27.7.08

Confissões de um falso, metido e impostor

O que você vê em mim? O que você acha que sou? Quem você pensa que sou?

É engraçado parar e refletir nas incontáveis vezes que já ouvi:

- Nossa! Como você é ungido!
- Eu senti o poder de Deus através de você!
- Enquanto você tocava eu pude sentir a unção de Deus vinda de você!
- Você é realmente cheio do Espírito! Um rapaz santo!
- Deus te usou pra falar comigo!
- Você poderia pregar para os jovens hoje? Ou dar aulas na Escola Bíblica Dominical para os adolescentes? Você é tão sábio!
- Gostaria que você presidisse todas as nossas devocionais! Gosto muito quando você fala!

Sabe?! Vou trazer à tona algo bastante íntimo e contudente pra mim. Uma confissão! Em todos os episódios que recebi tais elogios, não pude concordar muito com nenhum deles!

E de fato, sempre fiquei confuso a respeito! Porque sempre eram os momentos em que minha vida espiritual estava um fiasco. Em que alimentava toda sorte de pensamentos impuros! Em que as paixões carnais predominavam em meu coração! Fases da minha vida em que a Bíblia servia apenas como adorno no caminho para o culto, e no próprio culto. Tempos em que "orava", apenas nos cultos, no meio de incontinentes glossolalias e "aleluias" e "glória a Deus" fortemente bem entonados e emotivos. Era fácil orar naquele meio! Além de poder dissimular uma oração, ainda simulava uma relação com Deus da qual não usufruia!

Não estou dizendo que as intenções do meu coração eram falsas! Deus sabe que não o eram! Mas, a realidade em que eu estava, o tipo de convívio, a forma de comungar e de relacionar acabaram por deflagrar um comportamento que fosse coerente àquele ambiente social. Um comportamento que fosse conivente com todo aquele aparato religioso! Não pude evitar... Aquele meio me tornou um hipócrita! Embora, eu mesmo vociferasse contra "fariseus" e "crentes frios", e lutasse por um "avivamento da Noiva"(alguns anos mais tarde, vejo que apenas queria enquadrar a igreja no enlatado "extravagante" e "profético" da "adoração"), ainda sim, não passava de um projeto de hipócrita tão ou mais nojento que os outros!

Mas, o que se podia fazer? Eu era um "levita", ministro de louvor! Já era exemplo de santidade para os jovens! E motivo de admiração dos adultos pela minha "sabedoria" e domínio da Bíblia! Como eu poderia mostrar que aquele "super-jovem-crente", que ocupava, na medida de seus talentos, as lacunas do funcionamento da igreja, ainda não conseguira alcançar toda a "santidade" que transparecia ou lhe atribuíam? Como um jovem que estava mais na igreja do que em casa poderia simplesmente parar e falar: "Gente! Eu preciso de um tempo... Eu não sou tudo isso, estou sufocado! Acabei me tornando um hipócrita! E isso me corrói dia após dia! Minha vida com Deus têm definhado mais e mais em virtude disso!?"

Lembro uma vez que cheguei ao pastor e pedi-lhe um tempo de 30 dias no banco para poder refletir, descansar... Na verdade, minha vontade era dizer que, como jovem "crente", estava afundado na masturbação, na pornografia, "ficando" com as meninas, já não orava há muuuuito tempo, se lia a Bíblia era por causa dos serviços que desempenhava na igreja como ministro de louvor, como professor de EBD ou, quando às vezes tinha que levar a Palavra no culto de jovens, não por deleite! Mas, não poderia dizer o motivo tão explicitamente assim, porque, em vez de conseguir os 30 dias, acabaria por conseguir uma certa "excomunhão" psicológica, social e relacional por parte da igreja... porque acabaria visto como um "pecadorzinho" que não poderia estar a frente nas obras da igreja!!! E, bem... ainda não era o que queria! Embora desejasse me afastar um pouco de toda aquela responsabilidade, prezava muito por tudo aquilo! Achava ser de fato, a "obra de Deus".

Bem, a resposta que tive? O pastor entendeu que eu estava querendo boicotar a igreja e influenciar os outros integrandes do ministério de louvor a parar também, deixando, assim a igreja desfalcada e sem "louvor"... (Detalhe, eu tinha mesmo uma reputação de formador de opnião lá dentro. Para as boas e para as ruins...). Argumentei um pouco mais que achava que eu não estava preparado e tal... Mas, nada feito! Disse que eu estava preparado, que era muito sábio, ungido e tal...

Se tive coragem de discordar? Não, não tive... E mais uma vez, posei de hipócrita!!!

Foram anos do meu cristianismo vividos dessa forma... Coisas desse tipo me fizeram duvidar! Como uma pessoa poderia chegar em mim e dizer que sentiu a unção de Deus e o Espírito Santo fluindo de mim enquanto tocava bateria no momento da adoração, quando, bem sabia eu que, minutos antes de ir ao culto, ainda no banho dava vazão às fantasias lascivas? Ou quando estava simplesmente me exibindo para uma irmãzinha "gata" sentada no banco logo a minha frente? Ou mostrando minha técnica com deboche para outro irmãozinho que também tocava bateria, mas, não tinha a mesma desenvoltura que eu? O que essa pessoa sentiu? Onde acaba a emocionalismo e começa o espiritual?

É claro, que todo sábado eu me arrependia de tudo que tinha sido e feito durante a semana e pedia perdão antes de ir para o ensaio do ministério de louvor... Afinal, devia estar consagrado!!! Vou fazer mais uma instigante confissão! Eu realmente achava que no último segundo poderia apagar os vestígios de uma semana (estranho, mas media minha vida espiritual por semanas. Semana em que fui santo. Semana em que não fui santo) espiritualmente podre para os radares de alguma "profeta" no meio da reunião de oração, que por ventura acusasse: "Temos um irmãozinho aqui que está em pecado e está atrapalhando o mover de Deus na hora do louvooooor!"... Bom, sinistro? É, eu sei que é...

O que quero dizer com tudo isso? Não estou me insentando. Sei que a maior parcela de toda essa minha máscara de "super-crente" é de minha inteira falta de caráter! Mas, eu fico refletindo... Até que ponto eu fui pressionado por esse sistema religioso em que estava inserido? A indumentária própria, os termos próprios, as conversas seletas, os chavões, o status, o convívio, os princípios, a subcultura, a alienação, a pressão, o ativismo... as cobranças... Eu sei que me conduziram por uma vida cheia de falsidades! De aparências! De máscaras!

Algo me preocupa! Quantos não passam ou não passaram por algo semelhante? Quantos não conseguem ou não conseguiram se libertar disso? E o pior... Será que eu consegui?

Thiago Mendanha, no blog Tomei a pílula vermelha.

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