Dito isso, recomendo ao autor que tente exercitar essa capacidade que lhe falta, ou que jamais assista um filme novamente.

Gabriel Moreira disse...

esse é perigo da literatura de blogs...é muito fácil publicar qualquer porcaria...

mas é bom que eu tenha acesso a essas coisas..hehe

Anônimo disse...

O cara é ácido, hein? Fiquei até com vergonha de ter assistido O Retorno do Superman no cinema. rs

Mas eu concordo com ele. Nós pagamos para ser enganados. Os filmes (e seus super herois com fantasias ridículas) são criados para alimentar nossos desejos infantis de acreditar no mágico, no justo, no romântico, no divino... mas quando vc pára pra pensar, não tem lógica nenhuma!

Me faz lembrar pq tantas pessoas vão a igrejas (e também pagam pra isso, rsss).

Anônimo disse...

Que texto ignorante, você parece querer aparecer não é? (:
Mais respeito com um recorde de bilheterias e principalmente com o ator Heath Ledger, que com certeza está cotado ao Oscar.
Não gostou?
Assiste aqueles filmes da década de 70 então, já que tudo na atualidade é ''surreal e imaginativo demais'' pra você..

Anônimo disse...

O seu texto ficou muito legal que foi até escolhido como coletânea de redação de vestibular da federal de GO. Parabéns!

Bezerra Junior disse...

Porra caralho! Acreditem que esse texto ridículo foi uns dos temas para a redação da UFG de ontem, no estilo "carta ao leitor"?

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